Ucrânia tenta manter laços com os EUA após Trump suspender ajuda militar

A Ucrânia afirmou nesta terça-feira (4) que fará tudo ao seu alcance para manter relações próximas com os Estados Unidos, após o presidente Donald Trump suspender o envio de ajuda militar a Kyiv. A decisão representa a ação mais drástica até agora na reaproximação entre Washington e Moscou.

Trump tem alterado significativamente a política externa dos EUA em relação à Ucrânia, culminando em um tenso encontro com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy na Casa Branca na última sexta-feira. Durante a reunião, Trump criticou Zelenskiy por, segundo ele, não demonstrar gratidão suficiente pelo apoio norte-americano.

“Trump deixou claro que está focado na paz. Precisamos que nossos parceiros compartilhem desse objetivo. Estamos pausando e revisando nossa ajuda para garantir que ela contribua para uma solução”, disse um funcionário do governo dos EUA.

Impacto no campo de batalha e reações internacionais

O primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, declarou que Kyiv ainda tem capacidade de abastecer suas forças na linha de frente, mas ressaltou que a ajuda militar dos EUA tem sido essencial para salvar milhares de vidas. “Vamos continuar trabalhando com os EUA por meio de todos os canais disponíveis. Nosso único plano é vencer e sobreviver. Se não vencermos, outro escreverá nosso destino”, afirmou.

O Kremlin elogiou a decisão de Trump, classificando a suspensão da ajuda como “o melhor passo possível para a paz”. No entanto, o governo russo ainda aguarda uma confirmação oficial da medida.

Especialistas militares afirmam que a interrupção da ajuda pode ter efeitos progressivos no campo de batalha. No ano passado, quando o Congresso dos EUA bloqueou temporariamente a assistência à Ucrânia, as primeiras consequências foram a escassez de defesas aéreas contra mísseis e drones russos. Posteriormente, as forças ucranianas no leste do país enfrentaram falta de munição de artilharia.

Pressão sobre os aliados europeus

A suspensão da ajuda americana aumenta a pressão sobre os aliados europeus, especialmente Reino Unido e França. Ambos os países prometeram reforçar o apoio militar a Kyiv, e líderes europeus estudam o envio de tropas para garantir um possível cessar-fogo.

O governo francês condenou a decisão de Trump. “Suspender a ajuda militar à Ucrânia torna a paz mais distante, pois apenas fortalece o agressor, que é a Rússia”, afirmou o ministro francês para a Europa, Benjamin Haddad.

O Reino Unido adotou um tom mais cauteloso. “Continuamos comprometidos com a segurança e a paz na Ucrânia”, declarou um porta-voz do governo britânico.

Sensação de traição na Ucrânia

Para muitos ucranianos, a decisão de Trump foi interpretada como uma traição. Oleksandr Merezhko, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Parlamento Ucraniano, declarou que a medida parece uma tentativa de empurrar o país para uma rendição forçada.

“Sim, isso é uma traição, vamos chamar as coisas pelo que são”, disse Olena Bilova, advogada de 47 anos em Kyiv. “Mas espero que a sociedade civil americana e as elites da União Europeia não nos abandonem.”

Diante da nova realidade, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou um plano para ampliar os gastos em defesa na União Europeia, com potencial de mobilizar até 800 bilhões de euros. Os líderes da UE se reunirão em uma cúpula emergencial nesta quinta-feira (7) para discutir o impacto da suspensão da ajuda dos EUA.

Mudança histórica na política externa dos EUA

Desde a invasão russa em 2022, o Congresso dos EUA aprovou cerca de US$ 175 bilhões em assistência à Ucrânia. No entanto, a atual administração Trump suspendeu o envio de US$ 3,85 bilhões em equipamentos militares que já haviam sido autorizados pelo governo Biden.

A guinada na política externa americana, que tradicionalmente tinha como prioridade conter a Rússia, representa uma das maiores mudanças geopolíticas dos últimos tempos. A decisão gerou críticas tanto de democratas quanto de alguns republicanos, mas líderes do Partido Republicano no Congresso ainda não reagiram com firmeza.

“Congelar a ajuda militar à Ucrânia é abrir as portas para que Putin intensifique sua agressão contra civis inocentes”, afirmou a senadora democrata Jeanne Shaheen.

Possível acordo econômico entre EUA e Ucrânia

Apesar da tensão, Trump sugeriu que um acordo para exploração de minerais na Ucrânia por empresas americanas ainda pode ser viabilizado. A proposta seria assinada na última sexta-feira (1º), mas foi adiada após o embate entre Trump e Zelenskiy na Casa Branca.

Ao ser questionado se o acordo havia sido descartado, Trump respondeu: “Não, eu não acho.”

O vice-presidente JD Vance também se manifestou sobre o tema. Em entrevista à Fox News, ele afirmou que a melhor forma de garantir a segurança da Ucrânia é permitir que os EUA tenham interesses econômicos no país. “Se você quer garantias reais de segurança, a melhor solução é oferecer vantagens econômicas para os americanos no futuro da Ucrânia”, declarou.

Zelenskiy, no entanto, insiste que qualquer cessar-fogo deve incluir garantias explícitas de segurança por parte do Ocidente para evitar novos ataques da Rússia, que atualmente controla cerca de 20% do território ucraniano. Até o momento, Trump não ofereceu nenhuma garantia nesse sentido.

A decisão de Washington marca uma reviravolta nas relações entre os EUA e a Ucrânia e coloca a Europa diante de um desafio estratégico ainda maior.

Por Andrea Shalal e Max Hunder
4 de março de 2025
Fonte: Reuters

Sobre os autores:
Andrea Shalal é correspondente da Reuters em Washington, especializada em política externa e relações internacionais. Max Hunder cobre assuntos relacionados à Ucrânia e Europa Oriental para a Reuters.

Redação:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.