A crise da rupia ecoa lembranças da crise de 1998, enquanto investidores se preocupam com o endividamento crescente e o impacto das tensões globais na economia
A rupia indonésia atingiu seu nível mais fraco em relação ao dólar americano desde a crise financeira asiática de 1998, impulsionada pelos crescentes temores sobre as políticas do presidente Prabowo Subianto e seu impacto na situação fiscal da maior economia do Sudeste Asiático. Segundo o Financial Times, a moeda chegou a cair 0,5%, tocando brevemente 16.640 por dólar na terça-feira, valor próximo ao recorde negativo de 16.800 registrado em junho de 1998, ano da queda do ex-ditador indonésio Suharto.
O Banco da Indonésia, o banco central do país, afirmou ao Financial Times que interveio nos mercados de títulos e câmbio na terça-feira “para garantir a estabilidade da taxa de câmbio da rupia e manter o equilíbrio entre a demanda e a oferta de moeda estrangeira, preservando assim a confiança do mercado”.
A instituição acrescentou que os movimentos recentes da rupia “são impulsionados principalmente por fatores globais que permanecem altamente incertos… Isso inclui as políticas tarifárias de Trump e seu impacto em outros países, a potencial política mais agressiva do Fed e as tensões geopolíticas em curso”.
Embora o banco central tenha atribuído a queda a fatores externos, os investidores estão preocupados principalmente com a política fiscal expansionista do ex-militar Prabowo. Seu principal programa, que oferece merenda gratuita para crianças em idade escolar e gestantes, custa cerca de US$ 28 bilhões anuais e pressiona as finanças públicas. A Indonésia registrou um déficit orçamentário inesperado nos dois primeiros meses do ano.
Sinais de desaceleração econômica também reduziram o apetite dos investidores. Uma economia mais fraca pode levar o banco central a cortar juros, aumentando a pressão sobre a moeda, segundo analistas.
“O panorama geral é o de um governo fiscalmente menos responsável”, disse Viktor Szabo, gestor de fundos da Aberdeen Investments.
A rupia é a moeda com o pior desempenho entre as maiores economias asiáticas em 2025, com queda de quase 3% ante o dólar. O principal índice de ações de Jacarta também recuou cerca de 14% em dólar desde o início do ano.
A Indonésia foi uma das mais afetadas pela crise cambial que começou com o baht tailandês em 1997, espalhando-se pela Ásia e forçando o país e outros a buscarem socorro do FMI. A crise econômica alimentou protestos que ajudaram a derrubar o regime de Suharto.
O episódio marcou uma geração de autoridades monetárias asiáticas, que desde então acumularam reservas cambiais e atuam ativamente nos mercados para evitar uma repetição.
A Indonésia já consumiu cerca de US$ 1,5 bilhão de suas reservas de US$ 154 bilhões para financiar intervenções nos dois primeiros meses de 2025, segundo dados do banco central. O país tem atuado nos mercados à vista, de forwards não entregáveis e de títulos para sustentar a moeda.
“Esperamos que o fraco desempenho da rupia persista até o segundo trimestre, mesmo com uma possível desaceleração do dólar no curto prazo”, disseram analistas do Barclays em relatório, citando pressões fiscais e o pessimismo de investidores estrangeiros com ativos indonésios.
Enquanto isso, empresas locais sofrem com a concorrência de produtos chineses baratos desviados para mercados emergentes. Esse fluxo pode aumentar se os EUA elevarem tarifas sobre a China. A Sritex, uma das maiores fabricantes de roupas do país, encerrou operações no mês passado.
Observadores agora acompanham a governança de um novo fundo soberano.
O fundo Danantara incluiu o bilionário Ray Dalio e o ex-premiê tailandês Thaksin Shinawatra em seu conselho consultivo nesta semana, mas investidores temem influência política em um portfólio que abrangerá estatais.
“Acreditamos que ainda há incertezas sobre a execução e operação do fundo, o que pode manter os mercados voláteis devido aos planos de gastos agressivos do governo”, disseram analistas do JPMorgan.
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