Por Yang Song *
Atualmente, estão em andamento as chamadas “Duas Sessões” na China. No relatório de trabalho do governo, o premiê Li Qiang destacou as políticas abrangentes adotadas em 2024, enfatizando fortemente o avanço rumo a “empregos de qualidade” e pleno emprego. Na Terceira Sessão Plenária do 20º Comitê Central do Partido Comunista da China, realizada em 2024, definiu-se que a promoção de empregos de boa remuneração, condições estáveis e oportunidades de crescimento (ou seja, “empregos de qualidade”) e o alcance do pleno emprego seriam objetivos centrais das futuras políticas de trabalho do país.
Este texto explica o conceito de empregos de qualidade e pleno emprego, mostra as conquistas da China e suas principais medidas políticas, além de oferecer reflexões relevantes para a economia global — que enfrenta várias pressões de desaceleração.
Definindo empregos de qualidade e pleno emprego
No âmbito macroeconômico, alcançar empregos de qualidade e pleno emprego requer ampla disponibilidade de vagas, condições justas de trabalho, uma estrutura ocupacional ajustada às demandas do mercado, eficiência na correspondência entre vagas e trabalhadores, além de relações trabalhistas estáveis. Do ponto de vista individual, empregos de qualidade significam não apenas ter um posto de trabalho, mas contar com estabilidade, remuneração adequada, acesso a proteção social e segurança no ambiente de trabalho.
Desde o 18º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, o emprego tem recebido prioridade na governança nacional. Ao implantar uma estratégia que coloca o emprego em primeiro lugar, a China vem mantendo uma estabilidade geral no mercado de trabalho e atingindo níveis próximos do pleno emprego, beneficiando sua população de mais de 1,4 bilhão de pessoas. Alguns pontos de destaque incluem:
- Crescimento constante do emprego urbano: a cada ano, surgem cerca de 13 milhões de vagas nas cidades. Paralelamente, a taxa de desemprego pesquisada nas áreas urbanas tem se mantido em torno de 5,2% nos últimos anos, denotando uma situação próxima ao pleno emprego.
- Otimização da estrutura de trabalho: o setor terciário tornou-se a principal fonte de novos empregos, evoluindo de 36,1% dos postos de trabalho em 2012 para 47,1% em 2022.
- Apoio consistente a grupos-chave: desde 2012, mais de 19,47 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade para conseguir emprego conquistaram uma vaga, o que equivale a uma média anual de 1,77 milhão.
- Aumento do nível de qualificação: a parcela de trabalhadores com ensino superior completo ou mais subiu de 12,9% em 2012 para 23,2% em 2021.
- Aprimoramento dos serviços de emprego: o país contava com 28 mil agências de recursos humanos em 2012 e, em 2022, esse número chegou a 63 mil.
Principais estratégias para promover empregos de qualidade e pleno emprego
Para lidar com os desafios econômicos recentes, a China adotou cinco estratégias-chave:
- Priorizar o emprego no conjunto das políticas macroeconômicas
O princípio de “prioridade de emprego” é um pilar das políticas chinesas. Em 2019, o emprego foi elevado ao mesmo nível das políticas fiscal e monetária, visando manter a economia estável, sobretudo em períodos de desaceleração. Nesse contexto, utilizam-se subsídios para preservação de vagas, reduções tributárias e incentivos à contratação, com foco em setores estratégicos e também em pequenas e médias empresas. - Fortalecer mecanismos para assegurar empregos de qualidade e pleno emprego
O governo chinês reconhece que desenvolver sistemas e mecanismos de trabalho é essencial para aprofundar reformas, estimular a expansão econômica sustentável e assegurar oportunidades iguais. Nesse sentido, destacam-se medidas como a criação de um mercado de recursos humanos unificado e padronizado, a eliminação de práticas discriminatórias na contratação e a modernização dos serviços públicos de emprego. Em 2024, por exemplo, o Gabinete Geral do Comitê Central do PCC e o Conselho de Estado publicaram as Opiniões sobre a Implementação de uma Estratégia de Prioridade de Emprego para Promover Empregos de Qualidade e Pleno Emprego, enfatizando direitos iguais e a remoção de barreiras que impeçam a plena inserção profissional. - Desenvolver capacitações e criar incentivos
Grandes programas de formação buscam suprir a falta de profissionais em setores como manufatura e serviços. Ao mesmo tempo, estão sendo estruturados sistemas de remuneração baseados em competências, para recompensar aqueles que se destacam pela dedicação, especialização ou inovação. - Proteger grupos em situação de vulnerabilidade
Esforços especiais voltam-se a graduados universitários, veteranos, migrantes vindos das áreas rurais e pessoas que saíram da condição de pobreza, além de iniciativas específicas para trabalhadores mais velhos, pessoas com deficiência e desempregados de longa duração. - Salvaguardar direitos e interesses dos trabalhadores
Garantir os direitos trabalhistas não só contribui para alcançar empregos de qualidade e pleno emprego, mas também melhora o bem-estar da população. Na era da economia digital, o premiê Li Qiang enfatizou a necessidade de reforçar a proteção dos profissionais em regimes flexíveis e modalidades de trabalho emergentes, bem como ampliar projetos-piloto de cobertura de acidentes ocupacionais.
Conclusão
A experiência chinesa mostra que, ao incorporar a prioridade ao emprego na política macroeconômica, pode-se fortalecer a resiliência dos mercados de trabalho. Com políticas mais ajustadas, serviços ampliados e a garantia de direitos trabalhistas, a China oferece um modelo de atuação para enfrentar os desafios relacionados ao emprego em uma conjuntura global cada vez mais complexa.
*Yang Song é professor da Escola de Economia e Pesquisador na Academia Nacional de Desenvolvimento e Estratégia, Universidade Renmin da China.

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