O presidente da China, Xi Jinping, propôs nesta sexta-feira, 11, um aprofundamento das relações com a União Europeia (UE) como forma de enfrentar as recentes tensões comerciais com os Estados Unidos.
A declaração foi feita durante reunião com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, em Pequim, conforme noticiado pela agência estatal chinesa Xinhua e divulgado pelo jornal O Globo.
Em sua primeira manifestação pública desde a intensificação da disputa tarifária com Washington, Xi Jinping defendeu a cooperação entre China e UE na proteção da globalização econômica.
“China e a UE devem assumir suas responsabilidades internacionais, proteger juntas a globalização econômica (…) e resistir juntas a qualquer assédio unilateral”, afirmou o presidente chinês.
O apelo ocorre no mesmo dia em que o governo chinês anunciou a elevação de tarifas sobre produtos norte-americanos, podendo chegar a 125%. A medida é uma resposta direta às recentes ações do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem ampliado as barreiras comerciais contra a China. As tarifas impostas por Washington já alcançam 145%.
Xi Jinping criticou a escalada tarifária entre as duas potências e reafirmou a posição do governo chinês contrária a políticas de confronto. “Não há vencedores em uma guerra tarifária, e confrontar o mundo só levará ao autoisolamento”, declarou.
Durante o encontro, Pedro Sánchez adotou discurso voltado à mediação e destacou a importância do diálogo entre os dois países. “Guerras comerciais não são boas, ninguém ganha, e tenho certeza de que o que o mundo precisa é que tanto a China quanto os Estados Unidos conversem”, disse o primeiro-ministro espanhol.
Sánchez afirmou que as tensões entre Estados Unidos e China não devem interferir nas relações bilaterais entre China e Espanha, nem entre China e União Europeia. “Tanto a Espanha como a Europa têm um importante déficit comercial com a China em que devemos trabalhar para sanar”, declarou. “Não devemos permitir que as tensões comerciais interfiram no potencial crescimento de nossa relação, entre China e Espanha e entre China e a UE.”
Atualmente, a Espanha importa da China cerca de € 45 bilhões em produtos, enquanto exporta para o mercado chinês aproximadamente € 7,4 bilhões. Os números, apresentados por Sánchez, ilustram o desequilíbrio comercial entre os dois países.
O encontro em Pequim ocorreu em meio a um cenário de crescente instabilidade econômica global, com a guerra comercial entre Estados Unidos e China provocando impactos em mercados internacionais e cadeias produtivas. Desde o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA, em janeiro de 2025, as medidas comerciais contra a China foram intensificadas, levando a sucessivas respostas por parte de Pequim.
A decisão chinesa de elevar tarifas ocorre após semanas de aumento nas restrições tarifárias por parte de Washington, que justifica as ações como forma de proteger a indústria nacional e conter supostas práticas desleais de comércio por parte da China. Em resposta, Pequim tem buscado fortalecer laços comerciais com países da Ásia, América Latina e Europa.
A proposta de Xi Jinping de intensificar a cooperação com a União Europeia foi acompanhada por um apelo à solidariedade internacional frente ao que classificou como práticas unilaterais. Segundo o presidente chinês, a preservação da globalização e do multilateralismo requer ação conjunta das principais economias mundiais.
A reunião também serviu para reforçar a disposição da China em manter uma postura aberta ao comércio internacional, apesar do agravamento das disputas com os Estados Unidos. Xi Jinping reafirmou que seu governo não pretende adotar medidas de isolamento e continuará promovendo relações com parceiros econômicos estratégicos.
Pedro Sánchez, por sua vez, destacou que a cooperação econômica entre China e Espanha deve ser aprofundada por meio de mecanismos que reduzam o desequilíbrio comercial e ampliem as oportunidades de investimento e exportação para empresas espanholas. Ele enfatizou que a posição da Espanha e da União Europeia é de buscar soluções diplomáticas para as disputas comerciais em curso.
O encontro em Pequim ocorre em um momento em que líderes europeus avaliam o impacto das tensões sino-americanas sobre suas próprias economias. A União Europeia tem adotado medidas para proteger setores industriais e incentivar acordos comerciais com países fora do eixo Estados Unidos-China, buscando reduzir a exposição a choques externos.
Com o avanço das disputas comerciais, a participação de atores europeus como potenciais mediadores entre China e Estados Unidos tem sido considerada por analistas como uma alternativa para evitar maiores prejuízos ao comércio internacional. No entanto, a efetividade dessas iniciativas dependerá da disposição das partes envolvidas em retomar canais de negociação.
A visita de Pedro Sánchez à China marca a terceira viagem do líder espanhol ao país asiático em pouco mais de dois anos e ocorre em meio a um esforço contínuo de reforço das relações bilaterais. O governo espanhol tem priorizado a ampliação de parcerias estratégicas na Ásia como parte de sua política externa e comercial.
Até o momento, não há previsão de novos encontros entre líderes chineses e autoridades norte-americanas para tratar da disputa tarifária. O governo chinês mantém a posição de que continuará respondendo às ações de Washington, enquanto procura ampliar sua rede de acordos comerciais e cooperação com outras economias globais.
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