Exclusivo! Raio-X do mercado mundial de café (ou porque o cafezinho está tão caro?)

Durante sua missão oficial à China, em junho de 2024, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, assinou memorandos de entendimento para a promoção do café brasileiro na maior rede de cafeterias da China, a Luckin Coffee, e para a criação de um hub de inovação brasileira em Xangai. As duas iniciativas foram pela Agência Brasileira de Promoção à Exportação (ApexBrasil). Crédito: Divulgação Apex

Quando se fala em inflação de alimentos, um dos primeiros produtos que vem à mente dos brasileiros é o café. 

Nos últimos meses, o preço do café nas gôndolas do supermercado disparou. Claro que varia muito e o consumidor precisa procurar promoções. Por exemplo, fazendo pesquisa aqui para escrever o artigo, encontrei um Pilão de 500 gr por R$ 26,99. Mas o mesmo café no Prix está R$ 41,99, e esse é o preço mais comum. É possível encontrar outras marcas boas por preço mais baixo. Ainda no Pão de Açucar, o 3 Corações 500 g está R$ 30.

De maneira geral, porém, os preços do nosso querido cafezinho explodiram nas últimas semanas, e isso é confirmado pelo IBGE, conforme se pode notar pelos gráfico abaixos, referentes aos preços do café no mercado (ou seja, para consumo em domicílio), e o do café consumido fora de casa. Em ambos, a inflação mensal subiu muito. O início do processo de reajuste começou no início de 2024, até chegar ao pico em janeiro deste ano, quando a inflação do café explodiu 8,34% num único mês. 

Continuo a análise depois dos gráficos.

 

O aumento do preço na prateleira dos mercados reflete o reajuste nos valores pagos ao produtor, conforme se pode verificar no gráfico do Cepea, instituição paulista que monitora as cotações agrícolas.

Segundo o Cepea, o produtor de café recebeu mais de R$ 2.700 por saca de 60 kg, do tipo arábica, em fevereiro deste ano, um aumento de 154% sobre igual período de 2024!

 

A razão disso é a disparada das cotações internacionais do café, que estão no nível mais alto em muitos anos, quiçá em décadas! 

A cotação do café na Bolsa de Nova York chegou a superar a incrível marca de US$ 4 por libra-peso, o que corresponde a um valor de R$ 3.000 por saca de 60 kg. 

 


E qual seria a razão de preços tão altos?

Simples: os estoques mundiais tem caído nos últimos anos, a produção está estagnada nos países produtores, e a demanda global não apenas segue firme como está agora sofrendo a pressão vindo da China. Sim, os chineses estão começando a gostar de café…

Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, o USDA, órgão que monitora a oferta e demanda dos mais variados produtos agrícolas, o consumo mundial de café em 2024/25 chegou a 168 milhões de sacas, um aumento de 3% sobre o ano anterior, apesar de que foi parecido com o de 2021/22.

O consumo de café na China, porém, cresceu bem acima da média global, atingindo 6,3 milhões de sacas, 9% de aumento sobre o ano anterior, ultrapassando de todos os tradicionais consumidores europeus.

Nos últimos 4 anos, o consumo de café na China já subiu 41%! 

Abaixo, mais uma série de gráficos. Eu volto a analisar depois. Não terminou ainda.

   

Abaixo, a primeira projeção da Conab para a produção brasileira de café para 2025 (ou seja, 2025/26) prevê uma produção de . Os números são diferentes das estimativas do USDA. Tradicionalmente, o USDA estima safras maiores para o Brasil, e a Conab é mais conservadora. A USDA ainda não fez uma estimativa para a safra brasileira de café em 2025 (2025/26). 

O café, especialmente o arábica, principal tipo produzido no Brasil, é uma cultura que sofre de bianualidade, ou seja, tem um ano forte e um ano fraco. Para 2025, entramos no ano fraco, e isso também ajuda a explicar a alta dos preços. 

 

            

 

Em suma, os fatores que levaram o preço do café a subir tanto foram os seguintes:

1 – Este ano de 2025 espera-se uma safra menor no Brasil, em virtude dos efeitos da bianualidade. O calor excessivo nas regiões produtoras também vem preocupando alguns especialistas. O café arábica é uma planta sensível a temperatura, e prefere climas tropicais, porém temperados, por isso é muito cultivado em áreas montanhosas ou planaltos.  

2 – Os estoques mundiais de café tem caído bastante nos últimos anos. E o consumo global tem se mantido firme. A China aumentou seu consumo de café em 41% em quatro anos, e em virtude do tamanho da população chinesa, não seria surpresa se essa tendência se acelerasse nos próximos anos. Em 2024, a China consumiu 6,3 milhões de sacas de café. Para se ter uma ideia do potencial da China, considere que as Filipinas, vizinhos do gigante asiático, consumiram 6,55 milhões de sacas. Se o consumo per capita de café na China alcançasse o mesmo nível das Filipinas, o consumo total de café na China seria de 78 milhões de sacas, o que corresponderia a quase 55% das exportações mundiais de café e bem mais do que toda a produção brasileira de café!

Entenderam porque o café está caro?

O lado bom, para o Brasil, é que somos o principal produtor de café no mundo. O café é uma cultura muito mais democrática do que outras, porque há um predomínio de pequenos e médios produtores. Estima-se que o Brasil tenha 300 mil produtores de café, e por aí é possível compreender a quantidade gigantesca de empregos diretos e indiretos gerados pela atividade.

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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