Vamos fazer uma breve recapitulação histórica para compreender melhor a escancarada guerra entre facções da Polícia Federal que explodiu nos últimos dias.
Nos tempos de Fernando Henrique Cardoso tínhamos uma PF que trabalhava em um ritmo vagaroso, quase parando, como se dançasse um bolero com o então PGR, Geraldo Brindeiro, mais conhecido pela nada honrosa alcunha de Engavetador Geral da República.
Nos governos Lula e Dilma o número de operações da PF deu um salto espetacular. Sinal de que a instituição estava agindo de modo mais republicano? Talvez sim, mas não por muito tempo.
Lá por 2014, o surgimento de um certo juiz paranaense no cenário político nacional, alçado a herói por conta da operação Lava Jato, revelou uma face da PF diametralmente oposta a dos tempos de FHC: profundamente ativa e antigoverno. De repente ações da Polícia Federal viraram o assunto central em todos os noticiários, de uma forma estranhamente conveniente aos interesses da direita brasileira – que, naquele tempo, era um bloco unitário graças à cola do antipetismo.
A atuação do governo Dilma para conter o avanço do golpismo judicial – levado a cabo graças à ação da polícia subordinada ao próprio poder executivo! – transitou entre a nulidade e o risível. O “republicanismo” petista permitiu que a PF usasse de suas prerrogativas legais para engrossar o caldo político, ou melhor, ser a base desse caldo que resultou em um jantar indigesto, o golpe de 2016, e uma sobremesa apodrecida, envenenada, mortal: a eleição de Jair Bolsonaro.
Sergio Moro, aquele reles juiz paranaense, virou ministro da Justiça de Bolsonaro. Este, que não zela por republicanismo algum – ao contrário, não esconde seus pendores autoritários –, chamou Moro para uma encarniçada disputa pela indicação de postos de comando da PF. Recentemente, o ex-juiz rompeu com o presidente após um sórdido engalfinhamento público com ares de novela mexicana. Desde então a direita está oficialmente rachada em dois blocos, o bolsonarismo e o morismo.
A guerra de operações da PF é um evidente reflexo da guerra entre Moro e Bolsonaro. Terça (26) foi fustigado o governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel, um nome de peso alinhado ao morismo e também um figadal inimigo de Bolsonaro. Ontem (27) as operações miraram figuras importantes do bolsonarismo como Luciano Hang (o famigerado Véio da Havan), Roberto Jefferson, Allan Santos e Sara Winter.
Roberto Jefferson comparou a operação de ontem da PF com o “Tribunal do Reich” instituído por Hitler. Sara Winter postou um vídeo onde diz que “queria trocar soco com esse filha da puta desse arrombado”, referindo-se a Alexandre de Moraes, que expediu a ordem de busca e apreensão, bem como fez graves ameaças ao ministro do STF, dizendo coisas como “a gente vai descobrir os lugares que você frequenta”. Allan Santos, em uma live que contou com a participação de Olavo de Carvalho e Eduardo Bolsonaro, chamou Alexandre de Moraes de moleque, criminoso e vagabundo.
Bolsonaro, que parabenizou a ação da PF contra Witzel, não gostou tanto assim da que atingiu seus aliados. Hoje, (28), no cercadinho onde vomita seus absurdos diários sobre o rebanho, ele gritou, apoplético, um “acabou, porra!”, querendo dizer que decisões como a de Alexandre de Moraes não serão mais toleradas. O presidente ainda compartilhou em seu twitter uma live com o ultrarreacionário jurista Ives Gandra em que se discute a aplicação do art. 142 da Constituição, que fala em ação das Forças Armadas. Uma ameaça ainda mais explícita de autogolpe do que as “consequências imprevisíveis” rosnadas pelo general Heleno.
Enquanto isso, Olavo de Carvalho, o guru ideológico dessa turma, vocifera, no Facebook, diretamente da Virgínia/EUA, contra a iminente “narco-revolução comunista” .
Este é o momento de mais alta temperatura política desde que Bolsonaro chegou ao poder. O risco de uma investida autoritária é palpável. Sendo assim, qualquer um que deseje e lute pela queda de Bolsonaro é aliado de primeira hora. Derrubar o protótipo de ditador é a tarefa número um, dois e três.
Ainda assim, não deixa de ser interessante (logo à frente será essencial) analisarmos a cadeia de acontecimentos que nos trouxe até aqui.
A lei do karma, conceito presente em muitas filosofias e religiões, especialmente do Oriente, é simplesmente a lei de causa e efeito: toda ação tem uma consequência. Faz todo o sentido que a politização da PF e a atuação da Justiça no sentido de derrubar um governo eleito tenham descambado em uma disputa sangrenta dentro da Polícia Federal e na ascensão de um grupo político violento e reacionário ao poder. Ação e consequência.
