Caiado descarta apoiar impeachment de ministros do STF e pula fora do bolsonarismo

Isac Nóbrega/PR

O governador de Goiás e pré-candidato à Presidência da República em 2026, Ronaldo Caiado (União Brasil), afirmou que não defenderá o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como Alexandre de Moraes, caso seja eleito. A declaração foi dada em entrevista à coluna do jornalista Paulo Cappelli, publicada no portal Metrópoles.

A posição de Caiado indica um distanciamento em relação a pautas defendidas por setores da oposição liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para os quais o afastamento de ministros da Corte tem sido uma das principais bandeiras.

“Se nós continuarmos alimentando isso no Brasil, a quem interessa? A mídia não fala em outra coisa. Faz dois anos e quatro meses que o atual governo não governa, não trabalha. Só fala de 8 de Janeiro, e agora [a oposição] só fala em caçar ministro. A que ponto nós estamos chegando? Você acha que isso é governar o país? Você acha que isso é meta de campanha?”, disse o governador.

A declaração também foi interpretada como um indicativo de que Caiado pretende lançar candidatura com identidade própria, sem se alinhar à estratégia política da família Bolsonaro.

O ex-presidente já afirmou, em diferentes ocasiões, que só apoiará um nome que assuma publicamente a defesa do impeachment de ministros do STF.

Durante a entrevista, Caiado também criticou a narrativa que descreve o país como vivendo sob uma “ditadura do STF”, expressão recorrente em discursos de parlamentares e apoiadores ligados ao ex-presidente Bolsonaro.

“Tentar rotular um poder, de maneira alguma, como democrata que sou, rotularei. Existe um descontentamento, por parte do ex-presidente [Bolsonaro], em relação à maneira como está sendo conduzido o processo. Mas, até aí, ser dito ‘ditadura’, não acredito que seja uma ditadura. Acho que deverá ser dada a oportunidade de fazer uma ampla defesa”, declarou.

A fala faz referência aos processos em curso no STF contra aliados do ex-presidente, especialmente relacionados à tentativa de golpe ocorrida em 8 de janeiro de 2023. Para Caiado, o episódio tem sido utilizado politicamente pelo governo federal.

“O que esse governo fez em dois anos e três meses que não fosse polarizar esse assunto? Ou seja, o Brasil não aguenta mais isso de ser caudatário de todos os países do Brics, um país que deixa a desejar”, afirmou. O governador também defendeu anistia para os envolvidos nos atos antidemocráticos.

A postura crítica de Caiado ao atual governo federal se estendeu a temas de política externa e gestão econômica.

Segundo ele, o Brasil tem assumido papel secundário nas relações internacionais e falhado na implementação de medidas administrativas. Embora se oponha à atual gestão, Caiado tem adotado uma linha de discurso que evita aderir à retórica bolsonarista de enfrentamento direto ao Judiciário.

A pré-candidatura de Ronaldo Caiado à Presidência da República será lançada oficialmente no dia 4 de abril, em Salvador.

O evento terá como slogan “Coragem para endireitar o Brasil”. A escolha do termo “endireitar” foi interpretada como um aceno ao eleitorado conservador, mas também como tentativa de marcar diferença em relação ao discurso da oposição mais radical.

Nos bastidores, dirigentes do União Brasil afirmam que Caiado busca consolidar-se como alternativa de centro-direita com credenciais na segurança pública, na gestão administrativa e na articulação política.

A estratégia inclui o diálogo com diferentes correntes do espectro conservador, mas sem repetir o tom confrontacional adotado por Bolsonaro e seus aliados em relação às instituições.

A definição do nome que receberá o apoio do ex-presidente nas eleições de 2026 ainda não foi oficializada.

No entanto, Bolsonaro tem reiterado que qualquer apoio estará condicionado ao comprometimento com uma agenda que inclua o enfrentamento direto ao Supremo Tribunal Federal.

A negativa de Caiado em assumir essa postura torna improvável uma aliança no primeiro turno.

Com a movimentação de pré-candidaturas já em curso, a eleição presidencial de 2026 começa a ganhar contornos de disputa fragmentada na direita.

Além de Caiado, outros nomes são cotados como possíveis candidatos no campo conservador. A configuração final dependerá das articulações entre partidos e da capacidade de cada postulante em se viabilizar eleitoralmente.

Enquanto isso, o governador de Goiás mantém sua agenda institucional, com presença em eventos públicos e encontros com lideranças regionais. A escolha de Salvador para o lançamento da pré-campanha foi interpretada como tentativa de ampliar presença em regiões onde o União Brasil possui base significativa, como o Nordeste.

Até o momento, não houve reação oficial do Planalto nem de integrantes do STF às declarações de Ronaldo Caiado. A fala do governador, no entanto, reforça os sinais de que o campo da direita deverá apresentar candidaturas com perfis distintos, divergindo em relação à condução das relações entre os Poderes.

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