A ex-presidenta da República Dilma Rousseff foi reconduzida neste domingo, 23, à presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), instituição financeira criada pelos países que integram o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A confirmação da recondução ocorreu durante o Fórum de Desenvolvimento da China, realizado em Pequim.
A indicação para o segundo mandato partiu da Rússia e foi articulada politicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O NDB, sediado em Xangai, tem buscado ampliar sua atuação internacional e recuperar sua capacidade operacional nos últimos anos.
Desde março de 2023, quando assumiu o comando da instituição, Rousseff liderou uma série de mudanças estruturais no banco, que enfrentava dificuldades de liquidez e desafios na captação de recursos.
Durante o evento, Dilma Rousseff confirmou à imprensa sua recondução ao cargo e respondeu a questionamentos sobre sua gestão. Ao ser abordada por jornalistas da Folha de S.Paulo, criticou a publicação por uma reportagem recente sobre o banco.
“Agora, vocês têm que parar de fazer ficha falsa, tá? Conhece a ficha falsa? Lembra dela?”, disse, em referência a um episódio de 2009 em que o jornal publicou um documento de origem não comprovada sobre sua trajetória política.
Na ocasião, Rousseff afirmou que a publicação teve como objetivo prejudicar sua candidatura presidencial contra o então candidato José Serra, do PSDB. A ex-presidenta foi eleita em 2010.
A reportagem da Folha de S.Paulo citada por Rousseff abordava metas atrasadas e relatos de assédio moral no NDB. Questionada sobre essas informações, a presidenta do banco afirmou: “Não vi. Não quero [comentar]”, reiterando a crítica à cobertura do jornal: “Vocês têm que parar de fazer ficha falsa”.
Durante sua participação no Fórum, Rousseff também comentou sobre a situação do banco antes de sua gestão. “Uma das coisas mais graves que aconteceram no banco foi quando não tomaram empréstimos por 16 meses”, declarou. “Quando você não tem liquidez, você não investe. Ou seja, também não tinha empréstimo.”
No período anterior à sua gestão, o NDB passou 15 meses sem acessar o mercado de capitais em dólar, o que impactou negativamente a capacidade de investimento da instituição. O banco também enfrentava entraves no programa de emissão de títulos na China, os chamados Panda Bonds, e operava sem um comitê executivo de governança.
Desde março de 2023, o banco adotou medidas para reverter esse cenário. Em abril daquele ano, foi criado o comitê executivo.
O programa de Panda Bonds foi retomado, permitindo ao banco captar recursos no mercado chinês. No total, o NDB voltou ao mercado financeiro em 40 operações, levantando aproximadamente US$ 14 bilhões em diversas moedas.
Entre os principais movimentos estão emissões de US$ 1,25 bilhão e US$ 1,2 bilhão em dólares, além de aproximadamente US$ 4 bilhões em yuanes por meio dos Panda Bonds.
A retomada da credibilidade no mercado internacional resultou na manutenção do rating “AA” pela agência Fitch, com perspectiva estável, e na elevação da nota para “AAA” pela agência japonesa JCR, que destacou os avanços na governança e segurança financeira da instituição.
No Brasil, o NDB ampliou sua participação nos desembolsos, passando de 12% para 18% do total, proporcional à participação acionária brasileira no banco.
Entre os projetos financiados estão o Hospital Inteligente, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), os Ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia, um programa de infraestrutura hídrica na Paraíba e apoio à CPFL Energia.
Além da atuação no Brasil, o NDB tem ampliado sua presença internacional. A Argélia passou a integrar a instituição em 2024, e o Uruguai está em processo de adesão. Outros 17 países manifestaram interesse em ingressar no banco, segundo informações da própria instituição.
Durante o Fórum de Desenvolvimento da China, Rousseff esteve ao lado de líderes internacionais como o primeiro-ministro chinês Li Qiang, o CEO da Apple, Tim Cook, e o brasileiro Cristiano Amon, CEO da Qualcomm.
A presença no evento foi considerada estratégica para reforçar a atuação do NDB como mecanismo de financiamento entre economias emergentes.
Em entrevista ao jornalista Leonardo Attuch, do Brasil 247, Rousseff defendeu o papel do banco no atual cenário geopolítico.
“O BRICS é um fator de estabilidade em tempos de incerteza”, afirmou. Segundo ela, o grupo deve continuar a atuar na construção de uma ordem internacional multipolar. “O parâmetro das relações internacionais não pode ser a força. Tem que ser o respeito entre os países”, concluiu.
A recondução de Dilma Rousseff ocorre após um período marcado por mudanças operacionais e financeiras no NDB.
Segundo o banco, as ações implementadas buscam garantir a sustentabilidade financeira da instituição e ampliar sua capacidade de financiamento para projetos de infraestrutura, inovação e desenvolvimento sustentável nos países-membros.
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!