A luta está aberta, o jogo é bruto. Em meio ao caos, contudo, às vezes surge um bom meme para aliviar a tensão, um meme engraçado que, ainda por cima, explica uma certa realidade política com invejável precisão:
Sandro
29/05/2020 - 13h35
Só vou dizer uma coisa FORA BOZO antes que acabe com o país
kauan
29/05/2020 - 09h55
O silencio da grande imprensa apòs uma barbarie dessa contra a liberdade de expressao è claro sinal de como o sistema funciona.
Paulo
29/05/2020 - 11h52
Precisa assistir mais ao “Morning Show”, da Jovem Pan!
Hilux12
29/05/2020 - 09h53
Uma operaçào segreda comandada por 2 Ministros de uma Corte Suprema Costituciona contra la liberdade de expressao, sem autos processuaas, sema fatos, sem acusaçoes, sem possibilidade de defesa, contra crimes indefinidos, eccetera… nunca se viu na historia (talvèz em algumas ditaduras africanas ou califados islamicos aconteçam essas coisa).
O STF faz o que…? Se declara parte ofendida, depois investiga, faz o processo, julga…sò falta entrar com recursos contr si mesmos.
Mesmo assim essa coisa ridicula de quarto mundo nasceu morta e nao vai dar em nada, è sò uma forma de intimidaçào que terà o efeito contrario, aumentar as criticas contra a Corte.
A operaço contra desvios de verbas publicas na saude nesse momento tem que ser louvada mesmos, è uma operaçào normal dentro dos parametros da lei e conduzida pela PF.
Uma nao tem nada a ver com a outra.
Os integrantes do STF resolveram nos ultimos anos se meter a atorzinhos de novelas vaidosos, de procurar microfones e cameras, de fazer comentrios politicos, de einterferiri nos outros poderes, eccetera…agora aguenem as criticas ou voltem a trabalhar no anonimado do qual nunca deveriam ter saido.
As nomeaçoes politicas dos ministros do STF sao um cancer da democracia, passou da hora de mudar a forma das nomeaçoes.
Monza 87
29/05/2020 - 13h15
Precisa aceitar a democracia.
Hilux12
29/05/2020 - 18h24
Isso è democracia ?
Rodenbush
29/05/2020 - 18h30
Voce nunca viveu em um Democracia de verdade, nao pode saber o que è.
Alexandre Neres
29/05/2020 - 00h25
Perfeito, Pedro! Seu texto tá irretocável.
Pedro Breier
29/05/2020 - 12h09
Valeu Alexandre!
Jorge Juca
28/05/2020 - 20h57
O Brasil é um país com corrupção sistêmica, o que significa que a corrupção é espalhada pelos 3 níveis da federação, pelos 3 poderes, e atinge a significativa maioria dos funcionários públicos brasileiros. Agora, vamos entender o que faz com que um país alcance a situação de corrupção sistêmica: isso ocorre quando a estrutura de controle de um país é tomada também pela corrupção. Para simplificar: a culpa da corrupção sistêmica no Brasil é do Ministério Público, federal ou estadual, da Polícia Federal, das demais polícias, do Judiciário criminal, e dos tribunais de contas, que em conjunto formam o sistema de controle do Brasil que é, lamentavelmente, completamente tomado por corrupção. Ora, se o sistema de controle é corrupto, é óbvio que ele não funciona e o sistema inteiro fica tomado pela corrupção. Antes que a Polícia Federal queira resolver o problema da corrupção no país, precisa voltar os olhos para si mesma. Já andaram “pegando” vários políticos, mas ainda não vimos uma notícia de delegado da polícia federal investigado por corrupção. Assim não vai se resolver nada, a PF só vai servir para politicagem. A limpeza, que necessariamente demoraria muitas gerações, teria que começar pelo próprio sistema de controle. Que no Brasil é incapaz de controlar a si mesmo.
Paulo
29/05/2020 - 08h17
Posso falar pela União. Há pouquíssima corrupção, da parte dos funcionários públicos de carreira, em qualquer dos Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário). E quando há, é café pequeno. A corrupção sistêmica parte do aparato político, com os milhares de cargos de confiança distribuídos entre apaniguados de S. Exas., o que, nos Governos do PT, propiciou o desvio ou malversação de centenas de bilhões de reais, como apanágio da manutenção do “projeto criminoso de poder”. Estamos reféns da classe política, como disse um jornalista, outro dia. Perceba: a maioria dos parlamentares (e, aí sim, em todos os níveis, municipal, estadual e federal) se lança candidato já com a intenção de desviar recursos públicos, tanto para proveito próprio, diretamente, como para proveito indireto, ou seja, para carrear recursos que permitam sucessivas reeleições, dando, assim, continuidade à vida de bandidos que são – e da mais elevada periculosidade, pois matam no atacado.
