Os números do autismo assustam, mas há explicação

Diagnósticos de autismo disparam e intrigam especialistas / Foto: Thiago Gadelha / Diário do Nordeste

Os diagnósticos de autismo aumentam e levantam dúvidas sobre causas e fatores de risco. Entenda o que a ciência já descobriu e como identificar sinais precoces


O transtorno do espectro autista é uma condição neurológica e de desenvolvimento marcada por interrupções na sinalização cerebral que fazem com que as pessoas se comportem, se comuniquem, interajam e aprendam de maneiras atípicas. Segundo a Reuters, os diagnósticos de autismo nos Estados Unidos aumentaram significativamente desde 2000, intensificando a preocupação pública sobre o que pode contribuir para sua prevalência. Aqui está o que você precisa saber.

COMO O AUTISMO É DIAGNOSTICADO?

Não há ferramentas objetivas para diagnosticar o autismo, como exames de sangue ou exames cerebrais. Em vez disso, os diagnósticos são feitos com base em observações e entrevistas.

O termo “espectro” reflete a ampla gama de manifestações possíveis. Algumas pessoas com TEA podem ter boas habilidades de conversação, enquanto outras podem ser não verbais. Algumas podem ser extremamente sensíveis a sons, toque ou outros gatilhos. Algumas podem ter comportamentos ou interesses restritos ou repetitivos. Algumas podem precisar de ajuda com a vida diária, enquanto outras requerem pouco ou nenhum suporte.

A Academia Americana de Pediatria recomenda a triagem de todas as crianças para autismo aos 18 e 24 meses, quando a maioria das crianças começa a mostrar sintomas. No entanto, a idade média do diagnóstico permanece próxima de 4 anos nos EUA e 5 anos globalmente.

QUÃO COMUM É O AUTISMO?

Em 2020, a taxa de autismo nos EUA em crianças de 8 anos era de 1 em 36, ou 2,77%, acima dos 2,27% em 2018 e 0,66% em 2000, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. Um estudo de 2021 na Inglaterra estimou a taxa em crianças de lá em 1,76%, acima dos 1,57% em 2009.

A Organização Mundial da Saúde estima a prevalência mundial em crianças em 1%, acima dos 0,62% em 2012, com a ressalva de que muitos países não têm recursos para identificar casos e relatá-los.

O QUE CAUSA O AUTISMO?

As causas do autismo não são claras. Há especulações generalizadas entre cientistas de que suas características neurológicas podem se desenvolver no útero, quando o cérebro fetal está sendo conectado. Estudos têm vinculado o autismo a fatores maternos na gravidez, e algumas pesquisas sugerem uma ligação com complicações e tempo de parto.

Uma área crescente de pesquisa foca na epigenética – as interações entre fatores genéticos e ambientais. Uma teoria sugere que a exposição de uma mulher à poluição do ar ou contaminantes nocivos antes ou durante a gravidez pode desencadear uma mutação genética que leva ao autismo em seu filho.

Variações genéticas em algumas pessoas com autismo fortalecem a evidência de um componente genético. Entre os distúrbios genéticos ligados a maiores riscos de autismo estão a síndrome do X frágil, o complexo de esclerose tuberosa, a síndrome de Phelan-McDermid e a síndrome de Prader-Willi.

Outros fatores de risco potenciais podem incluir um irmão com autismo, a idade dos pais quando conceberam os filhos, peso muito baixo ao nascer, icterícia no recém-nascido, complicações no útero ou durante o parto, ter uma variedade não saudável de organismos vivendo nos intestinos e distúrbios do sistema imunológico.

Robert F. Kennedy, Jr., indicado pelo presidente eleito Donald Trump para secretário de saúde dos EUA, e outras figuras públicas promoveram uma teoria – contrária às evidências científicas – de que vacinas infantis são uma causa de autismo. A ideia vem de um estudo já desmascarado do pesquisador britânico Andrew Wakefield no final dos anos 1990 que conectou um aumento nos diagnósticos de autismo com o uso generalizado da vacina contra sarampo.

Nenhum estudo rigoroso encontrou ligações entre autismo e vacinas ou medicamentos, ou seus componentes, como timerosal ou formaldeído.

POR QUE AS TAXAS DE AUTISMO ESTÃO AUMENTANDO?

Os pesquisadores atribuem o aumento nos diagnósticos de autismo à triagem mais ampla e à inclusão de uma gama mais ampla de comportamentos para descrever a condição.

Em 2013, especialistas em saúde mental combinaram o que eram três diagnósticos separados – transtorno autista, transtorno de Asperger e transtorno global do desenvolvimento – sob o título de transtorno do espectro autista.

Um estudo de outubro de 2024, com base em dados de reivindicações de seguros dos EUA, descobriu que os maiores aumentos em diagnósticos ocorreram em grupos com baixas taxas de triagem no passado, incluindo adultos jovens, mulheres e crianças de alguns grupos raciais ou étnicos minoritários.

Os pesquisadores também notaram que certos fatores de risco se tornaram mais comuns, como nascer prematuro ou ter pais mais velhos.

EXISTEM TRATAMENTOS?

Não há tratamentos ou curas para o autismo, nem ele pode ser revertido. No entanto, especialistas concordam que o diagnóstico precoce é crucial. A intervenção com medidas de suporte – idealmente antes dos três anos de idade – é crítica para melhorar as habilidades cognitivas, sociais e de comunicação.

Tais medidas podem incluir terapia da fala, terapia ocupacional, treinamento de habilidades sociais, terapia de integração sensorial, recursos visuais, rotinas estruturadas, planos educacionais individualizados, terapia familiar e fornecimento de um ambiente calmo e previsível.

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