O Partido Social-Democrata (SPD) sofreu uma derrota expressiva nas eleições antecipadas deste domingo (23/02) na Alemanha. Com apenas 16% dos votos, a legenda liderada pelo chanceler Olaf Scholz registrou o pior resultado de sua história em mais de um século.
O resultado reflete a impopularidade do governo Scholz, que enfrentou dificuldades internas, crises econômicas e desafios políticos nos últimos três anos. Em comparação com as eleições de 2021, quando o SPD venceu com 25,7% dos votos, a legenda perdeu quase dez pontos percentuais.
A eleição foi marcada pela ascensão do bloco conservador União Democrata Cristã (CDU), liderado por Friedrich Merz, e pelo crescimento da extrema direita representada pela Alternativa para a Alemanha (AfD). Com o SPD em terceiro lugar, Scholz deverá deixar o cargo de chanceler, mas permanecerá interinamente até que a CDU consiga formar uma coalizão para governar.
Após a divulgação dos primeiros resultados, o secretário-geral do SPD, Matthias Miersch, reconheceu a derrota e parabenizou os conservadores. “Esta é uma derrota histórica, uma noite realmente amarga”, afirmou à emissora ARD.
Pior resultado em mais de um século
A marca de 16% dos votos coloca o SPD em uma posição que não se via desde os primeiros anos da legenda, ainda no século 19. A última vez que o partido havia ficado abaixo de 20% ocorreu nas eleições de 1933, sob o regime nazista, quando a votação foi marcada por repressão e violência política.
Nas últimas décadas, o pior resultado do SPD havia sido em 2017, com 24,6% dos votos. Com a votação deste domingo, a legenda caiu para a terceira posição no Bundestag, algo que não acontecia desde 1887.
Além do impacto para o partido, a derrota torna Olaf Scholz o chanceler social-democrata com o mandato mais curto do pós-guerra. Com pouco mais de três anos no cargo, sua gestão será mais breve do que as de Willy Brandt (4 anos e meio), Helmut Schmidt (8 anos) e Gerhard Schröder (7 anos).
Os desafios do governo Scholz
Scholz assumiu o cargo em dezembro de 2021, após o fim do governo de Angela Merkel (CDU). Como nenhum partido obteve maioria absoluta no Bundestag, ele formou uma coalizão inédita entre o SPD, os Verdes e o Partido Liberal Democrático (FDP).
Desde o início, a aliança enfrentou dificuldades internas, com constantes disputas sobre orçamento, políticas públicas e economia. O governo também lidou com crises como a pandemia de Covid-19, a guerra na Ucrânia, inflação alta e recessão econômica. Em 2024, a economia alemã encolheu 0,2%, e as previsões para 2025 indicam estagnação.
A popularidade do chanceler também seguiu em queda. Em novembro de 2024, sua aprovação era de apenas 14%, um dos índices mais baixos já registrados.
A crise na coalizão atingiu o ápice em novembro, quando o FDP rompeu com o governo. O líder liberal Christian Lindner, então ministro das Finanças, rompeu com Scholz publicamente. Sem os 90 deputados do FDP, a coalizão perdeu a maioria no Parlamento, levando à convocação de eleições antecipadas — originalmente previstas para setembro.
Apesar da crise, o SPD optou por manter Scholz como candidato à reeleição. A estratégia apostava na recuperação da legenda ao longo da campanha, mas os resultados confirmaram o fracasso dessa abordagem.
O futuro da política alemã
Com a vitória dos conservadores, Friedrich Merz deve se tornar o novo chanceler, mas precisará formar uma coalizão para governar, já que a CDU não conquistou maioria absoluta. Até que isso ocorra, Scholz seguirá no cargo interinamente.
As negociações para a formação do novo governo devem se estender pelas próximas semanas. A CDU já indicou que não fará alianças com a AfD, mas precisará encontrar parceiros para garantir estabilidade política na maior economia da Europa.
Jean-Philip Struck | 23/02/2025 | DW