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Trump joga toda a Ásia no colo da China

A segunda guerra comercial de Donald Trump é um confronto de um contra todos. As tarifas recíprocas anunciadas na quarta-feira pela Casa Branca impuseram um aumento de 34 pontos percentuais sobre a China, elevando para 54 pontos percentuais as novas tarifas sobre exportações do país nas dez semanas desde que o presidente dos EUA assumiu […]

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Então presidente dos EUA, Donald Trump, cumprimenta presidente da China, Xi Jinping, durante reunião do G20 em Osaka, no Japão, em 2019 29/06/2019 REUTERS/Kevin Lamarque

A segunda guerra comercial de Donald Trump é um confronto de um contra todos. As tarifas recíprocas anunciadas na quarta-feira pela Casa Branca impuseram um aumento de 34 pontos percentuais sobre a China, elevando para 54 pontos percentuais as novas tarifas sobre exportações do país nas dez semanas desde que o presidente dos EUA assumiu o cargo. E ele não poupou sequer os que tentaram se render em vez de retaliar. Alguns países estão em situação pior do que outros, mas Washington colocou praticamente toda a Ásia no mesmo barco tarifário.

O Japão recebeu uma tarifa de 24%, apesar de seu papel como aliado geopolítico dos EUA na região e dos maciços investimentos estrangeiros de gigantes como o SoftBank. As muitas bases do Exército americano na Coreia do Sul não impediram uma tarifa de 26%; nem mesmo o papel vital de Taiwan no fornecimento de semicondutores para gigantes do Vale do Silício — ou a promessa da Taiwan Semiconductor Manufacturing de investir na produção de chips nos EUA — evitaram um aumento de 32%.

A decisão também mina a chamada estratégia “China-mais-um”, adotada por países como o Vietnã, que agora enfrenta tarifas de 46%, praticamente no mesmo nível da segunda maior economia do mundo, da qual vinha reexportando produtos acabados para compradores americanos. Isso afetará fortemente os exportadores chineses, que passaram a depender do redirecionamento de mercadorias via Sudeste Asiático, com investimentos em fábricas nessas regiões.

Pode haver uma brecha para a Índia, que quer expandir seu setor industrial. O país do sul da Ásia enfrentará uma tarifa menor, de 27%, e suas altas barreiras ao investimento chinês podem, no fim das contas, tornar a Índia mais atraente como base de produção de baixo custo para abastecer os EUA. No entanto, a maioria das empresas globais tende a não mudar suas cadeias de suprimento até que haja mais estabilidade na política comercial.

Os otimistas podem manter a esperança de que parceiros consigam negociar pelo menos reversões parciais antes que as tarifas entrem em vigor, no dia 9 de abril, ou nos meses seguintes. Mas, na era Trump, as tarifas dos EUA são extremamente rígidas, e as condições estabelecidas na ordem executiva — que exigem concessões substanciais em questões comerciais e de segurança — tornam as negociações bem-sucedidas muito menos prováveis.

Tudo isso pode acabar favorecendo a China, justamente enquanto Pequim busca consolidar seu papel como hegemon regional e defensor do livre comércio — ao menos em contraste com a América de Trump, um mercado gigantesco que é quase impossível de substituir. Ainda assim, a oposição de Pequim às barreiras comerciais anda de mãos dadas com a necessidade de manter seu setor exportador vital funcionando, para evitar o aumento do desemprego e um freio ainda maior ao crescimento já lento.

O restante da Ásia agora pode se deparar com uma enxurrada de produtos chineses baratos invadindo os mercados locais, prejudicando as fábricas da região e forçando decisões difíceis sobre erguer suas próprias barreiras protecionistas. As principais bolsas da região caíram na quinta-feira, com destaque para a queda de 3% no índice Topix do Japão, enquanto investidores avaliavam os impactos imediatos e de longo prazo. A dura realidade é que não há porto seguro na Ásia — e a tempestade já chegou.

Hudson Lockett, colunista do Reuters Breakingviews
Publicado em 3 de abril de 2025
Fonte: Reuters (reuters.com)

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