Setor siderúrgico pressiona governo por retomada de cotas após tarifaço dos EUA

REPRODUÇÃO

A indústria siderúrgica brasileira busca articulação diplomática para enfrentar as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos à importação de aço, em vigor desde esta quarta-feira, 12.

O setor solicitou ao governo federal que intensifique as negociações com a administração norte-americana para tentar restabelecer o regime de cotas em vigor desde 2018 e encerrado com a recente medida.

O presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo Lopes, afirmou que o setor espera o apoio do Executivo brasileiro nas tratativas com o governo dos Estados Unidos.

Segundo ele, a proposta é retomar o sistema de cotas que permitia a isenção tarifária para volumes anuais de até 3,5 milhões de toneladas de produtos semiacabados e 687 mil toneladas de laminados.

“Queremos restabelecer esse sistema que estava em vigor desde 2018 e que caiu com a decisão do presidente Donald Trump de sobretaxar o aço”, declarou Lopes após reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e os secretários Rogério Ceron, do Tesouro Nacional, e Guilherme Mello, de Política Econômica.

Lopes alertou para o risco de desvio de comércio, fenômeno que ocorre quando produtos destinados a determinado país são redirecionados para outros mercados em razão de novas barreiras comerciais.

Ele afirmou que o setor acompanha os desdobramentos das tratativas bilaterais e destacou que o ministro Haddad demonstrou disposição para tratar das reivindicações da indústria.

A nova taxação dos Estados Unidos não prevê exceções para o aço e o alumínio importados, afetando diretamente o Brasil. O país exporta mais da metade de sua produção siderúrgica para o mercado norte-americano.

O Instituto Aço Brasil declarou, em nota, que o sistema de cotas anterior beneficiava ambas as partes, ao manter o acesso brasileiro ao principal destino externo do aço nacional e ao atender à demanda das usinas norte-americanas.

Dados do setor indicam que, em 2024, o Brasil respondeu por cerca de 60% da demanda das siderúrgicas norte-americanas por placas de aço, totalizando 5,6 milhões de toneladas exportadas.

A suspensão das cotas e a aplicação de tarifas têm potencial para provocar perdas econômicas significativas, segundo avaliações preliminares.

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima uma redução de US$ 1,5 bilhão nas exportações brasileiras de aço em 2025.

Além disso, o setor projeta uma queda na produção de aproximadamente 700 mil toneladas como consequência da medida adotada pelo governo norte-americano.

A mobilização do setor inclui também a atuação de entidades industriais. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, defendeu o caminho da negociação como alternativa para reduzir os impactos da medida.

“Entendemos que a negociação é o melhor caminho para Brasil e EUA neste momento. Se houver um acordo, a tendência é de que a exportação de aço brasileiro aumente para os Estados Unidos, com um cenário positivo. Entretanto, se o bom senso não prevalecer, haverá consequências para parte da indústria siderúrgica nacional”, afirmou.

A medida dos Estados Unidos reacende a preocupação com a competitividade do setor brasileiro em um cenário internacional marcado por aumento de barreiras comerciais.

O Brasil figura entre os principais exportadores de aço para o mercado norte-americano e enfrenta agora a perspectiva de redução de receita e reconfiguração de seus fluxos comerciais.

Representantes da indústria argumentam que o modelo de cotas anteriormente em vigor proporcionava previsibilidade ao comércio bilateral e garantia fornecimento estável às usinas dos Estados Unidos. A revogação do sistema e a adoção de tarifas são vistas como fator de instabilidade para o setor siderúrgico nacional.

A expectativa do setor é que o governo federal adote medidas diplomáticas para tentar reverter a decisão norte-americana e mitigar os impactos sobre a produção e o emprego no Brasil. A indústria busca apoio institucional para retomar as negociações com a Casa Branca e reestabelecer os termos do acordo encerrado.

Até o momento, o governo brasileiro não se pronunciou oficialmente sobre os próximos passos nas tratativas com os Estados Unidos. O Ministério da Fazenda não divulgou detalhes sobre a reunião com o Instituto Aço Brasil, mas fontes do setor afirmam que o tema deverá ser encaminhado ao Itamaraty e à Secretaria de Comércio Exterior.

A decisão dos Estados Unidos insere-se em um contexto de endurecimento de políticas comerciais em diversos setores estratégicos, o que deve impactar outras cadeias produtivas exportadoras nos próximos meses. A indústria do aço aguarda definições sobre possíveis contrapartidas ou estratégias de compensação para manter a atividade e preservar o mercado externo.

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