A China iniciou um novo experimento científico na estação espacial com o envio de planárias, vermes conhecidos pela capacidade de regeneração, para estudar os efeitos da microgravidade e das condições magnéticas alteradas no processo regenerativo desses organismos.
A informação foi divulgada no sábado, 23, pela China Media Group, com base em dados da Academia Chinesa de Ciências. O experimento está sendo conduzido pelo Centro de Tecnologia e Engenharia para Utilização Espacial da Academia Chinesa de Ciências.
Segundo a instituição, o objetivo é analisar como o ambiente espacial afeta os mecanismos fisiológicos e moleculares envolvidos na regeneração. “Queremos compreender os impactos fisiológicos e moleculares induzidos pelo espaço nos processos regenerativos desses organismos”, informou o centro.
As planárias são organismos de corpo achatado que possuem mais de 520 milhões de anos de história evolutiva. Utilizadas com frequência em pesquisas biológicas, elas são capazes de se regenerar completamente após serem divididas em partes, incluindo a formação de estruturas como cérebro, intestinos, músculos e pele.
Esse processo pode ocorrer repetidamente, o que torna esses organismos um modelo de estudo relevante para áreas como biologia celular, longevidade e reparação tecidual.
A experiência com planárias integra um conjunto de investigações realizadas na estação espacial chinesa com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre os efeitos do espaço em organismos vivos. Antes das planárias, a China enviou zebrafish (peixes-zebra) e moscas-das-frutas ao espaço como parte de iniciativas anteriores.
No caso dos peixes-zebra, os estudos focaram no impacto da microgravidade sobre proteínas musculares e ósseas dos vertebrados. As moscas-das-frutas foram utilizadas para observar os efeitos da gravidade reduzida e de campos magnéticos enfraquecidos sobre crescimento, comportamento e ritmos biológicos.
Segundo os pesquisadores envolvidos, a inclusão das planárias representa uma evolução na complexidade dos modelos utilizados nas pesquisas em ambiente orbital.
A expectativa é de que os dados obtidos contribuam para o entendimento de processos regenerativos em organismos multicelulares e forneçam subsídios para o desenvolvimento de tecnologias médicas voltadas à regeneração de tecidos e ao tratamento de doenças relacionadas ao envelhecimento.
A estação espacial chinesa tem servido como plataforma para experimentos de longo prazo com organismos vivos. A atual missão da nave Shenzhou-19, acoplada ao módulo central Tianhe, segue operando normalmente.
A imagem da estação, capturada em outubro de 2024 pelo Centro de Controle Aeroespacial de Pequim, reforça a continuidade do programa espacial tripulado da China.
As experiências realizadas no módulo Tianhe fazem parte de uma estratégia científica que visa transformar a estação espacial chinesa em um laboratório orbital permanente.
De acordo com a Academia Chinesa de Ciências, a escolha dos organismos e o desenho experimental seguem critérios específicos voltados à obtenção de dados aplicáveis tanto à biologia espacial quanto a potenciais usos biomédicos em ambiente terrestre.
A pesquisa com planárias será acompanhada por uma equipe multidisciplinar composta por biólogos, engenheiros espaciais e especialistas em bioengenharia.
Os dados obtidos em órbita serão comparados com amostras mantidas em condições controladas na Terra, permitindo a identificação de alterações provocadas exclusivamente pelo ambiente espacial.
A China tem ampliado o escopo de suas missões científicas na estação espacial, com ênfase em biotecnologia, medicina espacial e ciência dos materiais.
O programa inclui ainda testes com culturas celulares, experimentos com microrganismos e observações de fenômenos físicos sob gravidade reduzida. Essas iniciativas integram o esforço do país em utilizar a estação como plataforma para inovação científica e tecnológica.
A presença das planárias na estação espacial ocorre em um momento de expansão do programa espacial chinês. Além das missões científicas em órbita baixa, a China mantém projetos para futuras missões lunares e exploração de Marte.
As pesquisas com organismos vivos são consideradas uma etapa essencial para o desenvolvimento de missões de longa duração e para a viabilidade da presença humana contínua fora da Terra.
Com o experimento envolvendo planárias, o país amplia a diversidade de modelos biológicos utilizados em pesquisas orbitais e busca novas respostas sobre os efeitos do espaço em organismos multicelulares. A análise desses dados pode influenciar futuras abordagens científicas nas áreas de saúde, longevidade e biologia regenerativa.
A previsão é de que os resultados iniciais do experimento sejam divulgados nos próximos meses, após a conclusão da missão em curso e o retorno das amostras à Terra.
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