O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, declarou nesta sexta-feira, 21, que a União Europeia corre o risco de ser excluída de futuras negociações de paz relacionadas à guerra na Ucrânia. As afirmações foram feitas durante entrevista à Rádio Kossuth e repercutidas pela emissora estatal russa RT.
Segundo Orban, a postura adotada por Bruxelas em relação ao conflito contribui para o isolamento diplomático da União Europeia.
“Estou tentando encontrar uma palavra que não seja ofensiva, mas que descreva a situação com precisão. Talvez ‘à deriva’ seja o termo certo”, afirmou, ao comentar a atuação do bloco europeu diante do cenário de guerra.
O premiê húngaro argumentou que, enquanto os Estados Unidos já iniciam tratativas com Moscou e Kiev, a União Europeia mantém, segundo ele, uma linha de atuação que impede sua participação em futuros acordos. “Chegará o momento em que tudo já estará resolvido e Bruxelas sequer será necessária”, disse.
Orban afirmou que a diplomacia norte-americana passou a atuar de forma mais intensa após o início do novo mandato presidencial nos Estados Unidos, iniciado em 20 de janeiro. Segundo ele, o ex-presidente Donald Trump, que articula um retorno ao poder, iniciou uma ofensiva diplomática com o objetivo de encerrar as hostilidades.
O líder húngaro mencionou ainda declarações do enviado especial de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, segundo as quais um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia poderia ser alcançado em poucas semanas.
“Vai haver um acordo americano-ucraniano, um acordo americano-russo e até um acordo russo-ucraniano intermediado por eles [os EUA]”, afirmou Orban.
Durante a entrevista, o primeiro-ministro reiterou críticas à estratégia adotada pela União Europeia desde o início do conflito.
Para ele, a insistência em fornecer armamentos ao governo de Kiev e manter sanções contra Moscou compromete a atuação europeia na busca por uma solução política. “A UE estragou tudo ao insistir em uma linha de confronto”, declarou.
A Hungria se recusou, nesta semana, a assinar a declaração conjunta do Conselho Europeu sobre a guerra na Ucrânia. O documento reafirmava o apoio do bloco ao governo ucraniano e o compromisso com o fornecimento contínuo de armamentos. A decisão húngara marca mais um episódio de divergência entre Budapeste e os demais Estados-membros da UE.
Orban afirmou que alertou previamente sobre as consequências de manter uma política que, segundo ele, não considera alternativas de mediação.
“Se não mudássemos nossa posição pró-guerra e não começássemos a esboçar e defender uma postura europeia independente, acabaríamos exatamente na posição em que estamos agora: o futuro da Europa está sendo decidido sem nós”, disse.
A Hungria tem se posicionado de forma contrária à maioria das decisões adotadas pela União Europeia no contexto do conflito.
O governo húngaro já se manifestou contra sanções impostas à Rússia e defende a abertura de canais diplomáticos para negociação de um cessar-fogo. Segundo Orban, a escalada militar promovida por Bruxelas tem efeitos econômicos negativos sobre os próprios países europeus.
A posição húngara tem gerado impasses dentro do bloco. A recusa em assinar declarações conjuntas, somada às críticas à política de apoio militar à Ucrânia, isola Budapeste nas discussões internas da UE. Ainda assim, o governo de Orban mantém o discurso de que uma alternativa diplomática é necessária para o fim do conflito.
A União Europeia não respondeu oficialmente às declarações do primeiro-ministro da Hungria até o momento. As negociações no Conselho Europeu seguem sendo pautadas pelas decisões da maioria dos Estados-membros, que continuam a sustentar a posição de apoio ao governo de Kiev.
A guerra na Ucrânia entrou em seu terceiro ano, sem perspectiva imediata de resolução. A postura divergente da Hungria evidencia a dificuldade da União Europeia em manter consenso interno sobre as estratégias adotadas no conflito.
O avanço de negociações paralelas envolvendo os Estados Unidos e os países diretamente envolvidos levanta questionamentos sobre o papel da Europa nos desdobramentos diplomáticos futuros.
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