O Brasil foi responsável por quase um terço dos eventos climáticos extremos registrados na América do Sul em 2024, de acordo com relatório divulgado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência especializada das Nações Unidas.
O documento, publicado na quarta-feira, 19, aponta que o país concentrou três dos nove episódios considerados sem precedentes no continente.
Segundo o relatório, 2024 foi o ano mais quente desde o início das medições, há 175 anos, com aumento de 1,5°C na média global em comparação à era pré-industrial.
A OMM atribui parte dos impactos a esse aquecimento, relacionando o avanço das mudanças climáticas ao aumento da frequência e intensidade dos eventos extremos.
Entre os casos registrados no Brasil, o relatório cita a tragédia provocada pelas chuvas intensas no Rio Grande do Sul, a seca prolongada no Centro-Norte e a onda de calor registrada em agosto. A OMM aponta que esses eventos refletem padrões atmosféricos associados ao agravamento das mudanças climáticas.
Chuvas intensas no Sul
O relatório destaca o episódio ocorrido em maio no Rio Grande do Sul como exemplo de evento climático extremo.
A análise técnica da OMM aponta que a formação de uma área de baixa pressão atmosférica, combinada com a chegada de uma frente fria, gerou instabilidades que resultaram em volumes elevados de precipitação.
Caxias do Sul registrou acumulado de 845,3 mm de chuva, número superior à média esperada de 131,4 mm. A cidade foi uma das mais atingidas. Em Santa Maria e Soledade, os volumes chegaram a 213,6 mm e 249,4 mm, respectivamente.
A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estimou prejuízos de R$ 3,7 bilhões para o setor agrícola do estado. Aproximadamente 1,4 milhão de pessoas foram afetadas pelo evento climático, de acordo com os dados compilados no relatório da OMM.
Seca prolongada e incêndios no Centro-Norte
Outro ponto abordado pela OMM é a estiagem registrada desde abril em regiões do Centro-Norte do Brasil. Segundo o relatório, a seca de 2024 superou em intensidade a ocorrida em 2023. Os estados do Amazonas, Pará, Mato Grosso e São Paulo apresentaram os maiores impactos.
O Pantanal enfrenta a pior seca dos últimos 70 anos, conforme o levantamento. O relatório também destaca a queda dos níveis dos rios na Amazônia, o aumento da temperatura média da região e a ampliação das áreas atingidas por incêndios florestais.
A OMM atribui a propagação dos focos de incêndio à combinação de altas temperaturas, baixos índices de umidade e vegetação seca. Grandes extensões de áreas naturais foram atingidas. O documento também menciona o agravamento das condições de transporte fluvial e abastecimento de água em diversas localidades.
Onda de calor em agosto
A terceira ocorrência de destaque mencionada no relatório da OMM é a onda de calor registrada entre os dias 16 e 23 de agosto de 2024. Durante esse período, diversas cidades brasileiras ultrapassaram os 41°C.
Cuiabá, no Mato Grosso, registrou 42,2°C, enquanto Porto Nacional, no Tocantins, alcançou 41,1°C. As temperaturas superaram os recordes anteriores para o mês, apontando alteração no padrão climático sazonal.
A OMM considera esse tipo de evento compatível com os efeitos do aquecimento global e destaca o impacto sobre a saúde pública, o consumo energético e a segurança hídrica.
Impactos sociais e apelo por medidas preventivas
Além dos efeitos ambientais e econômicos, o relatório apresenta dados sobre os impactos sociais dos desastres climáticos registrados no país. Em 2024, aproximadamente 824,5 mil pessoas foram deslocadas de suas residências em função de eventos extremos, número considerado o maior desde 2008.
O relatório aponta ainda 1,7 mil mortes e mais de 1 milhão de pessoas feridas em decorrência de episódios associados às mudanças climáticas. A OMM afirma que os dados reforçam a necessidade de ampliar investimentos em sistemas de alerta precoce e serviços meteorológicos.
“O fortalecimento das capacidades de prevenção e resposta é essencial para reduzir perdas humanas e econômicas”, afirma o documento. A agência das Nações Unidas defende que políticas de adaptação climática sejam incorporadas às estratégias nacionais de desenvolvimento.
Tendências globais
O relatório insere os eventos registrados no Brasil em um contexto mais amplo de transformação climática global. A OMM alerta que os padrões observados em 2024 indicam tendência de elevação contínua das temperaturas médias e maior ocorrência de eventos extremos em escala internacional.
O documento conclui que os dados evidenciam a urgência de ações coordenadas para mitigar os impactos das mudanças climáticas. A agência recomenda o fortalecimento de políticas públicas, cooperação internacional e adoção de metas climáticas em conformidade com os acordos multilaterais vigentes.
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