Relatório aponta avanço da robótica na China como risco estratégico para os EUA

Wang Zhao / AFP

Um relatório publicado nesta semana pela empresa de pesquisa norte-americana SemiAnalysis alerta que o avanço da capacidade de produção automatizada da China representa uma “ameaça existencial” para os Estados Unidos no setor de robótica.

O documento destaca que empresas chinesas de inteligência artificial e automação industrial estão se aproximando dos níveis de seus concorrentes ocidentais e ampliando sua presença global.

De acordo com a análise, a automação baseada em robôs inteligentes permitirá uma expansão significativa da capacidade produtiva em diversas cadeias industriais. A SemiAnalysis avalia que a China é atualmente “o único país que está posicionado” para alcançar automação em larga escala com abrangência em múltiplos setores da economia.

“O esforço de localização da robótica da China está bem encaminhado”, afirma o relatório. O documento observa que a participação dos fabricantes chineses no mercado global de robótica industrial está se aproximando de 50%, um aumento em relação aos 30% registrados em 2020. Segundo a pesquisa, esse crescimento evidencia a consolidação do setor de automação no país asiático.

A SemiAnalysis também aponta que, embora os fabricantes chineses tenham inicialmente se concentrado nos segmentos de menor valor agregado, as empresas locais começaram a se expandir para mercados de alto custo.

“Embora os fabricantes chineses estejam atualmente no mesmo nível dos gigantes ocidentais no mercado de baixo custo, nossa análise da cadeia de suprimentos nos leva a acreditar que as empresas locais estão começando a dominar os segmentos de mercado de alto custo”, diz o relatório.

Um dos destaques mencionados é a Unitree Robotics, empresa sediada em Hangzhou, citada como exemplo da evolução tecnológica da indústria robótica chinesa. A empresa desenvolveu o robô G1, classificado pela SemiAnalysis como “o único robô humanoide viável no mercado”.

O relatório ressalta ainda que o equipamento foi projetado e produzido “inteiramente desacoplado de componentes americanos”.

A análise sugere que, caso a China consiga implementar automação industrial em larga escala sem que os Estados Unidos adotem medidas similares, haverá um desequilíbrio significativo na competitividade econômica global.

“Se a China atingir a automação em larga escala sem que os EUA sigam o exemplo, isso representará uma ameaça existencial para a maior economia do mundo”, afirma o estudo.

Nesse cenário, segundo a empresa de pesquisa, a China se beneficiaria de um aumento expressivo na produtividade e eficiência industrial, apoiada por sistemas de robótica inteligente e autossuficiência tecnológica.

O relatório destaca que a automação pode representar um diferencial estratégico no fortalecimento da capacidade fabril e na reorganização das cadeias globais de valor.

O documento também chama atenção para a crescente independência tecnológica da China no setor de robótica e inteligência artificial. A substituição de componentes estrangeiros por insumos produzidos domesticamente é considerada um passo relevante no esforço de nacionalização da cadeia produtiva.

A SemiAnalysis aponta que os investimentos realizados pela China no setor tecnológico, somados ao desenvolvimento de sistemas próprios de hardware e software, ampliam a autonomia das empresas locais e reduzem a dependência de fornecedores internacionais.

A avaliação apresentada pelo relatório ocorre em um momento de intensificação da disputa tecnológica entre Estados Unidos e China. As duas maiores economias do mundo têm adotado políticas industriais voltadas ao fortalecimento de setores estratégicos, com ênfase em semicondutores, energia, telecomunicações e automação.

Nos últimos anos, os Estados Unidos anunciaram medidas de restrição à exportação de tecnologias sensíveis para empresas chinesas, com o objetivo de limitar o avanço da China em segmentos considerados críticos. O governo chinês, por sua vez, tem promovido programas de incentivo à pesquisa, desenvolvimento e substituição de importações em setores de alta tecnologia.

O relatório da SemiAnalysis reforça a percepção de que o setor de robótica se tornou um dos principais pontos de atenção na disputa geoeconômica global. A capacidade de produção automatizada é vista como fator determinante para a competitividade industrial no médio e longo prazos.

A empresa de pesquisa não propõe medidas específicas para conter o avanço da China, mas sugere que os Estados Unidos devem acelerar iniciativas voltadas à expansão da automação e à modernização da indústria doméstica.

A ausência de uma resposta estratégica, segundo o relatório, pode resultar em perda de participação nos mercados globais e impacto direto sobre a produtividade da economia norte-americana.

Com informações da SCMP

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