Foco na agenda interna e confiança para enfrentar tarifas dos EUA.
O governo dos Estados Unidos voltou a desafiar o consenso internacional ao impor tarifas punitivas — chamadas de “tarifas de reciprocidade” — a quase todos os seus parceiros comerciais, incluindo a China. Pequim respondeu de forma rápida e firme, o que atraiu atenção global. Diante disso, é essencial analisar com objetividade o impacto dessas medidas, avaliar com clareza o desempenho positivo da economia chinesa e fortalecer a confiança para enfrentar essa nova ofensiva de Washington.
1. As tarifas terão impacto, mas estão longe de ser catastróficas
As novas tarifas dos EUA, que aumentam em 34% os impostos sobre produtos chineses, somam-se a outras já em vigor e devem afetar o comércio bilateral. A curto prazo, isso deve gerar perdas para nossas exportações e pressionar a economia.
Mas a China é uma economia de grande escala e tem capacidade para resistir a choques. Nos últimos anos, o país diversificou mercados e reduziu a dependência dos EUA. A fatia das exportações chinesas para os EUA caiu de 19,2% em 2018 para 14,7% em 2024. Embora haja impacto, ele não será disruptivo.
Por outro lado, os EUA também dependem da China em muitos setores. É difícil, no curto prazo, substituir insumos e produtos chineses, em alguns casos com dependência superior a 50%. A interdependência torna impossível o rompimento completo do comércio.
A China ampliou suas parcerias com mercados emergentes e países da Iniciativa Cinturão e Rota. De 2018 para cá, a fatia de exportações para a ASEAN subiu de 12,8% para 16,4%, e para países da Iniciativa, de 38,7% para 47,8%. Há ainda um amplo mercado doméstico que serve de amortecedor. Em 2024, cerca de 85% das empresas exportadoras também vendem internamente, com a maior parte da receita vinda do mercado doméstico. Políticas públicas estão fortalecendo a conversão de exportação para consumo interno.
2. Economia chinesa está estável e pronta para resistir
Desde o início da guerra comercial com os EUA, em 2017, a economia chinesa seguiu crescendo. Essa resiliência é a base para enfrentar novos choques.
Nos últimos anos, reformas estruturais fortaleceram a demanda e o ciclo doméstico. Após medidas anunciadas em setembro de 2023, a economia ganhou novo fôlego. Nos dois primeiros meses de 2025, consumo e investimentos superaram expectativas. Exportações se mantiveram estáveis e os indicadores da indústria e serviços subiram. A expectativa é de crescimento acima de 5% no primeiro trimestre.
A inovação tecnológica tem sido uma alavanca essencial. A China avançou em áreas como semicondutores, inteligência artificial e robótica. As sanções apenas aceleraram o desenvolvimento de tecnologias estratégicas.
A mitigação de riscos também avança. Foram feitos progressos no setor imobiliário, na dívida dos governos locais e em instituições financeiras. O mercado imobiliário dá sinais de recuperação, especialmente nas grandes cidades.
O ambiente de negócios continua melhorando. A estabilidade social e a clareza nas políticas públicas trazem previsibilidade para investidores. Desde o início do ano, organismos internacionais e bancos de Wall Street revisaram para cima as projeções de crescimento da China. O país é visto como porto seguro diante da instabilidade norte-americana.
3. A China tem estratégia para lidar com o embate comercial
Após oito anos de disputa comercial, a China acumulou experiência. Apesar de o mercado considerar as novas tarifas dos EUA como surpreendentes, Pequim já previa essa escalada e preparou respostas.
Na conferência central de trabalho econômico do ano passado, o governo definiu diretrizes para enfrentar essa pressão. Isso inclui ampliar ferramentas de política econômica, ajustar estímulos conforme o cenário externo e reforçar a coordenação macroeconômica.
Entre as medidas já anunciadas estão a meta de déficit fiscal em torno de 4% e uso ampliado de títulos do governo para financiar infraestrutura e inovação. O governo também poderá lançar mão de cortes nos juros e no compulsório bancário conforme necessário.
A política fiscal será mais ativa, com aumento nos gastos públicos e espaço para emissão de dívida adicional. Haverá estímulos ao consumo e ao mercado interno. O governo também vai apoiar empresas afetadas pelas tarifas, ajudando na adaptação ao mercado interno e a novos mercados fora dos EUA.
Ao mesmo tempo, a China continuará pressionando os EUA a abandonar práticas erradas e buscar soluções através do diálogo, com base em igualdade e respeito mútuo.
4. Reformas internas são o melhor caminho diante da incerteza externa
O mundo passa por uma transformação profunda e as tarifas dos EUA só aumentam as incertezas na economia global. A resposta da China é reforçar sua agenda interna: acelerar reformas, estimular crescimento de qualidade e ajustar sua estrutura econômica.
Com a redução do espaço para exportações aos EUA, é estratégico fortalecer a demanda interna. O mercado consumidor chinês pode ser a principal força motriz do crescimento. Isso exige políticas para aumentar a renda e reduzir os encargos sobre as famílias, além de ações para melhorar o ambiente de negócios e integrar o mercado doméstico.
Apesar da pressão norte-americana, a China não descarta o diálogo. Mas também não conta com mudanças imediatas em Washington. O país está preparado para lidar com diferentes cenários.
Como afirmou o presidente Xi Jinping, “a economia da China é um oceano, não um pequeno lago”. Um oceano que resiste a tempestades e mantém sua força diante dos ventos contrários.
Autores: Diário do Povo
Data de publicação: 6 de abril de 2025
Fonte: Diário do Povo (People’s Daily)
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