China avança na produção de aeronaves de fuselagem larga e busca ampliar presença no mercado global de aviação

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A China intensificou seus esforços para expandir sua presença no mercado global de aviação com o avanço no desenvolvimento de aeronaves de fuselagem larga.

A iniciativa tem como objetivo romper o atual domínio exercido por fabricantes ocidentais, como Airbus e Boeing, e consolidar o país como fornecedor de aeronaves comerciais de longo alcance.

A estratégia é liderada pela estatal Commercial Aircraft Corporation of China (Comac), responsável pela produção dos modelos regionais ARJ21 e dos narrowbodies C919 e C929.

A empresa já recebeu centenas de encomendas de companhias aéreas nacionais para esses modelos, que representam os primeiros passos na tentativa chinesa de estabelecer uma indústria aeronáutica com capacidade de competir em escala internacional.

O foco da Comac agora se volta ao desenvolvimento de aeronaves de maior porte, com capacidade para realizar voos intercontinentais.

Entre os projetos em andamento estão os modelos C929 e C939, que representam a entrada da China no segmento de fuselagem larga, atualmente dominado por aeronaves como o Airbus A350 e o Boeing 777.

Segundo analistas do setor, esses modelos serão fundamentais para que o país amplie sua atuação além das rotas regionais e domésticas.

A produção dessas aeronaves atende a uma demanda crescente do mercado aéreo chinês, mas também responde a interesses estratégicos do governo.

A expansão do setor aeronáutico tem sido tratada como questão de soberania tecnológica, industrial e geopolítica. O país busca reduzir a dependência de fabricantes estrangeiros e aumentar sua autonomia na produção de bens de alta complexidade.

David Yu, professor da Universidade de Nova York em Xangai e especialista em financiamento de aviação, afirma que o desenvolvimento de aeronaves de grande porte possui valor simbólico além do aspecto técnico.

“Não há muitos outros produtos de engenharia além de grandes aviões que sejam tão visíveis, tão reconhecíveis”, disse. “Assim como a América e a Europa, a China tem muitos motivos para desenvolver e voar aeronaves de fuselagem larga nacionais que reflitam seu status e suas ambições.”

O projeto do C929 está em fase de testes e deverá representar a primeira aeronave widebody desenvolvida com predominância de tecnologia chinesa.

Originalmente concebido como um projeto conjunto entre China e Rússia, por meio da parceria entre a Comac e a United Aircraft Corporation (UAC), o programa passou por alterações após divergências sobre gestão, fornecimento de componentes e divisão de responsabilidades.

O modelo C939, por sua vez, está em estágio inicial de desenvolvimento e será voltado para voos de maior distância e capacidade de passageiros superior à do C929. A Comac ainda não detalhou as especificações técnicas completas, nem o cronograma estimado para entrada em operação comercial.

A entrada da China no segmento de aeronaves de fuselagem larga implica desafios técnicos, logísticos e regulatórios.

O processo de certificação internacional será um dos principais obstáculos para a expansão dos aviões chineses no mercado global, especialmente junto a agências reguladoras como a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) e a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA).

A participação da Comac no mercado internacional dependerá também da capacidade de estabelecer cadeias de suprimento eficientes, garantir manutenção e suporte técnico global e construir confiança junto a companhias aéreas fora da Ásia.

Até o momento, a maioria das encomendas da empresa está concentrada em operadoras domésticas ou empresas com vínculos com o governo chinês.

Especialistas do setor indicam que, mesmo com as dificuldades, a China deverá manter sua trajetória de expansão no setor aeronáutico, impulsionada por políticas industriais de longo prazo, investimentos estatais e crescimento da demanda interna por transporte aéreo. Segundo dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), o mercado chinês deve se tornar o maior do mundo até o final da década.

O governo chinês considera a aviação civil um setor estratégico e tem incluído a indústria aeronáutica em seus planos de desenvolvimento tecnológico e industrial.

A Comac atua em parceria com instituições acadêmicas, centros de pesquisa e fornecedores locais para ampliar a capacidade nacional de produção de componentes e sistemas de aviação.

Além dos modelos C929 e C939, a estatal continuará com a produção dos modelos já em operação, como o ARJ21 e o C919. Este último, lançado como concorrente direto do Airbus A320 e do Boeing 737, está em fase de expansão comercial e tem sido utilizado por companhias chinesas em rotas domésticas.

O avanço da indústria aeronáutica chinesa será acompanhado por fabricantes tradicionais, autoridades reguladoras e operadoras aéreas, diante da possibilidade de reorganização das participações no mercado global de aviação comercial nas próximas décadas.

Com informações da SCMP

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