A ladainha de Trump e Elon Musk de que “restabeleceriam” a liberdade de expressão nos EUA não durou muito. O governo Trump vem trabalhando para punir, deportar e criminalizar estudantes que protestaram contra o genocídio cometido por Isral em Gaza. E agora o próprio Trump quer criminalizar a imprensa corporativa americana por causa das críticas a políticas de seu governo.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, subiu o tom contra a imprensa na sexta-feira (14), durante um discurso no Departamento de Justiça (DOJ), acusando, sem apresentar provas, veículos profissionais de comportamentos ilegais e corruptos.
Durante sua fala, Trump elogiou a juíza distrital da Flórida, Aileen Cannon, nomeada por ele em 2020. Cannon tomou uma decisão favorável ao ex-presidente em janeiro, impedindo o DOJ de compartilhar com o Congresso um relatório sobre o suposto manuseio indevido de documentos confidenciais por parte de Trump.
Trump alegou que a imprensa atacou Cannon por sua decisão e afirmou que isso acontece com frequência com juízes. Segundo ele, os meios de comunicação publicam informações sem questionamento.
“The Washington Post, The Wall Street Journal e MSDNC, além da fake news CNN e ABC, CBS e NBC, eles escrevem o que quiserem,” disse Trump. “E o que fazem para acabar com isso? Condenam Trump.”
“É totalmente ilegal o que fazem,” continuou o ex-presidente, dirigindo-se aos funcionários do DOJ. “Só espero que todos vocês fiquem atentos a isso, porque é totalmente ilegal.”
Trump não especificou a quem se referia ao usar o termo “eles”, mas depois afirmou que CNN e MSNBC são “braços políticos do Partido Democrata.”
“Na minha opinião, eles são realmente corruptos,” disse o ex-presidente.
CNN e MSNBC não comentaram as declarações.
Trump reforça tese de perseguição política
O discurso começou com elogios ao histórico do Departamento de Justiça no combate ao crime organizado. Trump prometeu que, em seu governo, a agência voltará a perseguir “assassinos, chefes do crime e espiões,” além de rastrear “terroristas e traidores” e derrubar “máquinas políticas corruptas por toda a América.”
Trump voltou a afirmar que o governo Biden utilizou o DOJ contra ele. Segundo o ex-presidente, “eles usaram os vastos poderes de nossas agências de inteligência e aplicação da lei para tentar frustrar a vontade do povo americano.”
No entanto, as alegações de Trump são infundadas. Os dois processos federais contra ele foram conduzidos pelo procurador especial Jack Smith, nomeado em novembro de 2022 pelo então procurador-geral Merrick Garland. Embora Garland tenha sido escolhido pelo presidente Joe Biden, isso não prova que o atual presidente tenha interferido diretamente nos processos contra Trump.
Mesmo assim, ao citar exemplos de uma suposta perseguição política, Trump mencionou apenas casos que o envolvem diretamente e teorias conspiratórias populares na extrema-direita, muitas delas enganosas ou já refutadas.
Trump intensifica ataques contra a imprensa
O discurso reforçou a postura histórica de Trump de classificar a imprensa como inimiga do povo.
O ex-presidente processa atualmente o Conselho do Prêmio Pulitzer por ter premiado o Washington Post e o New York Times em 2018 por reportagens sobre a interferência russa na eleição de 2016 e as supostas ligações de sua campanha com Moscou.
Em dezembro, a ABC News pagou um acordo de US$ 15 milhões para encerrar um processo de difamação movido por Trump. A Paramount Global, dona da CBS News, ainda enfrenta uma ação judicial do ex-presidente devido a uma entrevista no programa “60 Minutes” com a então vice-presidente Kamala Harris.
Além disso, Trump mantém uma proibição indeterminada à Associated Press no Salão Oval e no Air Force One, em retaliação ao uso do termo “Golfo do México” pela agência de notícias.
O governo Trump também tem tomado medidas para cortar relações com veículos da grande mídia. Em fevereiro, a secretária de imprensa Karoline Leavitt anunciou que a Casa Branca encerraria assinaturas no valor de US$ 8 milhões do Politico Pro, em resposta a uma teoria conspiratória de extrema-direita.
Na sexta-feira, a NPR informou que a Agência de Mídia Global dos EUA cancelou contratos com as agências AP e AFP e permitirá que seu contrato com a Reuters expire no final de março.
O discurso de Trump deixa claro que essas ações não são medidas isoladas, mas parte de um ataque coordenado contra a imprensa – um embate que o ex-presidente parece determinado a levar adiante.
Tags: Donald Trump, mídia americana, Departamento de Justiça, ataques à imprensa, eleições 2024,
Autor: Liam Reilly
Data: 14 de março de 2025
Fonte: CNN