Brics ainda enfrenta resistência de países que não querem abandonar o dólar

AGêNCIA BRASIL

O ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, afirmou que o país não possui “absolutamente nenhum interesse” em enfraquecer o dólar americano e que os países do grupo Brics ainda não chegaram a uma posição comum sobre um eventual sistema de pagamento alternativo.

A declaração foi feita durante evento no think tank britânico Chatham House, em Londres, na última semana.

A fala de Jaishankar ocorreu durante visita oficial de seis dias ao Reino Unido e à Irlanda. O chanceler indiano classificou o dólar como uma “fonte de estabilidade econômica internacional” e declarou que a Índia “nunca teve problemas” com a predominância da moeda norte-americana nas transações globais.

Ele acrescentou que não há intenção, por parte do governo de Nova Déli, de buscar uma substituição do dólar como principal moeda de referência internacional.

As declarações respondem a preocupações levantadas por autoridades dos Estados Unidos sobre eventuais esforços dos países do Brics — grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — para desenvolver um sistema financeiro alternativo ao atual modelo baseado no dólar.

O presidente dos EUA, Donald Trump, fez reiterados alertas sobre iniciativas que, segundo ele, poderiam comprometer o papel da moeda americana no comércio e nos fluxos financeiros globais.

Jaishankar também destacou as relações bilaterais entre Índia e Estados Unidos, classificando-as como positivas e em processo de aprofundamento.

O ministro afirmou que o diálogo entre os dois países permanece sólido em áreas como comércio, tecnologia e defesa.

A possibilidade de um sistema financeiro alternativo tem sido discutida entre integrantes do Brics, especialmente em razão da crescente preocupação de alguns dos países membros com a dependência do dólar em transações internacionais.

A proposta tem ganhado visibilidade nos últimos anos, impulsionada principalmente por iniciativas da China.

Desde a crise financeira de 2008, o governo chinês tem promovido o uso do yuan em acordos internacionais, assinando dezenas de contratos de swap cambial com países parceiros. O objetivo dessas iniciativas é viabilizar operações comerciais com base nas moedas locais, reduzindo a necessidade de conversão para dólares.

Apesar desses esforços, a participação do yuan nas transações comerciais globais permanece limitada quando comparada à do dólar.

Dados recentes indicam que a moeda chinesa tem avançado de forma gradual, mas sua utilização continua fragmentada em diversos mercados. O dólar, por sua vez, mantém a posição de principal moeda de referência no comércio internacional e nos mercados financeiros.

Internamente, setores dos países que integram o Brics têm manifestado interesse em explorar alternativas ao sistema atual, citando questões como sanções financeiras, volatilidade cambial e dependência de instituições financeiras sediadas em países ocidentais.

Ainda assim, não há consenso no grupo sobre a implementação de um sistema conjunto ou sobre qual moeda seria adotada em eventual substituição.

Jaishankar ressaltou que qualquer debate sobre a criação de um mecanismo alternativo entre os países do Brics ainda está em estágio inicial.

Segundo ele, “não existe uma proposta finalizada, tampouco uma posição comum” entre os membros do bloco sobre o formato ou a viabilidade de um sistema multilateral de pagamentos desvinculado do dólar.

O ministro também abordou a relação com a China, apontando sinais de aproximação, embora tenha indicado que há desafios em curso. As relações entre os dois países seguem marcadas por disputas geopolíticas, especialmente na região fronteiriça do Himalaia, além de divergências comerciais.

A Índia tem mantido posição independente em sua política externa, buscando preservar vínculos estratégicos com diferentes blocos econômicos e potências globais. Ao mesmo tempo, participa das discussões internas do Brics sobre integração financeira, mas sem comprometer a estrutura atual de suas relações econômicas com países ocidentais.

A fala de Jaishankar evidencia a postura da Índia de manter estabilidade em suas relações econômicas internacionais, evitando conflitos diretos com os Estados Unidos e reforçando seu papel de equilíbrio dentro do Brics. A ausência de uma posição unificada do bloco também indica que a criação de um sistema financeiro alternativo não deverá ocorrer no curto prazo.

Com informações do SCMP

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