Casa Branca admite diálogo direto com o Hamas

EUA dizem que mantiveram negociações diretas com o Hamas sobre a libertação de reféns americanos / Getty Images

EUA confirmam conversas diretas com o Hamas sobre reféns americanos, enquanto negociações para estender o cessar-fogo enfrentam impasses e ameaças de Israel


Os EUA negociaram diretamente com o Hamas sobre a possibilidade de libertar reféns americanos em suas primeiras conversas diretas com o grupo militante, disse a Casa Branca nesta quarta-feira (5).

A diplomacia direta, conduzida em Doha pelo enviado especial dos EUA para assuntos de reféns, Adam Boehler, ocorre em um momento em que as negociações para estender o cessar-fogo entre Israel e o Hamas ou torná-lo permanente estão estagnadas.

Em resposta a uma pergunta sobre se os EUA tiveram conversas diretas com o Hamas, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse na quarta-feira: “Estas são conversas e discussões em andamento. Não vou detalhá-las aqui. Há vidas americanas em jogo.”

Leavitt disse que os EUA consultaram Israel sobre as negociações e acrescentou que o presidente Donald Trump acredita no “diálogo e em conversar com pessoas ao redor do mundo para fazer o que é do melhor interesse do povo americano”.

Uma pessoa familiarizada com o assunto disse que as discussões abordaram a possível libertação de reféns americanos e o fim da guerra.

Na quarta-feira à noite, o gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu disse: “Israel expressou aos Estados Unidos sua posição em relação às negociações diretas com o Hamas”.

Os EUA há muito evitam conversas diretas com o Hamas, que foi designado como grupo terrorista em 1997.

O Hamas ainda mantém 59 reféns em Gaza, acredita-se que menos da metade deles esteja viva. Cinco são cidadãos americanos com dupla nacionalidade, incluindo um, Edan Alexander, de Nova Jersey, que acredita-se que esteja vivo.

De acordo com autoridades israelenses, o enviado especial dos EUA Steve Witkoff apresentou no último final de semana uma “proposta de ponte” para estender o cessar-fogo atual por mais 50 dias. O acordo dependeria da libertação de metade dos reféns restantes que o Hamas ainda mantinha presos.

O Hamas rejeitou imediatamente a proposta, chamando-a de “manipulação”.

Mediadores internacionais intermediaram uma interrupção de seis semanas nos combates no final de janeiro, durante a qual mais de três dezenas de reféns foram libertados e cerca de 1.500 prisioneiros palestinos foram libertados das prisões israelenses.

A fase inicial da trégua terminou no último fim de semana, embora os combates não tenham recomeçado.

O Hamas permaneceu publicamente firme em sua posição de que a próxima etapa do cessar-fogo terá que ser acordada antes que quaisquer reféns adicionais sejam libertados.

A segunda fase incluiria uma retirada israelense total de Gaza, o fim permanente da guerra e a reconstrução do território destruído.

Em resposta à rejeição da proposta de Witkoff pelo Hamas, Israel suspendeu toda a entrada de ajuda no enclave sitiado no domingo e ameaçou cortar o fornecimento de água e eletricidade antes de uma possível nova ofensiva.

“Israel não permitirá um cessar-fogo sem a libertação de nossos reféns. Se o Hamas continuar sua recusa, haverá mais consequências”, disse Netanyahu.

Os EUA estão pressionando para estender o acordo de cessar-fogo em troca de reféns, que foi negociado por Witkoff e o governo Biden antes de Trump retornar ao cargo.

Analistas disseram que os EUA teriam dificuldades para entregar o que o Hamas queria nas negociações, acrescentando que as conversas com o grupo militante corriam o risco de criar uma divisão entre o público israelense e Washington.

“É difícil imaginar que isso será bem-sucedido porque o que o Hamas quer é que a guerra acabe, o que os EUA não podem controlar, e que os prisioneiros palestinos saiam das prisões israelenses, o que os EUA não podem controlar”, disse Jonathan Panikoff, do Atlantic Council.

“Há riscos significativos em negociar com grupos terroristas porque saber que Washington fará isso os incentiva a repetir suas atividades no futuro”, acrescentou.

Com informações de Financial Times*

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