Batista
29/05/2020 - 14h51
Só se for pela ‘União da Ilha’, rebaixada para o grupo de acesso, pois aí carnavalescamente analisando-se, justifica-se esse teu desarrazoado acolchoado de clichês, baseados em desejos e desinformação e não nos fatos.
Paulo
29/05/2020 - 17h52
Que fatos? Aposto que não conhece o serviço público federal e não é servidor! Clichês são os seus, fruto da desinformação da grande imprensa e de parvoíces jogadas para a platéia (como você) por calhordas como Porco Guedes…
Jorge Juca
30/05/2020 - 14h47
Todo mundo que conhece o serviço público brasileiro por dentro sabe da realidade, corrupção generalizada em todas as repartições públicas do país e a grande maioria dos funcionários públicos brasileiros corruptos. Quanta grana é eu realmente não tenho como saber mas a sensação que eu tenho é que muitos ganham regularmente todo mês mais do que o salário em propinas. Tem repartições sem nenhum honesto, tem repartições com um ou dois no máximo, sofrem todo tipo de assédio moral e são alvo de humilhações diariamente, além de serem excluídos da possibilidade de progredir na carreira, pois só os corruptos sobem na hierarquia da administração pública brasileira, até porque a ascensão se dá pela competência na corrupção e não pela competência no trabalho. Essa é a realidade fática da situação da administração pública, não é questão de opinião, todo mundo que conhece o serviço público por dentro sabe dessa verdade. A primeira etapa para mudar isso é alterar a forma de progredir na carreira, atualmente isso se dá por indicação pessoal de indivíduos para cargos hierarquicamente superiores, obviamente que como os corruptos controlam o poder eles só indicam outros corruptos para cargos com poder, impedindo qualquer possibilidade de chegar alguém que tenha a intenção de controlar a bandidagem. A progressão na carreira tem que ser feita por meios objetivos e meritocráticos, seja por concurso público para o cargo, ou mesmo por concurso interno nos casos que precisem de experiência, eleição nos casos de cargos políticos ou mesmo por progressão normal na carreira pelo tempo, qualquer coisa até sorteio é melhor do que o sistema atual, em que a lotação dos cargos é feita por dedaço de políticos no caso do executivo e legislativo e por dedaço de juízes no judiciário. Resultado, sobem na carreira os mais puxa-saco, os mais falsos, os mais intrigueiros, enfim, os mais corruptos. Os honestos têm que ter alguma chance de progredir na carreira para começar a reprimir os corruptos, é a única forma de começar a diminuir o grau de corrupção no Brasil.
Paulo
01/06/2020 - 18h54
Concordamos em alguns pontos Jorge Luca! A partir da CF de 1988, acabaram os “trens da alegria”, de triste memória, e a meritocracia se impôs (na União, porque nos Estados e Municípios não é bem assim, pelo que ouço dizer e pelo que vivi, num passado remoto). O que impede os servidores de carreira de expungir inteiramente a corrupção são os políticos. E vai piorar se passarem a Reforma Administrativa – da qual, não por caso, o Botofago é um dos maiores defensores…
Paulo
28/05/2020 - 20h23
A coisa está ficando perigosa, realmente. Concordo plenamente, tem que tirar o Capetão agora. Quanto mais permitirmos que ele continue a tumultuar as instituições e a vida política nacional, mais fácil ficará criar o clima para uma interpretação tosca do artigo 142 da CF:
“Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”
Só um tributarista sem formação jurídica adequada, especialmente no campo constitucional, como IGSM, poderia “adevogar” (assim mesmo, pois ele se nomina adevogado) a tese de que as FFAA poderiam ser convocadas a agir contra um dos Poderes, no caso, o Judiciário, a mando de outro, no caso, o Executivo, que, por essa obra e arte criativa desses “juristas”, seria consagrado então o garante supremo da Constituição.
Seria até risível, numa primeira análise. Mas, considerando, por outro lado, a tosquice desses generais de pijama no Governo, restá-nos esperar que as novas gerações das FFAA tenham tido uma formação jurídica mais sólida do que o Gal Heleno, por exemplo, e, sobretudo, que tenham mais juízo, pra não lançar o país numa aventura que nunca saberemos como nem quando poderá terminar…Seria um retrocesso sem precedentes…
Henry P.
29/05/2020 - 09h54
Ninguem vai tirar ninguem de lugar nenhum, 2022 tà a’ e voce poderà votar no Ciro Gomes.
Paulo
29/05/2020 - 11h53
Dificilmente votaria nele. Mas confesso que gostaria de vê-lo numa disputa contra Moro, no 2º turno – não que vá votar no Moro, também…
Henry P.
29/05/2020 - 18h27
“çei…”
Andressa
29/05/2020 - 13h17
Presidente ruim se tira no voto. Em 2022 escolhe outro, não esse zé ruela inútil.
Henry P.
29/05/2020 - 18h26
Isso aì