A pesquisa do instituto Quaest junto a eleitores do estado de São Paulo dificilmente poderia ser melhor para o petista Fernando Haddad.
Em todos 4 cenários simulados para o primeiro turno, ele aparece na liderança, com folga, seis pontos à frente do segundo colocado, Marcio França, no cenário ampliado.
Com saída de Boulos da disputa, conforme anunciado pelo próprio hoje, os caminhos de uma possível vitória se abrem ainda mais para Haddad.
Agora Haddad precisa apenas resolver a questão com França, e a decisão de Boulos o ajuda. Como Boulos já definiu que será candidato a deputado federal, e que apoiará Haddad, a tendência natural é que os eleitores do líder dos sem-teto migrem para o petista, ampliando ainda mais a sua liderança do petista. França andou martelando na mídia que a decisão sobre o cabeça de chapa numa eventual aliança entre PT e SP para o governo de São Paulo deveria ser baseada em pesquisa eleitoral.
A pesquisa Quaest, portanto, mais a decisão de Boulos, empurra França para fora da disputa pelo Bandeirantes.
Foi uma pesquisa presencial, com 1.640 entrevistas, e que custou R$ 141.300,00.
Um outro ponto ajuda muito Haddad: a mesma pesquisa ponta a liderança de Lula entre eleitores paulistas. Segundo a Quaest, Lula tem 39% a 40% das intenções de voto em São Paulo, contra 25% a 26% para Bolsonaro, 8% para Sergio Moro e 5% para Ciro Gomes.
A polarização nacional entre Lula e Bolsonaro beneficia diretamente Haddad, ao passo que desmobiliza e enfraquece a campanha de Marcio França, principal concorrente de Haddad no campo de oposição a Doria e Bolsonaro. França não tem base nem na esquerda nem na direita, de maneira que o seu suposto “trunfo”, que seria o fato de poder, em tese, transitar melhor num universo dos “nem-nem”, acabou se tornando sua maior vulnerabilidade.
A única militância digital que França poderia mobilizar, para fazer frente, de um lado, à mobilização petista e, de outro, às redes bolsonaristas, seria aquela vinculada a candidatura de Ciro Gomes. Entretanto, Ciro tem apenas 5% dos votos estimulados em São Paulo, e a aliança cada vez mais provável entre uma aliança nacional entre PT e PSB, para apoiar Lula, afasta o PDT e a militância cirista de França. O próprio PDT sinalizou que pode lançar uma candidatura própria em São Paulo, para servir de palanque a Ciro no principal colégio eleitoral do país. Há rumores de que o candidato poderia ser Antonio Neto, presidente do PDT-SP. Mas até agora nada foi definido.
Os dados estratificados da pesquisa em São Paulo mostram ainda que Lula realizou uma notável proeza: consolidou-se como liderança em todas as faixas de renda e em todos os níveis de instrução.
Entre eleitores com ensino superior, que representam 28% dos entrevistados na pesquisa, o ex-presidente Lula pontua 31%, contra 26% de Bolsonaro, 9% de Moro e 8% de Ciro Gomes.
Já entre eleitores que tem até o ensino fundamental, representando 30% dos entrevistados pela Quaest, Lula tem 49% das intenções de voto, contra 20% de Bolsonaro, 8% de Moro, 5% de Dória e 4% de Ciro.
A debilidade da terceira via entre o eleitor menos instruído é o seu principal ponto-fraco.
Quando se olha para a segmentação por renda, a situação da terceira via é ainda mais problemática. Ciro Gomes, por exemplo, tem apenas 3% dos votos entre eleitores paulistas com renda média familiar abaixo de 2 salários.
Como São Paulo é um estado rico, este grupo representa 22% dos eleitores. Para efeito de comparação, em Minas Gerais, os eleitores com renda familiar abaixo de 2 salários representam 29% do eleitorado total.
A terceira via também não vai bem entre o eleitorado de classe média, tanto por apresentar baixa pontuação como por estar dividida. Entre eleitores paulistas com renda acima de 5 salários, que representam 34% dos entrevistados, Doria pontua apenas 3% e Ciro 5%. Moro é quem pontua melhor nesse segmenot, com 11%.
No cruzamento de dados entre o voto dado no segundo turno de 2018 e a opção de hoje, temos igualmente uma convergência enorme entre o voto em Haddad e a opção por Lula hoje, entre eleitores paulistas. Entre paulistas que votaram em Haddad no segundo turno de 2018, 77% agora opta por Lula, e apenas 7% por Ciro Gomes, sinalizando que o pedetista perdeu muitos votos na esquerda.
