China está substituindo soja dos EUA pela do Brasil, mais barata e sem Trump no meio

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Compradores chineses seguem apostando na soja brasileira em meio a incertezas comerciais com os EUA.

Processadores chineses continuam priorizando a compra de soja brasileira, deixando de lado oleaginosas norte-americanas, diante da perspectiva de que o governo de Donald Trump imponha novas tarifas sobre produtos da China. Desde que Trump reassumiu a presidência dos Estados Unidos, as tensões comerciais voltaram ao centro do debate, levando importadores chineses a reforçar estoques e diversificar fornecedores.

A preferência pela soja brasileira no primeiro trimestre já era uma tendência nos últimos anos, mas a incerteza sobre novas medidas protecionistas nos EUA acelerou esse movimento. Processadores chineses asseguraram praticamente todas as suas cargas do Brasil para embarque no início de 2025, segundo três fontes do setor.

No ano passado, o Brasil já era o principal fornecedor de soja para a China no primeiro trimestre, representando 54% das importações chinesas, enquanto os EUA responderam por 38%. Agora, traders apontam para uma mudança ainda mais significativa.

“Os trituradores chineses estão reservando cargas brasileiras para embarque em fevereiro e março”, afirmou um trader em Cingapura. “Tanto empresas estatais quanto privadas estão adquirindo grãos do Brasil. Basicamente, houve uma migração total para a soja brasileira.”

Impacto das políticas de Trump

O governo Trump já sinalizou sua intenção de elevar tarifas sobre produtos chineses em uma faixa entre 10% e 60%. Caso isso ocorra, Pequim deverá retaliar, impactando setores como o de produtos agrícolas norte-americanos, que dependem do mercado chinês.

Durante a primeira presidência de Trump, os embates tarifários com Pequim levaram a uma reconfiguração no comércio global de soja, com a China reduzindo significativamente sua dependência dos EUA. Em 2016, os EUA respondiam por 40% da soja importada pela China, número que caiu para 18% nos primeiros 11 meses de 2024, enquanto a participação do Brasil subiu de 46% para 74%, segundo dados da alfândega chinesa.

A oferta sul-americana de soja, colhida no início do ano, normalmente domina o comércio global até que os estoques dos EUA entrem no mercado em agosto. No entanto, as compras chinesas de grãos brasileiros aumentaram mais cedo e em maior volume do que o habitual, afetando diretamente as exportações norte-americanas.

Essa tendência deve resultar em um excedente significativo de soja nos EUA. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos estima que o país encerrará o ano comercial 2024/25, em agosto, com um estoque de 10,34 milhões de toneladas métricas — o maior volume dos últimos cinco anos.

Soja brasileira se mantém mais competitiva

Além das tensões comerciais, o preço competitivo da soja brasileira tem sido um fator decisivo para os compradores chineses.

“Os importadores intensificaram as compras no último trimestre de 2024, antecipando possíveis barreiras comerciais com os EUA após a reeleição de Trump”, explicou Lin Guofa, analista sênior da consultoria Bric Agriculture Group.

As condições climáticas favoráveis no Brasil e a desvalorização do real ajudaram a reduzir os custos de produção, tornando a soja brasileira ainda mais atrativa. A diferença de preço entre os grãos do Brasil e dos EUA se ampliou, impulsionada pelas expectativas de uma safra recorde no país sul-americano.

Atualmente, a soja brasileira está sendo vendida a US$ 420 por tonelada, incluindo custos de frete para a China em fevereiro, enquanto os embarques pelo Pacífico Noroeste dos EUA estão na faixa de US$ 451 por tonelada.

Demanda chinesa e estoques elevados

Mesmo com o aumento das compras de soja brasileira, analistas preveem uma leve redução nas importações totais da China no primeiro trimestre, devido ao alto volume adquirido em 2024. As importações devem cair para algo entre 17,3 e 18 milhões de toneladas métricas, contra 18,58 milhões no mesmo período do ano anterior.

“O principal fator é o excesso de oferta de soja importada em 2024. Agora, o mercado aguarda a chegada da nova safra brasileira”, afirmou um analista de Xangai que preferiu não se identificar.

Em 2024, a China importou um volume recorde de 105,03 milhões de toneladas métricas de soja, consolidando sua posição como o maior comprador global. Enquanto empresas privadas intensificam as compras do Brasil, a armazenadora estatal Sinograin continua adquirindo soja dos EUA, preferida para estocagem devido ao seu maior teor de óleo.

A decisão de Pequim sobre futuras compras dependerá do desenrolar das relações comerciais com os EUA nos próximos meses. Mas, por enquanto, os grãos brasileiros seguem dominando o mercado chinês.

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