Tarifaço de Trump contra México e Canadá provoca colapso na cadeia alimentar dos EUA

GPO/Fotos Públicas

As tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos canadenses e mexicanos estão impactando a cadeia de abastecimento alimentar entre os dois países.

Em resposta, o Canadá anunciou medidas retaliatórias que incluem taxas de 25% sobre US$ 20,9 bilhões em produtos americanos, como suco de laranja, café e frutas.

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, avalia a possibilidade de ampliar as tarifas, atingindo setores como carne bovina e suína. Apesar de um recuo parcial por parte dos Estados Unidos, há a possibilidade de que as tarifas sejam restabelecidas em abril, afetando ainda mais o setor agrícola.

Dependência comercial e impactos

A relação comercial entre os dois países envolve forte interdependência no setor agrícola. O Canadá importa grande parte de suas frutas e vegetais dos Estados Unidos, enquanto os americanos compram carne bovina, suína e produtos do mar do Canadá.

No entanto, 76% das exportações canadenses têm os EUA como destino, enquanto menos de 20% das exportações americanas seguem para o Canadá, o que coloca os produtores canadenses em situação mais vulnerável.

A campanha “Compre Canadense”, que busca incentivar a substituição de produtos importados dos Estados Unidos, enfrenta dificuldades devido à falta de alternativas locais em quantidade suficiente.

Impacto no setor de carne suína

A cadeia produtiva de carne suína exemplifica a integração entre os dois mercados. O produtor John Nickel, de Manitoba, exporta cerca de 3 mil leitões semanalmente para fazendas nos Estados Unidos, onde são engordados e processados. Com as tarifas, ele prevê dificuldades na manutenção do modelo de negócios.

O Meio-Oeste dos EUA, principal região de criação suína, depende dos produtores canadenses para suprir sua demanda de leitões. Além disso, a proximidade das fazendas americanas às plantações de milho facilita a alimentação dos animais, dificultando a realocação da produção.

Caso as tarifas sejam mantidas, a cadeia produtiva canadense precisaria de uma reestruturação significativa, o que demandaria tempo e investimentos. A província de Manitoba, por exemplo, não tem infraestrutura suficiente para absorver toda a produção nacional, o que poderia gerar impactos no setor.

Tarifas sobre frutas e vegetais

As novas tarifas também afetam a importação de frutas e vegetais pelo Canadá. Dados do “Canada Food Flows” indicam que 67% dos vegetais e 36% das frutas importadas pelo país são provenientes dos Estados Unidos. Produtos como espinafre e alface são majoritariamente importados da Califórnia e do Arizona, sem alternativas viáveis de fornecimento.

O pesquisador Kushank Bajaj destaca que a dependência do Canadá dos EUA é resultado de décadas de relações comerciais e que a diversificação de fornecedores levaria tempo.

Para itens perecíveis, como morangos, a logística de transporte é um fator determinante. A importação desses produtos de outros países poderia aumentar os custos e comprometer a qualidade.

George Pitsikoulis, CEO da Canadawide Fruit Wholesalers Inc., afirma que a substituição de produtos americanos não é simples, pois muitos itens cultivados no México passam por armazéns nos EUA antes de serem enviados ao Canadá, o que os torna sujeitos a tarifas ao ingressar no território americano.

Impacto estrutural e desafios logísticos

Especialistas alertam que a reconfiguração da cadeia de abastecimento é um processo longo e custoso. O professor Sunderesh Heragu, da Oklahoma State University, explica que a substituição de fornecedores exige tempo e investimentos consideráveis, além de negociações comerciais.

Igor Rikalo, CEO da o9 Solutions, ressalta que a globalização criou redes de fornecimento interligadas e que qualquer tentativa de ruptura pode resultar em impactos financeiros e operacionais significativos.

A disputa tarifária entre os dois países introduz incertezas para produtores e consumidores e pode afetar uma das relações comerciais mais consolidadas do mundo. Se as tarifas forem mantidas ou ampliadas, ambos os países poderão enfrentar aumento de preços, escassez de produtos e mudanças estruturais no setor alimentício.

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