Parlamentares republicanos e representantes do setor privado intensificam esforços para manter os créditos fiscais voltados à energia limpa, estabelecidos durante a gestão do presidente Joe Biden.
A medida ocorre em meio à pressão do ex-presidente Donald Trump, que defende cortes orçamentários e propõe a revogação dos incentivos, incluídos na Lei de Redução da Inflação de 2022.
Os créditos fiscais têm sido considerados fator determinante para a expansão de investimentos em energia renovável nos Estados Unidos.
De acordo com o The New York Times, os incentivos atraíram bilhões de dólares em projetos voltados à geração solar, eólica e outras fontes alternativas, com impacto significativo em distritos sob controle do Partido Republicano.
A proposta de eliminação dos subsídios, defendida por Trump e apoiadores no Congresso, encontra resistência dentro da própria legenda.
Parte dos parlamentares republicanos articula para manter os mecanismos de incentivo, argumentando que os projetos beneficiados pelos créditos têm gerado efeitos diretos na economia regional.
“O cumprimento das promessas de campanha do presidente Trump de trazer de volta a manufatura e levar a sério a produção de energia nacional exige uma abordagem abrangente para essas questões”, declarou o deputado Andrew Garbarino, um dos congressistas envolvidos nas tratativas para preservar os benefícios fiscais.
Segundo dados da Agência Internacional de Energia, os investimentos em energia limpa nos Estados Unidos ultrapassaram US$ 315 bilhões em 2024. A análise da consultoria Atlas Public Policy indica que aproximadamente 80% desses recursos foram destinados a distritos republicanos.
Entre os projetos citados estão fábricas de baterias no Sudeste, instalações de mineração de lítio no estado de Nevada e parques eólicos no Texas.
Os incentivos tributários, inseridos na legislação aprovada em 2022, foram estruturados para impulsionar a indústria energética nacional e reduzir custos de produção.
No entanto, Trump defende a revogação da Lei de Redução da Inflação, alegando que os gastos públicos associados à legislação comprometem o equilíbrio fiscal e priorizam políticas que, segundo ele, devem ser revistas.
Organizações do setor energético alertam para possíveis efeitos econômicos decorrentes da revogação dos créditos.
Estudo da Clean Energy Buyers Association projeta que o fim de dois dos principais incentivos fiscais pode provocar um aumento médio de quase 7% na conta de eletricidade residencial até 2026. A estimativa é que o impacto para o consumidor médio supere US$ 110 por ano.
Heather Reams, presidente do Citizens for Responsible Energy Solutions, destacou que os efeitos dos investimentos são visíveis em diversos estados.
“Muitos desses membros têm bilhões e bilhões de dólares investidos em seus distritos. Estamos olhando para os benefícios que isso está trazendo e dizendo: ‘Os dólares e centavos somam’”, afirmou.
O tema é debatido em um cenário de disputas internas na Câmara dos Representantes, onde os republicanos mantêm maioria estreita.
A decisão sobre a continuidade dos créditos fiscais pode depender da pressão exercida por representantes regionais e por grupos empresariais com atuação nos setores de energia e manufatura.
Analistas apontam que o impasse reflete uma mudança na dinâmica partidária sobre políticas ambientais. Enquanto a gestão Trump, entre 2017 e 2021, adotou medidas para desregulamentar setores ligados à produção energética convencional, parte da base republicana atual passou a apoiar incentivos vinculados à energia limpa, diante de seus efeitos econômicos locais.
A divergência evidencia a formação de alianças atípicas entre parlamentares conservadores e lideranças empresariais que operam no segmento de energia renovável.
A manutenção dos créditos é defendida não apenas como mecanismo de incentivo industrial, mas como estratégia de competitividade internacional, especialmente frente a políticas similares adotadas por países como China e União Europeia.
Com o avanço das discussões no Congresso, representantes do setor produtivo e associações empresariais intensificaram a atuação junto aos parlamentares. O objetivo é evitar mudanças na estrutura da legislação tributária que possam comprometer investimentos já em andamento.
Até o momento, não há consenso entre os republicanos sobre a eventual revogação dos dispositivos da Lei de Redução da Inflação. Integrantes da bancada consideram alternativas para reformular os incentivos sem retirá-los integralmente, mas enfrentam resistência de alas mais alinhadas à agenda fiscalista de Trump.
O debate sobre os créditos fiscais ocorre paralelamente à agenda eleitoral de 2024, com o Partido Republicano dividido entre setores que priorizam cortes de gastos e representantes que atuam pela manutenção de benefícios vinculados a resultados econômicos regionais.
Enquanto o Congresso avalia possíveis alterações na legislação, empresas do setor de energia e entidades do mercado financeiro acompanham o processo legislativo com expectativa. A decisão poderá afetar projetos em fase de implantação e influenciar o posicionamento de investidores em segmentos como energia solar, eólica, armazenamento de baterias e produção de hidrogênio.
A discussão sobre o futuro dos créditos fiscais para energia limpa se insere em uma disputa mais ampla sobre o papel do Estado na transição energética dos Estados Unidos e sobre os limites da intervenção governamental no setor produtivo. O desfecho do embate legislativo deve indicar os rumos da política energética norte-americana nos próximos anos.