Síria: Dezenas de mortos em pior onda de violência pós-Assad

Karam al-Masri/REUTERS

Civis que integram minoria religiosa ligada a Assad teriam sido executados em retaliação a uma série de ataques contra agentes do governo de transição. Observatório Sírio condena “massacre”.

Dezenas de integrantes da minoria religiosa alauíta foram executados na Síria em meio a confrontos na zona costeira do país que eclodiram nesta quinta-feira (06/03) entre apoiadores do ditador deposto Bashar al-Assad e forças de segurança do novo governo, informou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (SOHR, na sigla em inglês).

A ONG baseada no Reino Unido afirma que a onda de violência deixou mais de 220 mortos, sendo 134 civis alauítas, grupo religioso do qual Assad faz parte. Eles teriam sido executados em retaliação a uma série de ataques e emboscadas, atribuída a homens leais a Assad, contra agentes do governo de transição.

É a pior onda de violência que o país recém-emancipado enfrenta desde o fim da era Assad. Em dezembro de 2024, seu regime foi derrubado por uma aliança de grupos rebeldes liderada pelo islamista Ahmed al-Sharaa, hoje presidente interino.

Desde então, mais de 300 mil refugiados sírios voltaram ao país, segundo a Agência da ONU para Refugiados (Acnur). Al-Sharaa prometeu unir uma Síria devastada por 14 anos de guerra civil e respeitar os direitos humanos, alegando que não permitiria ações de vingança sectária.

O governo sírio não divulgou um número de mortos nem se manifestou oficialmente até agora sobre a violência. Na noite de quinta-feira, o governo enviou reforços às cidades costeiras de Latakia e Tartus, bem como vilarejos próximos de maioria alauíta.

“Massacre”

O especialista sírio em governança e construção da paz da União de Cuidados Médicos e Organização de Socorro Zedoun Alzoubi explica que, embora os confrontos tenham sido iniciados por apoiadores de Assad, a retaliação ultrapassou qualquer resposta razoável.

Os ataques teriam enfurecido apoiadores do atual governo, “que na verdade são opositores de Assad”: “Em muitos casos, o Exército sírio está avançando para parar e prender os responsáveis pelos confrontos. No entanto, o que está acontecendo foi muito além disso: são retaliações e atos de vingança por várias facções que não fazem realmente parte do Exército sírio.”

“Eles estão entrando nas cidades, matando civis e humilhando os habitantes, principalmente da seita alauíta. Portanto, já não é mais o governo contra pessoas leais a Assad.”

À agência de notícias alemã DPA, o chefe do SOHR, Rami Abdulrahman, se referiu às mortes de alauítas como um “massacre”.

O novo governo sírio afirma que nas últimas semanas suas forças têm sido alvo recorrente de ataques por grupos leais a Assad. Os alauítas, porém, também têm relatado ataques. Durante o regime de Assad, a minoria religiosa ocupou cargos de alto escalão no Exército e nas agências de segurança.

Até esta sexta-feira, Jableh e a cidade costeira de Baniyas ainda estavam sob o controle de forças leais a Assad, assim como outros vilarejos alauítas próximos e a cidade natal do ditador deposto, Qardaha, nas montanhas.

Publicado originalmente pelo DW em 07/03/2025

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