Conservadores vencem eleição alemã e encerram era Scholz

Friedrich Merz, o conservador "anti-Merkel" que liderou a CDU para a vitória na eleição antecipada/ Foto: Kay Nietfeld/dpa/picture alliance

DW – Sob a liderança de Friedrich Merz, a União Democrata Cristã (CDU) volta a formar a maior bancada no Parlamento três anos após o fim do governo Merkel, mas terá que negociar a formação de uma coalizão para governar.

Em meio a uma crise econômica e tensões geopolíticas, os alemães foram às urnas neste domingo (23/02) em eleições legislativas antecipadas para definir os novos membros do Parlamento (Bundestag).

As primeiras pesquisas de boca de urna indicam que a conservadora União Democrata Cristã (CDU), junto com sua parceira bávara União Social Cristã (CSU), foi a legenda mais votada, com cerca de 29% dos votos. Isso fortalece Friedrich Merz como o provável próximo chanceler federal, substituindo o impopular social-democrata Olaf Scholz.

“A esquerda acabou. Não há mais maioria de esquerda e não há mais política de esquerda na Alemanha”, declarou Merz no sábado (22/02) em um comício em Munique.

Apesar da vitória sobre o Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz, a CDU/CSU não garantiu maioria entre as 630 cadeiras do Bundestag. Assim, a legenda precisará negociar alianças para consolidar a ascensão de Merz e garantir a formação de um governo estável, um processo que pode levar semanas. Até lá, Scholz permanecerá no cargo interinamente.

Scholz, que enfrenta altos índices de desaprovação, e o SPD devem obter apenas 16% dos votos – o pior desempenho do partido em mais de um século –, caindo para a terceira posição entre as maiores bancadas do Parlamento, algo que não ocorria desde o século XIX. Com esse resultado, Scholz se tornará o chanceler federal com o mandato mais curto desde a reunificação da Alemanha, permanecendo no cargo por menos de quatro anos.

A segunda maior bancada será da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), que deve alcançar 19,5% dos votos, quase dobrando seu eleitorado em relação à eleição de 2021. A campanha foi marcada por debates sobre imigração, crise econômica e acusações de interferência externa.

Os Verdes, aliados de Scholz na atual coalizão, sofreram uma leve queda, aparecendo com 13,5% dos votos. O partido A Esquerda (Die Linke) registrou 8,5%, revertendo o desgaste dos últimos anos.

O Partido Liberal Democrático (FDP), cuja saída do governo em novembro levou à antecipação das eleições, e a nova legenda populista de esquerda Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) podem não superar a cláusula de barreira de 5%, o que os deixaria fora do Parlamento.

Fase de negociações para formação do governo

Os resultados preliminares indicam que a CDU/CSU recuperou terreno em relação a 2021, quando foi superada pelo SPD. No entanto, os conservadores ainda estão abaixo das marcas alcançadas sob a liderança de Angela Merkel entre 2005 e 2017.

Para assumir o governo, Merz precisará garantir mais de 50% dos votos no Bundestag. Como nenhum partido obteve essa maioria sozinho, será necessário costurar alianças. Na Alemanha, os eleitores votam nos partidos e em candidatos a deputado, e cabe à legenda com mais cadeiras ou maior capacidade de coalizão liderar o governo e indicar o chanceler.

Embora em eleições passadas candidatos tenham chegado à chancelaria sem que seu partido fosse o mais votado, esse cenário é improvável desta vez, devido ao declínio do SPD e ao isolamento da AfD. Como Merz e a CDU/CSU rejeitam aliança com a AfD, é provável que negociem com o SPD e os Verdes para formar um governo estável.

Ascensão de Friedrich Merz

Nascido em 1955 em Brilon, na antiga Alemanha Ocidental, Merz ingressou na CDU ainda adolescente. Formado em Direito, atuou como juiz antes de se tornar eurodeputado em 1989. Posteriormente, foi eleito para o Parlamento alemão.

Merz era parte de um grupo rival ao da ex-chanceler Merkel dentro da CDU e deixou a política em 2009 para atuar no setor privado. Retornou em 2018, à medida que Merkel se aproximava da aposentadoria, e assumiu a liderança do partido em 2021.

Desde então, promoveu uma guinada conservadora na CDU, afastando-se da linha centrista de Merkel. Ele criticou a política de acolhimento de refugiados e se opôs ao fechamento de usinas nucleares decidido por sua antecessora.

Em janeiro, Merz tentou aprovar no Bundestag, com apoio da AfD, um projeto para restringir a imigração, após um ataque a faca cometido por um afegão. O episódio gerou protestos e críticas da ex-chanceler Merkel. Merz minimizou as acusações e reforçou que não pretende se aliar à AfD. Caso se torne chanceler, será o terceiro membro da CDU a chefiar o governo desde a reunificação do país.

Derrota histórica dos social-democratas

Com 16% dos votos, o SPD de Scholz teve uma das piores votações da sua história, quase dez pontos abaixo do resultado de 2021. O partido caiu para a terceira posição no Parlamento, algo que não acontecia desde 1887.

O resultado negativo se compara aos primeiros anos do partido, entre os anos 1870 e 1880, e ao pleito de 1933, quando os nazistas já estavam no poder. Além disso, Scholz se tornará o chanceler com o mandato mais curto desde 1990.

Em dezembro de 2021, Scholz assumiu o governo com uma coalizão inédita entre SPD, Verdes e FDP, após os 16 anos de Merkel. No entanto, a saída do FDP em novembro de 2023 deixou Scholz liderando um governo de minoria, o que levou à antecipação das eleições.

Estagnação dos Verdes e crise dos liberais

Os Verdes, parte da coalizão de Scholz, tiveram uma leve redução, ficando com 13,5% dos votos, contra 14,8% em 2021. Com a campanha dominada por temas econômicos e de imigração, o partido teve dificuldades para destacar sua pauta ambiental.

O FDP, que rompeu com Scholz, corre o risco de ficar fora do Parlamento, com apenas 4,9% dos votos, abaixo da cláusula de barreira de 5%.

Crescimento da extrema-direita

A Alternativa para a Alemanha (AfD) deve praticamente dobrar sua bancada, tornando-se o segundo maior partido do Parlamento, atrás apenas da CDU/CSU. No entanto, a sigla permanece isolada, já que os demais partidos se recusam a formar alianças com ela.

Criada em 2013 como um partido eurocético, a AfD se radicalizou após a crise dos refugiados de 2015-2016, adotando posições extremistas contra a imigração. Seu crescimento foi impulsionado por ataques cometidos por estrangeiros nos últimos meses e contou com apoio externo, incluindo declarações favoráveis de Elon Musk e do vice-presidente dos EUA, J.D. Vance.

Renascimento da esquerda

A Esquerda (Die Linke), que enfrentava um período difícil, surpreendeu ao obter 8,5% dos votos. O partido havia quase desaparecido em 2021, conquistando apenas 4,9% dos votos e escapando da cláusula de barreira por pouco.

A legenda também enfrentou uma crise interna, com a saída de dez deputados para formar um novo partido. No entanto, a campanha ganhou impulso em janeiro, impulsionada por jovens políticos e pelo sucesso de Heidi Reichinnek, deputada de 36 anos, que viralizou no TikTok com críticas a Merz. No mesmo mês, o partido registrou um aumento de 20 mil filiados.

Jean-Philip Struck – Deutsche Welle – 23/02/2025

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