O Departamento de Comércio dos Estados Unidos determinou a proibição do uso do modelo de inteligência artificial chinês DeepSeek em dispositivos governamentais.
A informação foi divulgada por meio de comunicado interno aos funcionários nas últimas semanas, conforme revelou a agência Reuters.
A medida tem como objetivo, segundo o comunicado, “ajudar a manter os sistemas de informação do Departamento de Comércio seguros”.
De acordo com a reportagem da Reuters, a extensão da proibição em âmbito governamental ainda não está clara.
A agência afirma ter tido acesso à mensagem e ouvido duas fontes familiarizadas com o assunto. O Departamento de Comércio foi contatado para comentar sobre a decisão, mas não respondeu até o momento da publicação da matéria.
O governo dos Estados Unidos já vinha avaliando medidas semelhantes desde o início do mês. Em 7 de março, a Reuters havia noticiado que autoridades norte-americanas estavam analisando a possibilidade de barrar o uso do DeepSeek por motivos relacionados à segurança nacional.
A discussão ocorre em meio a preocupações sobre o avanço tecnológico da China no campo da inteligência artificial.
O modelo DeepSeek, desenvolvido por empresas chinesas, é disponibilizado sob código aberto. Especialistas afirmam que, por essa razão, uma proibição teria mais efeito simbólico do que prático.
Li Baiyang, professor associado de estudos de inteligência na Universidade de Nanquim, declarou ao jornal estatal Global Times que a natureza aberta da ferramenta torna complexa a sua restrição total.
“O DeepSeek faz parte de um vasto ecossistema de código aberto online. Os Estados Unidos proibiriam tudo construído sobre o DeepSeek?”, questionou o professor.
A decisão dos Estados Unidos foi criticada pelo governo chinês. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, afirmou em entrevista nesta terça-feira, 18, que Pequim “se opõe à ampliação excessiva do conceito de segurança nacional e à politização de questões comerciais e tecnológicas”. Segundo ela, a China continuará defendendo os direitos e interesses legais de suas empresas.
A possível restrição ao DeepSeek ocorre em meio a movimentações de parlamentares norte-americanos por políticas voltadas à contenção da influência tecnológica da China.
Segundo o site GeekWire, a senadora Maria Cantwell sugeriu, nesta semana, a criação de uma estrutura internacional de regulamentação tecnológica, nos moldes de uma “OTAN tecnológica”, com a participação de países como Estados Unidos, Índia e Japão.
Cantwell propôs que as nações signatárias dessa iniciativa estabeleçam regras comuns sobre privacidade e eliminação de backdoors governamentais em produtos tecnológicos.
“Ninguém no mundo deveria comprar tecnologia de empresas que não atendem a esses padrões”, afirmou a senadora.
Segundo ela, essa seria uma alternativa ao uso de recursos públicos para retirar empresas chinesas do mercado, como ocorreu com a Huawei.
A parlamentar também criticou o uso de tarifas comerciais como forma de enfrentamento.
“Acreditamos que a inovação importa mais do que tarifas em uma disputa sobre quem liderará setores como aeroespacial, agricultura ou software”, disse Cantwell.
“É como se estivéssemos em uma corrida de cavalos, mas o presidente quer colocar 25 libras em nosso cavalo e dificultar.”
Especialistas chineses consideram que a proposta enfrenta obstáculos de implementação, sobretudo diante dos esforços de países europeus, como Reino Unido e França, em desenvolver modelos soberanos de inteligência artificial.
Segundo Li Baiyang, tais países priorizam o crescimento tecnológico independente, o que reduziria a viabilidade de uma cooperação internacional com foco exclusivo em medidas restritivas contra a China.
Além disso, a proposta de Cantwell foi interpretada por analistas chineses como parte de uma estratégia política voltada à manutenção da retórica de contenção da China.
Um especialista ouvido pelo Global Times, que não foi identificado, afirmou que a iniciativa reforça uma “mentalidade anti-China” e busca reformular o discurso da “ameaça chinesa” com novos elementos políticos e tecnológicos.
A discussão sobre a regulamentação de modelos de inteligência artificial de origem chinesa reflete tensões comerciais e geopolíticas mais amplas entre Estados Unidos e China.
O DeepSeek, enquanto ferramenta de código aberto, tem sido utilizado por desenvolvedores em diferentes países, inclusive nos Estados Unidos.
Segundo Li Baiyang, a tentativa de restringir o uso do modelo pode gerar efeitos adversos. “Com os avanços tecnológicos e a natureza aberta da inteligência artificial, qualquer tentativa de limitar esse progresso pode falhar ou até produzir efeitos contrários”, afirmou.
O caso segue sem pronunciamento oficial do Departamento de Comércio dos EUA sobre a abrangência e duração da medida. Também não há informações sobre eventuais iniciativas semelhantes em outros órgãos do governo norte-americano.
Com informações do Global Times
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!