O governo caminha em uma linha cada vez mais tênue, e a desvalorização está no horizonte. O clima de incerteza na cidade de Buenos Aires é extremamente denso.
O governo caminha em um fio cada vez mais tênue e a desvalorização está no horizonte. Na semana passada, ele garantiu um limite para que os dólares financeiros não ultrapassem 1.300 pesos, o Congresso autorizou o decreto para assinar um acordo com o Fundo Monetário Internacional, e agências como a Bloomberg informaram ao mercado que os recursos esperados do FMI ultrapassariam US$ 20 bilhões. No entanto, o clima de incerteza na cidade de Buenos Aires é extremamente denso.
As declarações da equipe econômica sobre a estabilidade da taxa de câmbio oficial para os próximos meses não estão convencendo os investidores. O Banco Central continua perdendo dólares e os investidores percebem que haverá um salto na moeda mais cedo ou mais tarde. A expectativa de desvalorização é latente por uma razão simples. O Fundo pode enviar bilhões de dólares ao governo, mas com essa política de valorização da moeda, eles terão vida curta.
As importações estão aumentando, o superávit comercial está se tornando insignificante e a conta corrente está no vermelho há meses. O mercado estima que haja o equivalente a US$ 120 bilhões em moeda local que poderiam alimentar uma corrida cambial, e a busca por proteção está aumentando. Dois dados concretos podem ser observados especificamente que mostram indícios da desconfiança.
Desconfiança
A primeira é que as transações de futuros de dólar cresceram em volume nos últimos dias, e espera-se um salto de mais de 8% para o dólar oficial em abril e maio, um número bem acima da meta mensal de 1% estabelecida pelo governo para correção da taxa de câmbio. Enquanto isso, as negociações futuras do dólar para dezembro deste ano o colocam em 1.378 pesos. Isso representa um aumento de quase 34%, que supera em muito as intenções da equipe econômica e, se alcançado, pressionaria a inflação.
O mercado coloca desta forma: “Se até poucos dias atrás era lucrativo vender dólares oficiais e investir em títulos denominados em pesos, agora é exatamente o oposto.” As posições de carry trade estão começando a fechar, e isso está alimentando a sensação de incerteza e volatilidade.
O segundo elemento que demonstra desconfiança é que as reservas internacionais continuam a cair. O Banco Central acumula vendas diárias no valor de centenas de milhões de dólares para sustentar a taxa de câmbio oficial. Na semana passada, as intervenções ultrapassaram US$ 1 bilhão, e as reservas internacionais despencaram em mais de US$ 1,4 bilhão no mesmo período. Pagar importações e dívidas é letal para os cofres do Banco Central.
Da perspectiva do governo, é apenas uma questão de tempo até que essa situação se reverta. No segundo trimestre do ano, a colheita de soja começaria a ser liquidada e, ao mesmo tempo, os dólares do Fundo poderiam começar a entrar. Milei confirmou nos últimos dias que o acordo seria finalizado em meados de abril, e há especulações de que os desembolsos podem começar em maio.
Os valores do acordo seriam assustadores e poderiam até ultrapassar US$ 20 bilhões. A Bloomberg informou que o FMI se reunirá na próxima semana para finalizar o número. Seria uma reunião oficial como prelúdio para a reunião oficial em meados do mês que vem. Até lá, o conselho de administração do Fundo e sua equipe técnica já teriam acertado os detalhes.
O mercado, no entanto, não parece entusiasmado com esse desenvolvimento porque está começando a perceber que o problema subjacente não pode ser resolvido com recursos do FMI e que todos os caminhos levam a um ajuste cambial.
Uma desvalorização que poderia ocorrer a pedido explícito da organização internacional, que nas últimas semanas tem sido apontada como determinada não apenas a abrir os controles cambiais, mas também a implementar um sistema de banda flutuante para permitir que a taxa de câmbio oficial flutue. Ou pode acontecer devido à própria pressão do mercado, que esgota permanentemente as reservas e ficará receptivo à moeda estrangeira proveniente do acordo com o FMI.
Publicado originalmente pelo Página 12 em 23/03/2025
Por Federico Kucher
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!