O presidente da China, Xi Jinping, afirmou nesta sexta-feira, 29, que empresas multinacionais devem cooperar para manter a estabilidade das cadeias globais de suprimentos.
A declaração foi feita durante reunião com cerca de 40 presidentes-executivos de grandes companhias internacionais, em um momento em que Pequim tenta conter preocupações do setor privado sobre a desaceleração econômica e os efeitos de uma possível intensificação da guerra comercial com os Estados Unidos.
“Precisamos trabalhar juntos para manter a estabilidade da indústria global e das cadeias de suprimentos, o que é uma garantia importante para o desenvolvimento saudável da economia mundial”, disse Xi durante o encontro, que contou com representantes de empresas como AstraZeneca, FedEx, Saudi Aramco, Standard Chartered e Toyota.
O evento durou aproximadamente 90 minutos. Segundo fontes ligadas à organização, sete empresas foram convidadas a falar diretamente ao presidente chinês. A maioria dos executivos presentes representava o setor farmacêutico.
A reunião ocorre em meio a crescentes tensões comerciais com os Estados Unidos, intensificadas após a retomada da presidência por Donald Trump.
O governo norte-americano anunciou novas tarifas sobre produtos chineses e prometeu aplicar tarifas “recíprocas” a partir de 2 de abril contra países que impõem barreiras comerciais às exportações dos Estados Unidos. A China respondeu com tarifas adicionais sobre produtos agrícolas norte-americanos.
A economia chinesa vem enfrentando dificuldades para recuperar o ritmo de crescimento desde a pandemia de Covid-19. Dados oficiais indicam que o investimento estrangeiro direto no país caiu 27,1% em 2024, em comparação com o ano anterior, representando a maior retração desde a crise financeira global de 2008.
Nos últimos meses, o governo chinês tem intensificado reuniões com representantes do setor privado internacional na tentativa de reverter esse quadro e restaurar a confiança empresarial.
Entre os principais obstáculos citados por empresas estrangeiras estão regras regulatórias mais rígidas, ambiente de negócios considerado desigual e intervenções abruptas por parte das autoridades chinesas.
Sean Stein, presidente do Conselho Empresarial EUA-China e um dos participantes da reunião, afirmou que o encontro foi bem recebido pelos executivos presentes.
“Os CEOs com quem conversei, e conversei com muitos deles, acharam que valeu a pena”, declarou.
“O presidente não apenas reconheceu os vários desafios enfrentados pelas empresas e pelo setor, mas, em muitos casos, prometeu que o governo tomará providências.”
Xi Jinping também destacou a relevância das empresas estrangeiras na economia do país. “As empresas estrangeiras contribuem com um terço das importações e exportações da China, um quarto do valor agregado industrial e um sétimo da receita tributária, criando mais de 30 milhões de empregos”, afirmou.
O presidente ainda mencionou os efeitos de fatores geopolíticos sobre o fluxo de investimentos. “Nos últimos anos, os investimentos estrangeiros na China também sofreram interferência de fatores geopolíticos… Costumo dizer que apagar as luzes de outras pessoas não nos torna mais brilhantes.”
Durante o encontro, Xi reforçou que a cooperação econômica entre China e Estados Unidos é, em sua essência, benéfica para ambos os lados. “A essência das relações econômicas e comerciais entre a China e os EUA é mutuamente benéfica e vantajosa para todos”, declarou.
A retomada do discurso protecionista por parte do governo dos Estados Unidos tem elevado o grau de incerteza no comércio internacional. As tarifas de 20% impostas às exportações chinesas neste mês já resultaram em medidas retaliatórias por parte de Pequim.
A ampliação das restrições comerciais pode gerar impactos adicionais sobre cadeias produtivas globais, especialmente nos setores de tecnologia, automotivo, farmacêutico e agrícola.
O governo chinês tem adotado diferentes estratégias para atrair novos investimentos e tentar manter o fluxo de capital externo, incluindo medidas para ampliar o acesso de empresas estrangeiras a setores estratégicos e compromissos com maior previsibilidade regulatória. No entanto, o ambiente de negócios segue marcado por cautela, especialmente entre empresas norte-americanas.
A reunião com os CEOs faz parte de um esforço mais amplo de diplomacia econômica, promovido por autoridades chinesas com o objetivo de mitigar os efeitos da retração nos investimentos e enfrentar as pressões externas.
Analistas apontam que a estabilidade das cadeias de suprimentos será um dos principais pontos de atenção para o comércio internacional nos próximos meses, diante do cenário de tensões crescentes entre as duas maiores economias do mundo.
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