O Brasil está próximo de registrar exportações recordes de soja no primeiro trimestre de 2025, impulsionado pela forte demanda da China. De acordo com analistas do setor, o aumento nas compras chinesas ocorre em meio ao cenário de conflito comercial entre o país asiático e os Estados Unidos.
A estimativa é que os embarques brasileiros para o mercado chinês alcancem volumes superiores aos registrados em anos anteriores, mesmo antes de os impactos da nova guerra comercial serem plenamente sentidos.
Dados compilados até 25 de março indicam que o Brasil já embarcou 22,8 milhões de toneladas de soja no acumulado do ano, das quais 17,7 milhões foram destinadas à China.
As informações foram divulgadas por Eduardo Vanin, analista da Agrinvest, que classificou os números como os maiores já registrados para o período, apesar de dificuldades logísticas e do atraso na colheita em algumas regiões produtoras.
Segundo Vanin, as exportações do início do ano refletem, em grande parte, as compras antecipadas realizadas pelos importadores chineses em 2024.
“Os embarques de soja do Brasil para a China no primeiro trimestre refletem ainda compras antecipadas de cerca de 33 milhões de toneladas feitas até dezembro de 2024, quando a nova safra ainda não estava colhida, e os mercados chineses de esmagamento estavam saudáveis”, afirmou.
De acordo com ele, esse volume representa um aumento de 7 milhões de toneladas em relação à temporada anterior no mesmo período.
O comportamento dos importadores chineses tem sido interpretado por analistas como um movimento estratégico, diante das incertezas no comércio internacional.
André Pessôa, presidente da Agroconsult, afirmou que o conflito comercial atual ainda não influenciou diretamente os embarques do primeiro trimestre.
“A guerra comercial não tem tanta influência sobre os embarques agora, enquanto o movimento de compra antecipada da China no ano passado sugere que os importadores chineses estavam ‘se preparando para uma possível vitória de Trump’”, disse.
A projeção da Agroconsult para a safra brasileira de soja em 2025 é de mais de 170 milhões de toneladas, o maior volume já estimado. Com esse resultado, o país deve manter sua posição como o principal fornecedor global do grão, ampliando sua participação no mercado asiático.
A tendência de crescimento da demanda chinesa pela soja brasileira não é recente, segundo Luiz Fernando Roque, coordenador de Inteligência de Mercado da Hedgepoint Global Markets.
“Não é novidade que a China cada vez mais centraliza suas compras aqui. Se olharmos para trás, de 22/23 para 23/24, nas duas temporadas anteriores, a gente já teve um aumento de compras da China aqui no Brasil, e uma diminuição de compras da China lá nos Estados Unidos, e não tinha exatamente uma guerra comercial, né?”, afirmou.
Roque destacou que os efeitos do atual conflito comercial entre China e Estados Unidos podem se tornar mais evidentes a partir do segundo semestre. Tradicionalmente, é nesse período que os Estados Unidos aumentam sua participação nas exportações para o mercado chinês.
No entanto, caso as tarifas impostas pelos dois países se mantenham, o Brasil poderá absorver parte da demanda redirecionada. “Acho que por enquanto o impacto (da guerra comercial) é muito pequeno ainda. Mas se continuar essa guerra de fato, podemos ver uma demanda adicional, além do que já esperávamos”, afirmou.
Segundo Roque, a expectativa é que as exportações brasileiras de soja para a China no primeiro trimestre cheguem a 18 milhões de toneladas, cerca de 2 milhões a mais do que no mesmo período do ano anterior. O número representaria um novo recorde histórico para o intervalo.
Informações divulgadas pela Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) indicam que, nos dois primeiros meses de 2025, 79% das exportações brasileiras de soja tiveram como destino a China, ante 75% no mesmo período do ano anterior.
A intensificação das compras chinesas no Brasil remete ao cenário de 2018, quando a primeira guerra comercial entre China e Estados Unidos, durante o governo de Donald Trump, provocou uma mudança significativa nos fluxos de comércio global de grãos. À época, o Brasil passou a ser o principal fornecedor de soja à China, posição que se consolidou nos anos seguintes.
A atual disputa comercial entre os dois países teve início com a imposição de tarifas de 20% pelos Estados Unidos sobre produtos chineses. Em resposta, a China anunciou medidas tarifárias adicionais sobre itens agrícolas norte-americanos. Analistas indicam que o desdobramento dessas medidas pode beneficiar, direta ou indiretamente, os exportadores brasileiros.
O ciclo agrícola brasileiro segue o padrão de plantio entre setembro e novembro, com colheita a partir de janeiro, variando conforme a região. Os portos passam a operar em ritmo mais intenso a partir de fevereiro, coincidindo com a fase inicial de escoamento da safra.
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