As exportações da China de veículos híbridos elétricos plug-in (PHEVs) para a União Europeia aumentaram significativamente nos dois primeiros meses de 2024, enquanto as remessas de veículos elétricos de passageiros (EVs) apresentaram queda no mesmo período.
A mudança ocorre em meio ao endurecimento das barreiras comerciais impostas pelo bloco europeu, especialmente desde a adoção de tarifas adicionais sobre EVs fabricados na China.
De acordo com os dados alfandegários mais recentes, a China exportou 25.903 unidades de PHEVs para a União Europeia entre janeiro e fevereiro, representando um crescimento de 892% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O valor total das exportações desses veículos alcançou US$ 501,6 milhões, um aumento de 561% na comparação anual, correspondendo a quase metade do valor gerado pelas exportações de veículos elétricos para o mercado europeu.
No mesmo intervalo, as exportações de veículos elétricos de passageiros caíram 33% em volume, totalizando 50.383 unidades destinadas à União Europeia.
A retração acompanha uma tendência de desaceleração observada desde outubro de 2023, quando a Comissão Europeia aumentou tarifas de importação sobre EVs chineses para até 45%.
Apesar de os PHEVs ainda não estarem sujeitos às mesmas tarifas impostas aos veículos elétricos, analistas apontam que o forte crescimento pode levar o bloco europeu a revisar essa política.
“Os híbridos plug-in não estão atualmente sujeitos às tarifas da UE, e aqueles fabricados na China oferecem maior eficiência de custos”, disse Cui Dongshu, secretário-geral da Associação Chinesa de Automóveis de Passageiros.
Ele destacou que os PHEVs são menos dependentes da infraestrutura de carregamento e, por isso, mais competitivos em determinados mercados.
Cui afirmou, no entanto, que a continuidade do crescimento nas exportações pode atrair maior escrutínio. “Dado o estado do comércio global, é possível que os PHEVs da China sejam alvo de análise crítica se suas fortes vendas no exterior continuarem”, observou.
Nos dois primeiros meses do ano, a China exportou mais de 92 mil unidades de PHEVs globalmente, o que representa um aumento de 191,66% em relação ao mesmo período de 2023.
O valor dessas exportações foi de US$ 1,91 bilhão, alta de 91,44% na comparação anual. A União Europeia foi responsável por mais de um quarto desse montante.
Por outro lado, as exportações de veículos elétricos de passageiros da China para o mercado global caíram 25% no período, totalizando 184.825 unidades, enquanto o valor das exportações diminuiu 24%, chegando a US$ 3,9 bilhões.
O economista sênior da Economist Intelligence Unit na China, Xu Tianchen, avaliou que a preferência por híbridos plug-in reflete uma mudança de comportamento do consumidor internacional.
Segundo ele, as dificuldades para expansão da infraestrutura de carregamento em mercados estratégicos têm contribuído para o aumento da demanda por PHEVs.
“Os veículos elétricos híbridos são mais bem-vindos porque podem funcionar sem eletricidade e, mesmo quando funcionam com gasolina, tendem a ser mais econômicos”, afirmou.
Xu também associou o declínio nas exportações de EVs ao fim gradual dos subsídios governamentais e à estratégia de exportadores chineses de antecipar embarques antes da entrada em vigor de medidas tarifárias. “Essa estratégia impulsionou as exportações em 2024, potencialmente ao custo das remessas de 2025”, explicou.
O economista ressaltou que os híbridos plug-in não estão isentos de riscos tarifários. “Os veículos elétricos híbridos plug-in não são completamente imunes a ameaças tarifárias”, disse, acrescentando que a situação ocorre em um contexto de incerteza nas relações comerciais globais.
Segundo Xu, “a UE não pode se dar ao luxo de estragar suas relações com a China, pois isso seria um convite ao desastre para os gigantes industriais [da UE]”.
A disputa comercial entre os Estados Unidos e a União Europeia também influencia o cenário. No dia 12 de março, os Estados Unidos retiraram isenções tarifárias para aço e alumínio oriundos da UE, aplicando tarifa de 25% sobre o alumínio.
Como resposta, o bloco europeu planeja impor tarifas sobre produtos norte-americanos, incluindo uísque e soja.
No ano anterior, as importações totais de veículos elétricos chineses pela União Europeia caíram 6% em relação a 2023.
Em meio ao cenário de tensão comercial, o ministro do Comércio da China, Wang Wentao, reuniu-se no sábado com o presidente do BMW Group, Oliver Zipse. Durante o encontro, Wang pediu à União Europeia que reavalie suas tarifas antissubsídios sobre veículos elétricos chineses.
“Apesar das complexidades atuais, a China e a UE podem trazer estabilidade e certeza à economia global”, declarou Wang, acrescentando que espera que a BMW continue incentivando Bruxelas a buscar uma solução consensual para a disputa.
Com informações do SCMP
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