O vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, afirmou que as empresas ocidentais que interromperam suas operações no país o fizeram por iniciativa própria, e não por determinação das autoridades russas.
A declaração foi feita em resposta a uma pergunta da agência estatal TASS, divulgada nesta quinta-feira, 20.
“Nós não expulsamos ninguém, eles mesmos partiram, alguém sob pressão de seus governos, alguém por medo, alguém em solidariedade aos neonazistas”, disse Medvedev.
O ex-presidente russo afirmou ainda que a saída das companhias estrangeiras ocorreu por diferentes razões, mas que o retorno delas ao mercado russo será um processo complexo. Segundo ele, o contexto atual impõe desafios à reentrada dessas empresas no país.
Medvedev relembrou declarações feitas anteriormente, nas quais já havia antecipado as dificuldades futuras que companhias estrangeiras enfrentariam caso decidissem deixar a Rússia. “A vida provou que essas eram palavras verdadeiras”, declarou.
Ele citou publicações feitas em março de 2022, pouco após o início da ofensiva militar russa na Ucrânia, em que já apontava para a possibilidade de um ambiente desfavorável ao retorno dos investidores estrangeiros ao mercado russo, independentemente do motivo da retirada.
O movimento de saída de empresas internacionais do território russo se intensificou após a deflagração da guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.
Diversas multinacionais anunciaram a suspensão de operações, fechamento de unidades, cancelamento de contratos ou venda de ativos locais. A decisão foi acompanhada de sanções econômicas impostas por países ocidentais contra a Rússia.
Setores como tecnologia, energia, varejo, alimentação e transporte foram impactados pela retirada de grupos estrangeiros.
Em muitos casos, os ativos foram transferidos a empresas russas ou nacionalizados. A legislação local também foi modificada para facilitar a substituição de fornecedores internacionais por operadores domésticos.
O governo russo tem adotado medidas para conter os efeitos da saída dessas companhias, estimulando a substituição de importações, reorganizando cadeias de produção e incentivando parcerias com países considerados aliados estratégicos.
Medvedev, que ocupou a presidência da Rússia entre 2008 e 2012 e o cargo de primeiro-ministro até 2020, atua atualmente como um dos principais porta-vozes da linha política do Kremlin em temas de segurança e relações internacionais.
Suas declarações reiteram a posição do governo russo de que o impacto das sanções e da saída de empresas estrangeiras pode ser neutralizado com medidas internas e reorientação da política econômica.
O vice-presidente do Conselho de Segurança não detalhou quais obstáculos específicos dificultariam o eventual retorno de empresas ocidentais ao país.
No entanto, analistas consideram que fatores como mudanças no marco regulatório, a substituição de marcas estrangeiras por concorrentes locais e o atual contexto geopolítico tendem a tornar esse processo complexo.
Desde o início do conflito na Ucrânia, Moscou tem reforçado o discurso de autossuficiência econômica e fortalecimento das relações comerciais com países da Ásia, Oriente Médio, África e América Latina. Em paralelo, autoridades russas mantêm críticas recorrentes às sanções e à postura de empresas que optaram por se retirar do mercado russo.
Organizações empresariais e câmaras de comércio têm acompanhado os desdobramentos da saída das multinacionais e avaliado os impactos nos investimentos estrangeiros diretos. Em alguns setores, o espaço deixado pelas empresas ocidentais tem sido ocupado por companhias de outras origens ou por novos grupos empresariais russos.
O futuro da presença internacional no mercado russo permanece incerto, em meio à continuidade do conflito, ao endurecimento das sanções e à adoção de novas diretrizes econômicas no país.
A avaliação de Medvedev se insere nesse contexto e reforça o posicionamento de que a reintegração de empresas estrangeiras, caso ocorra, deverá enfrentar restrições e barreiras adicionais.
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