Já entre os paulsitas que votaram em Bolsonaro, no segundo turno de 2018, menos da metade (47%) disseram que votarão novamente no ex-capitão do exército, ao passo que 19% migraram para Lula, 12% para Moro e apenas 4% para Ciro Gomes.
Por fim, a Quaest fez uma pergunta sobre identificação partidária, que mostra a solidão do Partido dos Trabalhadores (PT) enquanto única agremiação política com penetração expressiva na sociedade: 18% dos entrevistados responderam que se identificam com o PT, ao passo que nenhum outro partido pontuou acima de 1%.
A mesma pesquisa apurou que 25% dos entrevistados tem rejeição PT. Aparentemente, esse é o percentual do “antipetismo” no estado de São Paulo, o que confirma o seu arrefecimento ao longo dos últimos anos.
Conclusão
Com 32 milhões de cidadãos aptos a votar, São Paulo é o maior colégio eleitoral do país, representando 22% do eleitorado brasileiro. Em segundo lugar, vem Minas Gerais, com menos da metade disso, ou 15,48 milhões de eleitores, 10% do total nacional.
Se Lula mantiver essa liderança no principal estado do país, a dinâmica de campanha pode contaminar os estados do Sul, que guardam enormes afinidades culturais e sociológicas com São Paulo, abrindo caminho para um desempenho muito vigoroso no primeiro turno.
A liderança de Haddad nas pesquisas para o Bandeirantes, por sua vez, produz um ciclo virtuoso para o campo progressista no estado de São Paulo, pois uma campanha forte de Haddad catalisa o voto no ex-presidente Lula, e vice versa.
Como as campanhas de Haddad, para o governo do estado, Boulos, para a Câmara de Deputados, e Lula, para a presidência, deverão seguir muito unidas, haverá uma dinâmica favorável para a mobilização nas ruas ao longo dos próximos meses, com realização de inúmeras reuniões, eventos, festas e conferências. Essa dinâmica tende a isolar ainda mais os candidatos da terceira via, em particular Ciro Gomes, cujos prognósticos de campanha em São Paulo não são muito promissores.
Havia uma expcectativa de que João Dória poderia crescer, mas até agora nada, possivelmente porque o governador perdeu os poucos eleitores que tinha no estado para Sergio Moro. A presença de Moro no pleito, ironicamente, ajuda o ex-presidente Lula, porque tira votos de Bolsonaro, bloqueia Ciro Gomes junto à classe média, além de ajudar o petista em sua luta para provar que a Lava Jato foi uma operação eminentemente política.
Ronei
21/03/2022 - 19h48
Se o Ministro da Infraestrutura se candidatar já está eleito.
Alexandre Neres
21/03/2022 - 19h30
Enquanto no campo da centro-direita o senador Alessandro Vieira saiu do Cidadania e foi para o PSDB, isto é, trocou 6 por meia dúzia e ficou dentro da mesma Federação, mas levou seu 0% de Moro para Doria, o segmento progressista vai dando mostras de que compreendeu o quão delicado é o cenário atual. Parece que só agora o senador sergipano se deu conta de que a profissão do quinta-coluna Roberto Freire é ser dono de partido político, o que ele já faz há mais de 30 anos.
Boulos abriu mão da candidatura em prol de Haddad, provavelmente encorpando a fila de deputados do PSOL, tornando-se um sério candidato a ministeriável do governo Lula e em 2024, quem sabe, com o apoio do PT, concorra à prefeitura paulistana para derrotar conservadores e falsos progressistas neoliberais.
Boulos mais uma vez demonstra seu tino político, evidenciando que conseguiu fazer a leitura correta do cenário no sentido de que teremos uma disputa renhida entre civilização e barbárie. Numa hora dessas, em momento divisor de águas, é preciso ter lado na vida.
Com o campo progressista caminhando unido em torno de Lula, faz-se mister que o PSB promova uma correção de rumos, haja vista a confusão que está aprontando tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, e que se arrume um jeito de trazer pra perto o PDT e Ciro Gomes, pois não é do interesse de ninguém que se mantenham isolados e alijados do jogo político.
Além disso, Lula sinalizou para liberais e conservadores que têm apreço pela democracia, pois sabe que não só para se eleger como para governar precisará de uma gama de apoios mais ampla, na medida em que o cenário atual é de terra arrasada, depois de um desgoverno eficaz cuja tarefa primordial foi destruir o que conseguimos conquistar aos poucos a duras penas nesse período da redemocratização.
Kleiton
21/03/2022 - 14h44
Haddad….kkkk