O presidente do Panamá, Mulino, acusou Trump de mentir sobre o Canal do Panamá e reforçou que a venda de portos não representa a retomada da hidrovia
O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, acusou seu homólogo americano, Donald Trump, de mentir quando disse aos membros do Congresso que os Estados Unidos estão “recuperando” o Canal do Panamá. Em uma declaração publicada no X nesta quarta-feira (5), Mulino disse que a hidrovia artificial que conecta os oceanos Atlântico e Pacífico “não está em processo de recuperação” por Trump e pelo governo dos EUA.
“Mais uma vez, o presidente Trump está mentindo”, escreveu Mulino no X.
“Rejeito, em nome do Panamá e de todos os panamenhos, esta nova afronta à verdade e à nossa dignidade como nação”, acrescentou Mulino.
Durante o discurso presidencial anual ao Congresso dos EUA na terça-feira, Trump declarou que Washington recuperaria o Canal do Panamá “para aumentar ainda mais” a segurança nacional dos EUA.
“Nós já começamos a fazer isso. Estamos retomando.”
Ele estava se referindo a um acordo anunciado na terça-feira para um consórcio, liderado pela empresa de gestão de investimentos norte-americana BlackRock Inc, para comprar uma participação majoritária na empresa detida por um grupo chinês que opera portos em ambas as extremidades de um dos canais de água mais movimentados do mundo.
Em um documento, a CK Hutchison Holding anunciou que venderia todas as ações da Hutchison Port Holdings e da Hutchison Port Group Holdings para a BlackRock em um acordo avaliado em quase US$ 23 bilhões, incluindo US$ 5 bilhões em dívidas.
O acordo precisa ser aprovado pelo governo do Panamá.
Trump tem falado sobre retomar o Canal do Panamá desde sua campanha, argumentando que os EUA nunca deveriam ter transferido o controle aos panamenhos e que os EUA estavam sendo cobrados a mais por usá-lo.
Desde que retornou à Casa Branca, ele também começou a reclamar que a China controla o canal e não descartou uma invasão militar para retomar o controle dele.
O Panamá afirma ter controle total sobre o canal e que a operação dos portos pelo grupo sediado em Hong Kong não equivalia ao controle chinês sobre a hidrovia e, portanto, a venda privada para uma empresa sediada nos EUA não representaria nenhuma “recuperação” do canal pelos EUA.
Em fevereiro, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, se encontrou com Mulino e insistiu que a China estava exercendo influência sobre as operações do canal.
O Panamá rejeitou que a China tivesse qualquer influência sobre as operações do canal. Pequim também negou consistentemente interferir no canal.
Os EUA construíram o canal no início dos anos 1900, enquanto buscavam maneiras de facilitar o trânsito de embarcações comerciais e militares entre suas costas.
Washington renunciou ao controle da hidrovia para o Panamá em 31 de dezembro de 1999, sob um tratado assinado em 1977 pelo presidente Jimmy Carter. Trump alegou que Carter “tolamente” entregou o canal.
O canal de 80 km (50 milhas) movimenta 5% do comércio marítimo global e 40% do tráfego de contêineres dos EUA.
Com informações de Al Jazeera e agências de notícias*
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