O governo do Japão avalia a instalação de mísseis de longo alcance na ilha de Kyushu, no sudoeste do país, com o objetivo de ampliar sua capacidade de resposta diante de potenciais ameaças militares na região do Indo-Pacífico.
A medida é parte de uma estratégia de fortalecimento das chamadas “capacidades de contra-ataque”, com foco em possíveis cenários envolvendo o Estreito de Taiwan e a Coreia do Norte.
As informações foram divulgadas pela agência de notícias Kyodo no último domingo (16), com base em fontes do governo japonês.
Segundo o relatório, a implantação dos mísseis está prevista para ocorrer em março de 2026, como parte das ações de reforço da segurança nas Ilhas Nansei, também conhecidas como arquipélago Ryukyu, cadeia de ilhas que se estende até a região próxima a Taiwan.
O governo japonês avalia possíveis locais em Kyushu para a instalação dos armamentos. De acordo com a Kyodo, duas áreas estão entre os principais candidatos: as guarnições do regimento de mísseis terra-navio da Força de Autodefesa Terrestre do Japão em Yufu, na prefeitura de Oita, e a cidade de Kumamoto.
Os mísseis que devem ser utilizados fazem parte de uma versão aprimorada do modelo superfície-navio Tipo-12, com alcance estendido para até 1.000 quilômetros. Com esse alcance, a infraestrutura instalada em Kyushu poderá atingir alvos na Coreia do Norte e em áreas do litoral da China continental.
A iniciativa tem sido interpretada por analistas como uma resposta ao aumento das tensões na região, especialmente em torno de Taiwan e das disputas territoriais no Mar da China Oriental.
Segundo especialistas, a localização estratégica de Kyushu poderá permitir ao Japão restringir o acesso de embarcações chinesas ao Pacífico Ocidental em eventual situação de conflito.
Stephen Nagy, professor de política e estudos internacionais na International Christian University, em Tóquio, afirmou que o movimento japonês busca estabelecer dissuasão diante de um possível avanço militar chinês na região do Estreito de Taiwan.
“O Japão está enviando uma mensagem de que haveria custos significativos se Pequim lançasse uma operação militar através do Estreito de Taiwan, ou dentro e ao redor das Ilhas Diaoyu”, declarou Nagy.
As Ilhas Diaoyu, conhecidas no Japão como Senkaku, são um grupo de ilhas desabitadas localizadas no Mar da China Oriental. O território é objeto de disputa entre China e Japão, com ambas as nações reivindicando sua soberania.
Ainda segundo Nagy, a decisão do governo japonês também está relacionada à aliança militar com os Estados Unidos. Para o pesquisador, o Japão busca demonstrar comprometimento com a segurança regional e com os compromissos assumidos no âmbito da cooperação bilateral em defesa.
“O Japão está tentando mostrar a Washington que leva a segurança a sério e está assumindo sua parcela justa do fardo dentro da aliança”, afirmou.
A movimentação japonesa ocorre em um contexto de intensificação das atividades militares chinesas nas proximidades de Taiwan. O governo de Pequim tem conduzido manobras com forças aéreas e navais nas imediações da ilha, que considera parte integrante de seu território.
Além disso, ações classificadas como operações de “zona cinzenta” têm sido registradas com frequência, envolvendo patrulhas e incursões que não configuram conflito armado direto, mas buscam pressionar adversários estratégicos.
O Ministério da Defesa do Japão tem reiterado sua preocupação com o aumento da presença militar da China no Mar da China Oriental e no entorno de Taiwan.
Em documentos recentes, o governo japonês tem citado o risco de incidentes que possam comprometer a estabilidade regional e afetar rotas de navegação comercial e linhas de comunicação.
A ampliação do alcance dos mísseis Tipo-12 faz parte de um pacote mais amplo de modernização das capacidades de defesa do país.
O plano de segurança nacional atualizado pelo Japão em 2022 já previa o desenvolvimento de armamentos com maior raio de ação, incluindo sistemas que permitam resposta rápida em caso de ataques a territórios japoneses ou aliados.
A instalação dos novos mísseis deverá ser acompanhada por ajustes logísticos e operacionais nas bases militares envolvidas. Também está em avaliação a ampliação da infraestrutura de suporte para os sistemas de lançamento e monitoramento.
O projeto ainda depende de definições finais sobre os locais exatos de instalação e aprovação orçamentária nos próximos ciclos fiscais. A expectativa é que o governo finalize os detalhes técnicos até o fim de 2025, com início das operações a partir do ano seguinte.
Com informações do SCMP
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