Casa Branca enfrenta falcões europeus e exige na ONU paz imediata na Ucrânia

O líder ucraniano Vladimir Zelensky acompanha a abertura do 79º Debate Geral da Assembleia Geral da ONU / Getty Images / Michael Kappeler

A Casa Branca deu mais uma demonstração de que pretende acelerar a busca por um desfecho para o conflito na Ucrânia. A proposta apresentada na ONU nesta sexta-feira é um movimento que revela a pressa de Washington em encontrar uma solução e coloca os EUA em um confronto diplomático direto com a Europa e a Ucrânia. A iniciativa da administração de Donald Trump pode ser interpretada como uma proposta de paz, mas com um tom agressivo, sugerindo que os EUA estão dispostos a pressionar todas as partes envolvidas para um acordo rápido.

É importante reconhecer que a Casa Branca tem razões morais para isso. A guerra já consumiu milhares de vidas, desestabilizou a economia global e trouxe impactos severos para diversos países. A busca por um fim imediato das hostilidades é legítima, assim como a necessidade de se discutir o levantamento das sanções contra a Rússia para permitir que o comércio mundial volte a fluir normalmente.

Segundo Reuters, os Estados Unidos apresentaram um projeto de resolução na ONU para marcar o terceiro aniversário da invasão russa à Ucrânia, gerando um impasse com uma proposta já elaborada por Kiev e seus aliados europeus. A disputa reflete a tentativa do presidente Donald Trump de intermediar um acordo de paz, o que tem causado preocupação entre líderes europeus e tensão com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy.

O projeto de resolução dos EUA é um texto breve, com três parágrafos, que lamenta a perda de vidas na guerra, reafirma que o principal objetivo das Nações Unidas é manter a paz e a segurança internacional e apela por um fim rápido do conflito, além de incentivar um acordo duradouro entre Ucrânia e Rússia.

Entretanto, a proposta americana entra em choque com um texto alternativo elaborado pela Ucrânia e pela União Europeia, que será votado na Assembleia Geral da ONU na segunda-feira. O documento europeu pede uma redução da escalada do conflito, um cessar-fogo imediato e uma solução pacífica alinhada à Carta das Nações Unidas e ao direito internacional.

A Rússia, por sua vez, propôs uma emenda ao texto dos EUA, solicitando que a resolução mencione explicitamente a necessidade de abordar as causas do conflito. Segundo fontes citadas por Reuters, se essa emenda for aprovada, Moscou poderia apoiar a resolução americana. O embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, descreveu a iniciativa dos EUA como “um bom movimento” e afirmou que foi previamente informado sobre o conteúdo do projeto antes de sua circulação entre os 193 membros da Assembleia Geral.

Os embaixadores da União Europeia na ONU se reuniram para discutir a estratégia após a movimentação dos Estados Unidos. Para a UE, há um temor de que a proposta americana desvie o foco da resolução original da Ucrânia e da Europa, que insiste na retirada das tropas russas do território ucraniano e no cumprimento das resoluções anteriores da ONU que condenaram a agressão russa.

Desde o início da guerra, a Assembleia Geral já adotou seis resoluções relacionadas ao conflito. A mais contundente, aprovada logo após a invasão, obteve 141 votos a favor e condenou “nos termos mais fortes a agressão da Federação Russa”. Outra, em outubro de 2022, teve 143 votos e rejeitou a tentativa russa de anexação ilegal de quatro regiões ucranianas. No entanto, com o prolongamento do conflito, algumas resoluções mais recentes vêm apresentando linguagem menos incisiva contra a Rússia.

O impasse diplomático entre EUA e Europa ocorre em um momento de crescente divergência entre Washington e Kiev. Trump, que busca um acordo rápido para encerrar a guerra, tem enfrentado resistência de Zelenskiy, que teme que a pressão americana possa levar a concessões excessivas à Rússia. O presidente ucraniano rejeitou uma proposta dos EUA que incluía a entrega de 50% das jazidas de minerais estratégicos da Ucrânia a empresas americanas como forma de compensação pelo apoio militar recebido. A recusa aumentou as tensões entre os dois governos, com Trump chamando Zelenskiy de “ditador sem eleições”, após o líder ucraniano afirmar que o presidente americano estava sendo influenciado por desinformação russa.

A disputa sobre as resoluções da ONU também reflete a divisão interna no governo americano sobre a abordagem para a guerra. Enquanto Trump busca um acordo rápido, parlamentares e aliados dos EUA temem que um desfecho apressado possa fortalecer a posição russa e enfraquecer a Ucrânia.

As discussões sobre as resoluções da ONU acontecem às vésperas de uma votação crucial na Assembleia Geral, cujo resultado pode definir o tom da posição internacional sobre a guerra no próximo ano. Enquanto os EUA pressionam por um texto mais neutro e conciliatório, a Ucrânia e a UE querem manter a pressão sobre a Rússia e garantir um compromisso firme da ONU com a integridade territorial ucraniana.

A votação de segunda-feira testará o nível de apoio global a cada uma das propostas e poderá sinalizar o futuro das negociações internacionais para um eventual fim da guerra na Ucrânia.

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