Em entrevista à Carta Capital, a pré-candidata do PDT à prefeitura do Rio de Janeiro, Martha Rocha, falou sobre desafios estaduais e municipais que o Rio de Janeiro e a capital devem resolver em uma próxima gestão.
Entre os tópicos abordados, estiveram o processo de impeachment de Wilson Witzel, a desistência de Marcelo Freixo, as eleições de 2020 e 2022, o combate às milícias no Rio de Janeiro e as formas de fazer oposição ao bolsonarismo.
CartaCapital: O impeachment de Wilson Witzel será uma vitória?
Martha Rocha: Não se pode falar exatamente em vitória num processo de impeachment, pois é um sinal de que as coisas estão muito graves. Não fiz campanha para Witzel, mas torcia para o governo dar certo, sobretudo pela situação de fragilidade fiscal. Não havia uma aposta no “quanto pior, melhor”. A Assembleia cumpre sua missão constitucional, então tenho convicção de que o requerimento do impeachment é legítimo, por mais que a defesa busque postergá-lo ou impedi-lo.
CC: A Assembleia tem sido palco de escândalos recentes, como o da “rachadinha” de Flávio Bolsonaro. O impeachment pode soar como uma espécie de redenção?
MR: Temos de lamentar esses episódios anteriores, mas ali também existe gente séria. Não vejo como redenção, pois ninguém quer melhorar sua imagem institucional a partir do impeachment. Nenhum ministro do STJ autorizaria uma busca e apreensão na casa do governador se não houvesse elementos suficientes para dar continuidade à investigação. A Assembleia faz isso porque é seu dever e não houve só um pedido de impeachment, mas vários.
CC: A falta de articulação com os deputados foi o maior erro do governador, eleito como símbolo da “nova política”?
MR: É preciso cuidado ao falar de falta de articulação. Não sou da base e não quero que o governador faça nenhum favor para mim, mas é inadmissível que se permita que um secretário prepare dossiês contra deputados, como dizem as acusações contra o ex-secretário Lucas Tristão. Não é apenas falta de articulação, mas falta de respeito. Quando falamos em falta de articulação, parece que Witzel não teve jogo de cintura para atender os deputados, mas não foi só isso.
CC: Como ex-chefe da Polícia Civil, como a prefeitura pode atuar para frear as milícias, que com o caso Queiroz parecem tão ligadas ao poder?
MR: Falta à prefeitura um gabinete de gestão integrada. Não digo que o prefeito tem de virar xerife, mas não é possível que a milícia construa prédios ilegais e ninguém veja. Hoje nós temos uma milícia empreendedora, com transporte de vans, gás, agiotagem, “segurança”, imóveis etc. Se você tem um gabinete de gestão integrada com todos os entes, polícias, MP, tribunais, órgãos de fiscalização, o problema vai chegar e as autoridades vão se organizar para resolvê-lo com celeridade ainda nas instâncias municipais.
CC: Como enxerga a desistência do Marcelo Freixo à prefeitura por não ter conseguido formar uma frente ampla?
MR: Tenho profundo respeito pelo Freixo, claramente um dos parlamentares que se destacam no Brasil, mas para construir uma frente é preciso que ela não seja de mão única. Não só um convite para participar, mas que as partes estejam juntas desde o começo. Internamente, a sua pré-candidatura não foi unanimidade no partido, o que mostra que não foi possível estabelecer um acordo nem dentro nem fora. Ele pode apresentar esse argumento para a desistência, mas a culpa não é dos outros, nem da esquerda. Também é papel dele se perguntar o que lhe faltou para essa aliança acontecer.
CC: A organização de frentes amplas pode ser solução para enfrentar o autoritarismo no Brasil?
MR: Nacionalmente, o PDT tem construído uma frente progressista que primeiro acredita e não abre mão da democracia, e depois que entende a desigualdade como grande problema. Ninguém tem ódio de empresários, desde que o lucro seja fruto do trabalho e sejamos capazes de entender que o Estado tem obrigações e deve atuar para gerar o bem-estar social. Existe essa composição e espero que nas eleições municipais não tenhamos uma guerra de narrativas.
CC: Ciro Gomes teve uma atuação importante para lançar uma candidatura própria à prefeitura no Rio, de olho em 2022?
MR: Há um nexo causal entre 2020 e 2022, claro, mas havia uma decisão da executiva nacional tomada em 2019 de que o partido lançaria candidaturas próprias nas capitais. As legendas existem para isso mesmo: há a vitória política e a eleitoral, e nem sempre conseguimos conjugar, mas é o papel nosso tentar.
CC: Como derrotar Marcelo Crivella e Eduardo Paes? Existe uma movimentação da oposição para evitar Crivella a todo custo num segundo turno?
MR: Não penso no segundo turno neste momento, nem em construir uma personagem, mas em estudar o Rio de Janeiro e buscar os principais problemas da cidade. O que vou apresentar é uma candidatura de alguém que tem experiência no Executivo e no Legislativo, tendo a convicção de que qualquer que seja o prefeito terá muitos problemas, pois a situação do Rio é muito difícil.
CC: O que deve ser prioridade na cidade?
MR: Não sabemos como será a cidade pós-pandemia, então a saúde será muito importante e tem de passar por toda política pública. Ela vinha mal e desde então reduzimos nossa capacidade de atenção primária, acabamos com equipes de saúde da família etc. Tenho convicção do problema econômico que se seguirá à pandemia e atingirá tanto a rede de ensino quanto a saúde. Cabe a nós nos preparamos, principalmente nessas áreas.
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