O bombardeio israelense ao Al-Ahli, um hospital da Cidade de Gaza, colocou ainda mais pressão sobre as unidades de saúde restantes no território palestino ocupado, onde a entrega de ajuda e a movimentação de trabalhadores humanitários são altamente restringidas pelas autoridades israelenses.
Na segunda-feira, o representante da Organização Mundial da Saúde (OMS), Rik Peeperkorn, contou à ONU News sobre as condições desesperadoras que viu em Al-Ahli antes do ataque e a severa restrição de movimento que está impedindo milhares de pessoas de serem evacuadas para tratamento médico fora de Gaza.
“Estive em Gaza há algumas semanas e saí no início de março, pouco antes do bloqueio de ajuda começar e os ataques recomeçarem.
Quando estive lá, durante o cessar-fogo, estávamos organizando vacinações contra a poliomielite e evacuações médicas (medevacs), e estocamos remédios e suprimentos médicos essenciais. Essa também foi a única vez em que houve estoques adequados de alimentos em Gaza.
Havia quase um raio de esperança em meio a toda a miséria. Lugares onde eu já havia estado, como Rafah, no sul, ou Jabalia, no norte, eram terrenos baldios completamente devastados, mas as pessoas, incluindo nossa própria equipe, estavam voltando para suas casas, tentando consertar as casas destruídas ou construindo acampamentos improvisados. Vimos as atividades comerciais sendo retomadas e uma variedade de opções de comida.
Mas então, é claro, com o bloqueio, comida, água e medicamentos essenciais começaram a escassear muito rapidamente. Embora tenhamos nos abastecido durante o cessar-fogo, agora estamos com estoques críticos e é difícil manter os hospitais, mesmo parcialmente abertos.
Ficamos completamente sem leite terapêutico, antibióticos para tratar infecções graves, analgésicos para traumas, insulina, peças de reposição para ambulâncias, tanques de oxigênio etc.
Evacuação médica de pacientes de Gaza | Arquivo
Alguns dias antes do ataque a Al Ahli, um especialista médico nos disse que o hospital já estava lotado porque é um dos principais hospitais do norte para pacientes de trauma [aqueles que sofreram ferimentos graves e fatais] e que eles foram forçados a realizar cirurgias em condições estéreis questionáveis.
Faltavam-lhes aventais, campos cirúrgicos ou luvas suficientes. Tinham até que usar as mesmas luvas de uma operação para a outra. Devido à falta de equipamentos, as cirurgias podiam levar horas, aumentando o risco de incapacidade permanente ou amputações.
Os funcionários nos pediram os suprimentos que temos em nossos dois armazéns no sul de Gaza, mas não nos deixaram.
Este bloqueio humanitário precisa ser levantado, e precisamos voltar a um acordo que nos permita ter corredores humanitários em toda a Faixa de Gaza, sem que tenhamos a entrada negada ou atrasada. Mesmo em tempos de guerra, suprimentos humanitários devem ser permitidos e os trabalhadores humanitários devem poder realizar seu trabalho.
Hoje conversei com os líderes da minha equipe em Gaza, que estiveram no hospital Al-Shifa. Al-Shifa, agora o principal centro cirúrgico e de trauma do norte, está completamente sobrecarregado e sem apoio suficiente. Estamos analisando a possibilidade de levar alguns pacientes de Al-Shifa para o sul, mas tudo é complexo.
Pouquíssimos pacientes conseguiram deixar Gaza para receber os cuidados urgentes de que tanto necessitam. Estimamos que até 12.000 pacientes precisem de evacuação médica, mas, desde o bloqueio, só conseguimos evacuar 121 pessoas, incluindo 73 crianças.
“Pedimos a retomada imediata da evacuação médica por todas as rotas possíveis. Isso deve acontecer agora.”
Publicado originalmente pela Notícias da ONU em 14/04/2025
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