A intensificação dos investimentos da China em minerais essenciais na África tem provocado reações em Washington e acelerado uma disputa global por recursos estratégicos.
Segundo dados recentes, empresas chinesas destinaram mais de US$ 10 bilhões à aquisição de ativos de mineração em países africanos como República Democrática do Congo (RDC), Botsuana e Zimbábue.
A atuação chinesa se concentra em minerais como cobalto, lítio e terras raras, considerados fundamentais para a indústria de alta tecnologia, energia renovável e defesa.
A República Democrática do Congo, principal produtor mundial de cobalto e um dos maiores exportadores de cobre, atraiu aproximadamente US$ 1 bilhão em investimentos da China apenas em 2023.
Com esse movimento, a China ampliou sua vantagem na cadeia global de fornecimento desses recursos. Especialistas apontam que, mesmo diante de esforços de outras potências, o país asiático deve manter sua posição de liderança, impulsionado por uma política externa ativa e por acordos bilaterais com governos africanos.
China amplia presença no setor de mineração africano
De acordo com relatório da Brookings Institution publicado na semana passada, a China retomou de forma consolidada suas atividades econômicas no continente africano após o período de interrupção causado pela pandemia de Covid-19.
A análise destaca que, entre 2023 e 2024, o país realizou um movimento estratégico de concentração em ativos de mineração e minerais essenciais.
As operações chinesas envolvem contratos de longo prazo com governos locais e aquisição direta de minas e áreas de exploração.
As negociações foram conduzidas por empresas estatais e privadas, com apoio de mecanismos de financiamento coordenados por bancos chineses.
O objetivo, segundo analistas, é garantir o suprimento contínuo de matérias-primas utilizadas em setores industriais estratégicos, como fabricação de baterias, componentes eletrônicos, turbinas e equipamentos militares.
Estados Unidos tentam ampliar acesso a minerais críticos
Diante do avanço da China, os Estados Unidos intensificaram esforços diplomáticos para buscar acesso a fontes alternativas de minerais estratégicos.
Na semana passada, o Financial Times informou que representantes do governo norte-americano iniciaram conversas com autoridades da RDC para discutir um possível acordo de cooperação.
Segundo a publicação, as tratativas envolvem a possibilidade de os Estados Unidos obterem acesso preferencial a minerais essenciais em troca de apoio militar ao governo congolês. O conteúdo e o formato do acordo ainda estão em discussão e não houve confirmação oficial por parte das autoridades norte-americanas.
A iniciativa norte-americana integra uma estratégia mais ampla de diversificação de fornecedores, diante da dependência crescente das cadeias produtivas globais em relação ao suprimento controlado pela China.
Corrida global por terras raras reorganiza alianças econômicas
A crescente demanda por minerais estratégicos tem provocado a reorganização de acordos econômicos e comerciais entre países produtores e consumidores. A disputa pelo controle das reservas africanas gerou aproximações diplomáticas e negociações bilaterais que visam garantir acesso prioritário a recursos considerados críticos.
Além da China e dos Estados Unidos, países da União Europeia e parceiros asiáticos também buscam estabelecer acordos com governos africanos. A perspectiva é de que, nos próximos anos, a disponibilidade desses minerais exerça influência direta sobre decisões de política externa e de segurança nacional.
Organizações multilaterais e centros de pesquisa alertam para a possibilidade de desequilíbrios comerciais e disputas geopolíticas associadas ao acesso e controle desses recursos.
África se consolida como centro estratégico na cadeia global de suprimentos
A concentração de reservas minerais no continente africano tem elevado a importância da região no cenário internacional. A RDC, em particular, desempenha papel central na oferta de cobalto, mineral utilizado em baterias de veículos elétricos e equipamentos eletrônicos.
Botsuana e Zimbábue, por sua vez, registraram aumento nos investimentos em exploração de lítio e outros minerais críticos. Empresas chinesas atuam nesses países por meio de concessões operacionais e parcerias com mineradoras locais.
Os contratos firmados com empresas chinesas incluem cláusulas de fornecimento exclusivo, o que limita o acesso de outros países aos mesmos recursos. Essa dinâmica tem levado governos ocidentais a revisar suas políticas de relacionamento com países africanos e a propor novos acordos de cooperação em infraestrutura, segurança e comércio.
Especialistas preveem manutenção da vantagem chinesa
Analistas avaliam que a China continuará à frente na disputa por minerais essenciais, devido à sua capacidade de investimento, estrutura de financiamento estatal e presença consolidada em países produtores. O país opera com planejamento de longo prazo e atua com múltiplos instrumentos econômicos e diplomáticos.
O avanço norte-americano, segundo os especialistas, dependerá da rapidez e da eficácia na negociação de novos acordos. A pressão por diversificação de fornecedores e o aumento da demanda global por minerais estratégicos tornam o tema uma das principais prioridades das agendas econômicas internacionais.
A disputa por controle e acesso a minerais críticos deve continuar a moldar as relações comerciais e diplomáticas nos próximos anos, com implicações diretas sobre a configuração da indústria global de energia, tecnologia e defesa.
Com informações da SCMP