Relatórios recentemente desclassificados do governo dos Estados Unidos revelam informações sobre a Operação Mongoose, ação da Agência Central de Inteligência (CIA) iniciada em 1961 com o objetivo de desestabilizar o governo cubano e eliminar o então líder Fidel Castro.
Os documentos foram divulgados após decisão do ex-presidente Donald Trump, que determinou a liberação de arquivos sigilosos relacionados ao assassinato do presidente John F. Kennedy.
Entre os registros disponibilizados está um memorando datado de 31 de maio de 1962, que descreve os métodos empregados pela CIA como parte da estratégia da Operação Mongoose.
O relatório apresenta ações coordenadas que incluíam operações de espionagem, campanhas de propaganda, pressões econômicas e a tentativa de promover dissidência interna no país caribenho.
De acordo com o documento, a espionagem era um dos principais recursos utilizados pela agência norte-americana.
A estratégia previa o recrutamento de agentes locais e a infiltração de equipes operacionais da CIA em território cubano. O relatório menciona que o objetivo era coletar informações e realizar ações encobertas para enfraquecer o aparato estatal e comprometer o funcionamento das estruturas de poder.
Além disso, a operação previa ações voltadas à desestabilização econômica de Cuba. Entre os pontos abordados, está a imposição de medidas destinadas a dificultar o acesso a recursos e insumos, com a finalidade de impactar negativamente a produção e a distribuição de bens essenciais.
O memorando também menciona o uso de propaganda como ferramenta para influenciar a opinião pública interna e internacional.
A estratégia de comunicação incluía a disseminação de informações que buscavam retratar supostos “abusos de poder” por parte das autoridades cubanas, além de alegações sobre o “fracasso de programas-chave, como os médicos e os alimentares”.
O conteúdo do relatório indica que as mensagens seriam direcionadas à população cubana, com o intuito de ampliar o descontentamento social e fomentar questionamentos sobre a legitimidade da liderança local.
Outro ponto destacado no documento diz respeito às tentativas de criar rupturas na estrutura de comando do governo cubano.
A operação previa esforços para “fraturar” a liderança, incentivando a deserção de figuras consideradas influentes no regime. A CIA pretendia explorar eventuais divergências internas e promover o afastamento de indivíduos com posições estratégicas, com o objetivo de fragilizar a coesão política no país.
O relatório também aborda a formação de grupos de resistência interna. Segundo o documento, o plano incluía o recrutamento de ativistas cubanos que atuariam na organização de movimentos opositores, com ações coordenadas para gerar instabilidade e promover atos de contestação ao governo vigente.
A intenção era fomentar a criação de células de dissidência com capacidade de mobilização e articulação política.
A Operação Mongoose foi oficialmente autorizada pelo presidente John F. Kennedy em 1961, no contexto da Guerra Fria e da crescente tensão entre os Estados Unidos e o regime socialista cubano, alinhado à União Soviética.
A iniciativa foi conduzida sob a supervisão do Departamento de Defesa e da CIA, com a colaboração de outros órgãos de inteligência norte-americanos.
O conjunto de ações descritas no relatório faz parte de uma das mais amplas tentativas do governo dos Estados Unidos de interferir no curso político de Cuba, poucos meses após a fracassada tentativa de invasão da Baía dos Porcos, em abril de 1961.
A Operação Mongoose foi concebida como uma estratégia mais abrangente e sistemática de contenção da influência cubana no hemisfério ocidental.
Os documentos agora divulgados integram o acervo de arquivos relacionados ao assassinato de Kennedy, cuja investigação histórica envolve diferentes teorias e conexões com operações de inteligência da época.
A liberação desses registros tem sido alvo de atenção por parte de pesquisadores, historiadores e analistas políticos, que buscam compreender os desdobramentos da política externa norte-americana durante aquele período.
Embora os relatórios detalhem ações planejadas e executadas, não há informações nos documentos que confirmem o sucesso efetivo das medidas descritas. A maior parte das iniciativas da Operação Mongoose permaneceu sob caráter sigiloso por décadas, e parte dos resultados operacionais ainda é objeto de debate entre estudiosos do tema.
A divulgação dos arquivos ocorre em meio a esforços contínuos para promover maior transparência sobre eventos históricos envolvendo o governo dos Estados Unidos e suas operações de inteligência durante o século XX.
As informações contidas nos documentos revelam aspectos da política externa norte-americana e contribuem para a reconstituição de iniciativas que marcaram o período de confrontos ideológicos e geopolíticos entre potências globais.