A Iniciativa Cinturão e Rota, principal projeto de infraestrutura internacional promovido pela China, voltou ao centro das discussões estratégicas diante da nova configuração da política externa dos Estados Unidos.
A orientação isolacionista adotada pelo governo do presidente Donald Trump tem sido apontada por analistas como um fator com potencial para alterar o equilíbrio geopolítico e favorecer a ampliação da influência chinesa em diversas regiões.
A política “América em primeiro lugar”, retomada após o retorno de Trump à presidência em janeiro, tem como um de seus primeiros alvos os projetos de conectividade global liderados por Pequim.
A ofensiva inclui medidas voltadas à contenção do avanço da presença econômica e diplomática chinesa em regiões consideradas estratégicas para Washington.
Entretanto, especialistas indicam que a redução do engajamento norte-americano nas estruturas multilaterais pode gerar efeitos contrários aos pretendidos, ao criar lacunas que favorecem a expansão da atuação chinesa.
Segundo essa leitura, ao se afastar das instâncias tradicionais da governança internacional, os Estados Unidos deixariam de exercer o papel de articuladores da ordem global e passariam a representar um elemento de instabilidade, com impactos sobre o sistema de cooperação estabelecido no pós-Segunda Guerra Mundial.
Analistas destacam que esse movimento pode provocar um cenário de competição aberta entre grandes potências, em que projetos como a Iniciativa Cinturão e Rota ganham novo impulso, em meio à redefinição de alianças e rotas de investimento.
A iniciativa chinesa, que abrange obras de infraestrutura, portos, ferrovias, estradas e corredores logísticos, tem sido o principal instrumento de projeção internacional do país nas últimas duas décadas.
Ainda assim, observadores alertam que, mesmo com o possível enfraquecimento do papel dos Estados Unidos, os interesses externos da China continuarão sujeitos a pressões e resistências, especialmente em regiões onde a influência norte-americana permanece significativa.
O Indo-Pacífico e a América Latina são apontados como áreas onde a presença chinesa enfrenta maior contestação, tanto por parte de governos locais quanto por meio de iniciativas coordenadas por Washington.
A ascensão da China no sistema internacional tem sido interpretada por autoridades norte-americanas, tanto do Partido Republicano quanto do Partido Democrata, como uma tentativa de modificar as regras da ordem existente.
Formuladores de políticas nos Estados Unidos acusam Pequim de buscar reestruturar normas globais a partir de sua agenda nacional e construir zonas de influência econômica e estratégica por meio de instrumentos como investimentos, parcerias bilaterais e acordos comerciais.
Essa visão tem sido compartilhada por aliados tradicionais dos Estados Unidos, que veem a expansão da Iniciativa Cinturão e Rota como parte de um esforço sistemático para ampliar o alcance global da China.
O projeto tem sido acompanhado por iniciativas paralelas, como o aumento da presença chinesa em instituições financeiras multilaterais e o fortalecimento de instrumentos como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB).
Desde o início de seu segundo mandato, Trump tem reiterado que conter o avanço da China é uma das prioridades da política externa norte-americana.
Entre as ações mencionadas estão a retomada do controle sobre ativos estratégicos, como o Canal do Panamá, e até mesmo propostas de aquisição territorial, como a já mencionada tentativa de negociação com a Dinamarca para adquirir a Groenlândia.
Essas iniciativas refletem a perspectiva do atual governo dos Estados Unidos de que o combate à influência chinesa deve ocorrer por meio de medidas diretas e ações unilaterais, em contraste com a abordagem multilateral adotada por administrações anteriores.
A retirada ou enfraquecimento da participação dos EUA em organismos internacionais tem sido acompanhada por uma estratégia de fortalecimento de mecanismos bilaterais, voltados à contenção da atuação de Pequim em setores como comércio, segurança e infraestrutura.
Diante desse cenário, analistas apontam que a competição entre Estados Unidos e China deve se intensificar nos próximos anos, com impactos diretos sobre os fluxos globais de investimento, logística e infraestrutura.
A capacidade de adaptação das economias emergentes e a reorganização das alianças políticas regionais serão fatores determinantes para o desdobramento desse processo.
A Iniciativa Cinturão e Rota, nesse contexto, permanece como um dos principais instrumentos geoeconômicos da China. Sua continuidade dependerá da capacidade do país em manter investimentos, assegurar parcerias e gerenciar os riscos associados à crescente contestação internacional de sua presença global.
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!