No dia 20 de fevereiro de 2025, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, discursou na reunião dos ministros das Relações Exteriores do G20, realizada em Joanesburgo, África do Sul. Representando a China como membro do Bureau Político do Comitê Central do Partido Comunista Chinês, Wang Yi abordou temas centrais da geopolítica global, enfatizando a necessidade de um mundo mais pacífico, seguro e multilateral.
Seu discurso refletiu o compromisso da China com o fortalecimento da governança global, a resolução pacífica de conflitos e o respeito à soberania dos países. Ele também destacou a importância do G20 como um espaço para promover soluções diplomáticas e fortalecer a cooperação internacional em um cenário de crescente instabilidade e tensões geopolíticas.
A centralidade do G20 na diplomacia internacional
Wang Yi iniciou seu discurso parabenizando a África do Sul por assumir a presidência do G20 e elogiando a organização da reunião. Ele enfatizou que o contexto internacional está marcado por transformações e turbulências, com conflitos regionais e desafios à segurança global se intensificando. Diante disso, o G20 tem um papel fundamental na busca por um mundo mais estável e pacífico.
Segundo Wang Yi, a cúpula do G20 realizada no Rio de Janeiro em novembro de 2024 estabeleceu um compromisso crucial: a construção de um mundo justo e sustentável, por meio do diálogo, da diplomacia e da resolução pacífica de conflitos. Agora, os ministros das Relações Exteriores devem reafirmar esse compromisso e atuar como uma força conjunta pela paz e estabilidade globais.
Ele reforçou que a China está disposta a trabalhar com todas as nações para promover essa visão, propondo três ações fundamentais para alcançar esse objetivo.
1. Defensores da paz global
O primeiro ponto central do discurso de Wang Yi foi a defesa da paz mundial. Ele argumentou que todos os países devem respeitar a soberania e a integridade territorial uns dos outros, além de reconhecer os caminhos de desenvolvimento e os sistemas sociais escolhidos de forma independente. O respeito mútuo é a base para uma coexistência pacífica e para evitar confrontos desnecessários.
Além disso, Wang Yi condenou a interferência em assuntos internos de outros países e alertou contra a crescente polarização geopolítica. Para ele, a prática de blocos rivais e confrontações ideológicas enfraquece a segurança global e amplia tensões desnecessárias. Ele defendeu que os países devem perseverar no diálogo e na negociação como formas primordiais de resolver diferenças e solucionar conflitos políticos e regionais.
Ele também relembrou os Cinco Princípios de Coexistência Pacífica, formulados pela China e outras nações do Sul Global há 70 anos, e afirmou que esses princípios continuam sendo essenciais para a estabilidade global.
2. Construção de uma segurança universal e compartilhada
O segundo ponto do discurso abordou a segurança global como uma responsabilidade coletiva. Wang Yi destacou que a humanidade é uma comunidade com um destino compartilhado e que a segurança de um país não pode ser alcançada às custas da insegurança de outro. Ele criticou políticas unilaterais que favorecem apenas algumas nações e ignoram as preocupações legítimas de outras.
Nesse contexto, ele reforçou a Iniciativa de Segurança Global proposta pelo presidente Xi Jinping. Essa iniciativa propõe um novo modelo de segurança baseado em quatro pilares: segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável. O objetivo é substituir confrontos por diálogo, alianças excludentes por parcerias inclusivas e uma mentalidade de soma-zero por soluções de ganho mútuo.
A China se comprometeu a trabalhar com todos os países para lidar conjuntamente com ameaças tradicionais e não tradicionais à segurança, incluindo desafios como o terrorismo, a cibersegurança e as mudanças climáticas.
3. Defesa do multilateralismo e fortalecimento da ONU
Wang Yi ressaltou a importância do multilateralismo como pilar fundamental da governança global. Ele destacou que 2025 marca o 80º aniversário da criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e da vitória na Segunda Guerra Mundial, eventos que estabeleceram as bases para o atual sistema internacional.
Para Wang Yi, a ONU continua sendo a principal instituição global para garantir a ordem internacional, e seu papel precisa ser fortalecido, não enfraquecido. Ele lembrou que, em 2024, os ministros das Relações Exteriores do G20 lançaram um chamado à ação para a reforma da governança global, com o objetivo de fortalecer o multilateralismo e a influência da ONU.
A China defendeu que essa iniciativa deve ser transformada em ações concretas, garantindo a centralidade da ONU, a ordem internacional baseada no direito internacional e a aplicação das normas fundamentais da Carta da ONU.
Questões globais urgentes: Ucrânia, Gaza e Síria
O discurso de Wang Yi também abordou crises geopolíticas específicas, enfatizando a necessidade de soluções diplomáticas e pacíficas.
Crise na Ucrânia
O ministro chinês destacou que há um crescente apelo global por negociações de paz na Ucrânia e que uma janela de oportunidade está se abrindo. Embora reconheça a complexidade do conflito e as divergências entre as partes, ele defendeu que o diálogo é sempre melhor do que a confrontação e que negociações de paz são preferíveis à guerra.
Wang Yi reafirmou o compromisso da China com uma solução pacífica e destacou os quatro pontos essenciais propostos por Xi Jinping para lidar com a crise. Ele também expressou apoio a qualquer iniciativa de paz, incluindo um possível acordo entre Estados Unidos e Rússia, e encorajou todas as partes envolvidas a buscar um desfecho sustentável e duradouro.
Guerra em Gaza
Sobre a situação em Gaza, Wang Yi denunciou a catástrofe humanitária sem precedentes causada pelo conflito. Ele enfatizou que um novo ciclo de violência deve ser evitado a qualquer custo e que o cessar-fogo deve ser implementado de maneira contínua e eficaz.
Para a China, a governança de Gaza no pós-conflito deve respeitar o princípio de “os palestinos governando a Palestina”, e a solução de dois Estados continua sendo o único caminho viável para resolver a questão. Ele criticou a marginalização histórica da causa palestina e insistiu que a comunidade internacional não pode ignorar essa questão novamente.
Crise na Síria
Wang Yi também mencionou a situação na Síria, destacando que a vontade do povo sírio deve ser respeitada. Ele alertou contra a disseminação de grupos extremistas e defendeu que terroristas violentos não devem encontrar refúgio no território sírio.
O “momento africano” no G20
Encerrando seu discurso, Wang Yi celebrou a inclusão da União Africana como membro pleno do G20 e ressaltou a importância do primeiro encontro do grupo em solo africano. Ele afirmou que a comunidade internacional deve ouvir as vozes da África, respeitar suas preocupações e apoiar suas iniciativas de paz e desenvolvimento.
A China reiterou seu compromisso de apoiar os países africanos na busca por soluções próprias para seus desafios, rejeitando qualquer interferência externa. Wang Yi expressou confiança de que o continente conseguirá alcançar o objetivo de “Silenciar as Armas na África”, promovendo paz e estabilidade duradouras.
Conclusão
Wang Yi concluiu seu discurso citando Nelson Mandela: “É fácil destruir, mas os verdadeiros heróis são aqueles que constroem e fazem a paz.” Com essa mensagem, ele reafirmou o compromisso da China em trabalhar com todas as nações para fortalecer a paz mundial, expandir o consenso diplomático e construir um futuro seguro e próspero para todos.
A íntegra do discurso de Wang Yi pode ser lida aqui.
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