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Emprego: O que é bom a gente esconde

A mídia brasileira, definitivamente, não gosta de boas notícias. É a única explicação para sua recusa sistemática em dar qualquer destaque aos números de inflação e desemprego divulgados periodicamente pelo IBGE. O Globo prefere dar manchete de capa ao fato de um deputado estadual do PT ter feito uma reunião de campanha num posto de gasolina de um sujeito preso ontem pela Polícia Federal a dar uma notinha, na capa, sobre a queda do desemprego no país.

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A mídia brasileira, definitivamente, não gosta de boas notícias. É a única explicação para sua recusa sistemática em dar qualquer destaque aos números de inflação e desemprego divulgados periodicamente pelo IBGE. O Globo prefere dar manchete de capa ao fato de um deputado estadual do PT ter feito uma reunião de campanha num posto de gasolina de um sujeito preso ontem pela Polícia Federal a dar uma notinha, na capa, sobre a queda do desemprego no país.

A matéria do Globo se encontra escondida na parte inferior do caderno de economia, como que envergonhada. E ainda acompanhada com o tremendo equívoco que alguns analistas vem fazendo: o de que o mercado de trabalho vem perdendo fôlego. É o primeiro caso na história em que vemos o desemprego baixar e analistas dizem isso.

Não tem ocorrido às pessoas uma fórmula matemática básica. Se o desemprego chegou a 5,8% em outubro, conforme informou o IBGE, o Brasil está muito próximo do chamado “emprego pleno”, que fica ao redor de 4,5%, taxa já alcançada por algumas capitais, como Belo Horizonte e Porto Alegre. Atingido esse ponto, não há mais geração de saldo de emprego. A geração e o desaparecimento atingem um equilíbrio.

Se os analistas têm outros dados que mostram o desaquecimento do mercado de trabalho, então apontem algum dado concreto, o que não me parece fazer sentido é exibir a queda no desemprego, que consequentemente resulta em saldos menores, como prova deste arrefecimento. Para entender isso basta pensar que, se o desemprego chegar a 0%, o saldo necessariamente será 0 ou negativo no mês seguinte, pois como será possível gerar saldo se não há mais gente disponível para trabalhar? Por isso mesmo é uma relação matemática necessária que, caindo o desemprego a níveis muito baixos, os saldos serão cada vez menores.

Confira o quadro no IBGE, com o saldo nas diferentes regiões, e um histórico. Nenhum jornal se interessou, sabe-se lá porque, em divulgar o histórico dos últimos anos, apesar de ser a informação política mais importante do dia, cuja divulgação, neste momento de instabilidade econômica internacional, ajudaria muito ao Brasil a mostrar ao mundo que somos um porto seguro e sólido, e portanto, aptos a receber investimentos produtivos.

Nem tudo está perdido no Globo, porém. A repórter Flávia Oliveira é uma ilha de bom jornalismo num ambiente cada vez mais sufocado por tolos quase infantis preconceitos políticos. Ela se debruçou sobre os números do IBGE e descobriu que o desemprego entre os jovens brasileiros está caindo mais que os números gerais do IBGE, o que é obviamente uma notícia extraordinária, e que nega peremptoriamente a tese de “arrefecimento” do mercado de trabalho. Esse dado, além disso, explica porque os jovens brasileiros “não protestam” nas ruas contra o governo, como gostariam alguns líderes da oposição.

Confira abaixo o gráfico publicado na coluna da Flávia:

A Folha deu a notícia de maneira ainda mais discreta, sem nenhum gráfico e repetindo a ladainha de que “o mercado de trabalho perde força”. Aliás, a Folha vai mais longe e afirma que “o aumento do número de pessoas empregadas nas seis principais regiões metropolitanas perde fôlego mês a mês”. Claro, o desemprego está caindo em todas!

Enveredando pelo mesmo caminho, que lhe oferece um viés negativo para uma notícia tão poderosamente boa para a economia nacional, o Estadão publica chamadinha na capa:

Mas pelo menos tem chamada na capa! E uma página inteira no caderno de economia, com direito a gráficos. Pena que deram espaço para uma análise completamente leviana, onde um nostradamus tupiniquim fala que a tendência é o aumento gradual do desemprego. E também há uma certa superficialidade ao se analisar a queda do emprego na indústria, que não foi tão relevante assim, de 0,6%.  Precisamos ver exatamente que setores geraram e que setores demitiram. De qualquer forma, o alarmismo acaba de levar um golpe, com a divulgação, pela Fundação Getúlio Vargas, do Índice de Confiança na Indústria, que parou de cair; do Índice de Confiança do Consumidor, também pela FGV, que subiu; e uma pesquisa mostrando que quase 70% dos brasileiros pretendem gastar mais ou igual no Natal deste ano. Ainda em relação à indústria, sugiro ler a coluna do Celso Ming, que faz uma análise embasada em dados, mostrando que há, de fato, alguns números negativos para o setor; mas festejando a solidez do mercado de trabalho.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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