Um golpista não costuma anunciar que vai dar um golpe. Os golpes invariavelmente são perpetrados sob palavras bonitas como liberdade, democracia e justiça.
Sendo assim, podemos dizer com segurança que o que houve nos últimos dias no Brasil foi uma tentativa de golpe. Basta observar a sequência de acontecimentos:
- Próceres do bolsonarismo como os deputados federais Eduardo Bolsonaro e Bia Kicis incitam motim na PM baiana;
- Bolsonaro, acuado pelo centrão e pelo Senado, troca o ministro da Defesa e todo o comando das Forças Armadas, provocando uma crise militar;
- Aliados do governo tentam emplacar na Câmara Federal um projeto de lei que amplia os poderes do presidente (incluindo a pandemia na Lei de Mobilização Nacional, que trata de ocasiões de guerra), fazendo com que Bolsonaro passe a chefiar as polícias militares dos estados e possa até convocar civis.
A alteração da lei foi barrada no Congresso e não houve adesão ao motim na Bahia, e talvez só por isso não estamos todos sob intervenção do governo federal, que busca incansavelmente garantir que as pessoas possam sair das suas casas como se nada estivesse acontecendo, e assim morra ainda mais gente, porque pelo visto quase 4 mil por dia (oficiais) é ainda pouco para o genocida.
E qual a reação do presidente da Câmara dos Deputados à tentativa de golpe? Um cândido “a troca de ministros é normal, está dentro do critério de escolha do presidente”. Arthur Lira é o homem que tem o poder de aceitar um dos trocentos pedidos de impeachment que pairam sobre sua mesa, e até deu esperanças de que poderia fazê-lo ao ameaçar o governo com “remédios amargos” dia desses. Diante da ofensiva de Bolsonaro, parece ter recuado.
Mas o recuo é perigoso para o próprio Lira, porque a hecatombe tende a se aprofundar.
Miguel Nicolelis é um dos cientistas que continua alertando sobre o tamanho da tragédia que se avizinha. “Estamos a poucas semanas de um ponto de não retorno na crise do coronavírus no Brasil”, disse ele em sua coluna no El País. O ponto de não retorno a que ele se refere é o colapso funerário, que, caso instalado, “começaremos a ver corpos sendo abandonados pelas ruas, em espaços abertos. Teremos que usar o recurso terrível de usar valas comuns para enterrar centenas de pessoas simultaneamente, sem urnas funerárias, só em sacos plásticos, o que vai acelerar o processo de contaminação do solo, do lençol freático, dos alimentos, e com isso gerar uma série de outras epidemias bacterianas gravíssimas”.
Para quem acha que é exagero, o segundo maior cemitério de São Paulo já está suspendendo enterros por falta de vagas.
A marcha da morte de Bolsonaro não vai parar. Arthur Lira e Rodrigo Pacheco (presidente do Senado) são os atores que podem colocar um freio no morticínio, dando início a uma CPI e ao processo de impeachment.
Ou podem esperar os cadáveres nas ruas, as valas coletivas e as “epidemias bacterianas gravíssimas”. De um jeito ou de outro, os nomes de ambos não serão esquecidos.
Ronei
02/04/2021 - 07h19
Já há um cadáver sentado na cadeira de presidente da república.
dcruz
01/04/2021 - 20h44
Breier, chegamos a esse verdadeiro filme de terror graças a um só diretor ( a rima é involuntária) que todos conhecemos. Em nome do tal ir e vir, que ele chama de democracia, ele ameaça botar o exército na rua. Fala sempre em nome do povo que ele está matando. Tira partido de uma situação que ele mesmo criou, nem precisa entrar aqui no leite derramado “se no início da pandemia,etc…”. O que baixa um desânimo total é que parte do povo acredita, como se vê aqui em bom números de comentários. Providências que foram berradas tão alto que fizeram os ouvidos do genocida ficarem moucos de vez. Não só cientistas, mas por todos com um mínimo bom senso. Nunca poderia imaginar que a história que me contavam quando criança sobre cadáveres deixados na rua na gripe espanhola está prestes a se repetir.
Uganda
01/04/2021 - 19h19
Por curiosidade como se caracteriza uma “crise militar”…?
Quais são os aspectos que definem isso segundo a Globo…?
Willy
01/04/2021 - 19h13
Tentativa de golpe ? Kkkkkkk
O que seria dessa esquerda radical chique sem essas narrativas…? Viveriam de que além de torcida para o coronavirus ?
Paulo
01/04/2021 - 18h49
“Um golpista não costuma anunciar que vai dar um golpe. Os golpes invariavelmente são perpetrados sob palavras bonitas como liberdade, democracia e justiça”. Verdade, Pedro, e as revoluções também, eu complementaria, rsrs…Mas o texto é preocupante, realmente. Minha esperança é que os “lockdowns”, ainda que meia-bocas, surtam algum efeito em atrasar o colapso geral hospitalar/funerário, atraso esse que, somado à crescente vacinação, pode nos dar alguma chance…Mas será no fio da navalha…Rezemos (para os que têm fé) ou torçamos (para os que não a têm)!
Pedro Breier
01/04/2021 - 19h18
Pois é cara, o problema é que o efeito seria atrasar o colapso funerário mesmo, pq pra evitar talvez seja necessário um lockdown nacional rigoroso… ou seja, fé e torcida mesmo, complicado.
Willy
01/04/2021 - 19h21
Prezado, consegue fornecer a comprovação científica inconfutavel que o lockdown tenha efeito ? E que os eventuais benefícios não sejam superiores aos efeitos colaterais a curto e longo prazo ?
Valeriana
02/04/2021 - 09h40
PEgue uma cadeira e sente pois caho qua demorar viu…
Ronei
01/04/2021 - 18h20
Resumindo o conceito do nosso Toddinho Breier…usar a pandemia para fins políticos.
Kleiton
01/04/2021 - 18h18
Olha a torcida para o vírus aí gente… não fazem nem a mínima questão de disfarçar mais.