No acumulado de 12 meses, todavia, não houve mudança significativa: o déficit em transações correntes nos 12 meses encerrados em março ficou em quase US$ 50 bilhões (ou 2,8% do PIB), contra US$ 53,2 bilhões nos 12 meses até fevereiro último (2,96% do PIB).
No conta de serviços de março, um dos pontos que mais contribuiu para o resultado positivo (positivo apenas na acepção contábil, pois neste caso não é uma coisa boa em nenhum sentido real) da balança de pagamentos foi a redução de 70% das despesas líquidas de viagem, em função da pandemia, que fez brasileiros cancelarem viagens ao exterior.
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Estatísticas do setor externo
1. Balanço de pagamentos
Em março de 2020, as transações correntes apresentaram superávit de US$868 milhões, ante déficit de US$2,7 bilhões, no mesmo mês de 2019. Esse foi o primeiro superávit desde junho de 2017 (US$431 milhões). Na comparação com março de 2019, a mudança no sinal das transações correntes decorreu, principalmente, do recuo do déficit na renda primária, US$2,7 bilhões. Também houve incremento de US$360 milhões no superávit da balança comercial de bens e redução no déficit na conta de serviços, US$569 milhões. O
déficit em transações correntes do primeiro trimestre de 2020 somou US$15,2 bilhões, ligeiramente acima dos US$15,0 bilhões ocorridos em período correspondente, de 2019.
O déficit em transações correntes nos doze meses encerrados em março de 2020 somou US$49,7 bilhões (2,80% do PIB), ante US$53,2 bilhões (2,96% do PIB), em fevereiro de 2020.
As exportações de bens totalizaram US$19,3 bilhões em março, aumento de 10,6% em relação ao mês correspondente de 2019. Na mesma base de comparação, as importações de bens aumentaram 10,9%, para US$15,1 bilhões. As importações líquidas de bens no âmbito do Repetro foram estimadas em US$274 milhões em março de 2020, não tendo havido operações similares em março de 2019. Na comparação entre os primeiros trimestres de 2020 e 2019, as exportações reduziram 3,0% para US$49,7 bilhões, enquanto as importações aumentaram 5,4%, totalizando US$46,0 bilhões. No primeiro trimestre de 2020, as importações líquidas no Repetro foram estimadas em US$2,4 bilhões, ante US$797 milhões estimadas para o período equivalente de 2019. O superávit comercial de bens do primeiro trimestre de 2020 atingiu US$3,6 bilhões, redução de 51,9% comparativamente aos US$7,6 bilhões observados no primeiro trimestre de 2019.
O déficit na conta de serviços atingiu US$1,8 bilhão no mês, 24,2% inferior ao resultado de março de 2019, US$2,3 bilhões. A maior contribuição para esse recuo veio da redução de 70,2% nas despesas líquidas de viagens, que totalizaram US$227 milhões em março de 2020 (US$760 milhões em março de 2019). Os impactos da pandemia de Covid-19 e das medidas para a sua contenção reduziram o fluxo de viajantes, contribuindo para o recuo interanual de 32,1% e de 53,9%, nas receitas e despesas de viagens, na ordem. A elevação nas receitas líquidas de outros serviços de negócios, de US$491 milhões para US$725 milhões, também auxiliou a redução do déficit em serviços. Em sentido oposto, destacou-se o incremento nas despesas líquidas de aluguel de equipamentos, de US$1,1 bilhão para US$1,3 bilhão.
Em março de 2020, o déficit em renda primária recuou 61,9% na comparação com março de 2019, atingindo US$1,6 bilhão. Os gastos líquidos com juros somaram US$837 milhões no mês, queda de 37,3% na comparação interanual, com retração tanto das despesas quanto das receitas. As despesas líquidas de lucros e dividendos foram estimadas em US$809 milhões, redução de 72,9% ante os US$3,0 bilhões observados em março de 2019, explicando a maior parte da redução do déficit em renda primária. Na mesma base de comparação, as receitas totais de lucros (remetidas e reinvestidas) passaram de US$1,5 bilhão para US$257 milhões, e as despesas totais de lucros (remetidas e reinvestidas) decresceram de US$4,5 bilhões para US$1,1 bilhão.
Os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) somaram US$7,6 bilhões no mês, ante US$4,8 bilhões em março de 2019. O fluxo foi composto por ingressos líquidos de US$2,3 bilhões em participação no capital e de US$5,3 bilhões em operações intercompanhia, nos quais destacam-se os ingressos líquidos de US$4,0 bilhões em investimento reverso (filial no exterior e matriz no Brasil). Nos doze meses encerrados em março de 2020, o IDP totalizou US$79,5 bilhões, correspondendo a 4,49% do PIB, em comparação a US$76,7 bilhões (4,27% do PIB) no mês anterior.
Em março de 2020, os fluxos líquidos de investimentos diretos no exterior (IDE) apresentaram regressos líquidos ao país (desinvestimentos) de US$5,4 bilhões, ante aplicações líquidas de US$1,7 bilhão no exterior, no mês equivalente de 2019.
No mês, a saída líquida de investimento em portfólio no mercado doméstico somou US$22,2 bilhões, recorde da série, com saídas líquidas de US$14,6 bilhões em títulos de dívida e de US$7,6 bilhões em ações e fundos de investimento. No primeiro trimestre de 2020 houve saídas líquidas de US$24,1 bilhões em instrumentos de portfólio negociados no mercado doméstico, comparativamente a ingressos líquidos de US$10,5 bilhões observados em período similar do ano anterior. Nos doze meses encerrados em março de 2020, a saída líquida de investimento em portfólio no mercado doméstico somou US$42,2 bilhões.
2. Reservas internacionais
O estoque de reservas internacionais atingiu US$343,2 bilhões em março de 2020. O decréscimo de US$19,3 bilhões, relativamente à posição de fevereiro, decorreu principalmente da liquidação de US$22,5 bilhões em intervenções no mercado de câmbio, compostas por US$10,7 bilhões em vendas à vista, US$7,7 bilhões de concessões líquidas em linhas com recompra, e US$4,2 bilhões em concessões líquidas nas operações compromissadas em moeda estrangeira. A variação por preço e a receita de juros contribuíram, na ordem, para elevar o estoque de reservas em US$2,7 bilhões e em US$568 milhões.
3. Posição de Investimento Internacional (PII)
A PII apresenta, a cada data-base, os estoques de ativos e passivos financeiros entre residentes e não residentes no país. A diferença entre esses estoques é denominada PII líquida, com valores negativos expressando o maior volume de investimentos de não residentes realizados no país, quando comparados aos efetuados no exterior por residentes.
A PII líquida devedora de março de 2020 foi estimada em US$348,4 bilhões (19,7% do PIB). Comparativamente à estimativa para fevereiro de 2020, US$567,8 bilhões (31,6% do PIB), a posição tornou-se menos devedora em US$219,4 bilhões, concentrados na redução do estoque de passivos. Apesar das saídas líquidas de investidores não residentes em instrumentos de portfólio negociados no país, o recuo das posições de passivos na comparação entre março e fevereiro decorreu, em maioria, de variações por preço e paridade. A depreciação da moeda doméstica reduziu o estoque de passivos externos denominados em moeda nacional, tais como IDP – Participação no capital e títulos e ações negociados no mercado interno, com efeito total estimado em US$104 bilhões. A variação de preço para passivos em ações, empresas de IDP, e títulos soberanos no mercado internacional, foi estimada em US$106 bilhões.
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