BBC é criticada por retirar documentário que ‘humanizava crianças palestinas’

Cena do documentário.

A BBC retirou de sua plataforma iPlayer um documentário sobre crianças em Gaza após pressão crescente, principalmente devido ao fato de um dos protagonistas ser filho de um ministro do governo administrado pelo Hamas. A decisão foi duramente criticada por alguns comentaristas, que a classificaram como “covarde”.

[Confira aqui trechos do documentário que a BBC não quer que ninguém assista.]

A controvérsia em torno do documentário Gaza: How To Survive A Warzone (Gaza: Como Sobreviver a uma Zona de Guerra) atingiu seu auge na quarta e na quinta-feira, quando a embaixadora israelense em Londres apresentou queixas à emissora pública britânica. A secretária de Cultura do Reino Unido, Lisa Nandy, também anunciou que discutirá o caso com a BBC.

As críticas se concentraram principalmente na revelação, feita pelo pesquisador David Collier, de que o narrador do documentário, Abdullah Alyazouri, de 13 anos, é filho de Dr. Ayman Alyazouri, vice-ministro da Agricultura em Gaza.

O Middle East Eye investigou o caso e descobriu que Alyazouri tem um histórico acadêmico e técnico, tendo trabalhado anteriormente para o governo dos Emirados Árabes Unidos e estudado em universidades britânicas. Essa informação, no entanto, não havia sido amplamente divulgada na mídia.

Declaração da BBC

Na sexta-feira, a BBC justificou a remoção do documentário da plataforma:

“Gaza: How To Survive A Warzone apresenta histórias importantes que acreditamos que precisam ser contadas, especialmente sobre as experiências das crianças em Gaza. No entanto, surgiram questionamentos contínuos sobre o programa e, diante disso, estamos conduzindo uma revisão mais aprofundada com a produtora. Durante esse processo, o documentário não estará disponível no iPlayer.”

Críticas e defesa do documentário

Ao longo da semana, um grupo de 45 jornalistas e membros da mídia, incluindo a ex-governadora da BBC Ruth Deech, enviou uma carta à emissora exigindo a remoção do documentário. No documento, Alyazouri foi descrito como um “líder terrorista”, já que o Hamas é classificado como uma organização terrorista no Reino Unido.

Por outro lado, diversas vozes saíram em defesa do filme.

Chris Doyle, diretor do Conselho para o Entendimento Árabe-Britânico (CAABU), disse ao Middle East Eye:

“É muito lamentável que este documentário tenha sido retirado devido à pressão de ativistas anti-palestinos, que em sua maioria não demonstraram qualquer simpatia pelas pessoas de Gaza, que sofrem com bombardeios massivos, fome e doenças.”

Doyle também destacou que o documentário “humanizava as crianças palestinas de uma maneira que oferecia percepções valiosas sobre a vida nessa zona de guerra horrível.”

O cineasta e jornalista Richard Sanders, que produziu vários documentários sobre Gaza para a Al Jazeera, afirmou que a situação representa um “grande teste para a BBC.” Ele criticou a decisão da emissora de retirar o filme do ar, chamando-a de “covarde”.

O histórico do vice-ministro Ayman Alyazouri

Ayman Alyazouri, figura central da polêmica, é um químico de formação que atuou como professor de química em uma escola secundária em Dubai.

Seu currículo indica que ele estudou em universidades britânicas, obtendo um mestrado em química analítica na Anglia Ruskin University, em Cambridge, em 2004. Em seguida, fez doutorado em química ambiental analítica na Universidade de Huddersfield, concluindo em 2010.

Entre 2003 e 2011, Alyazouri trabalhou como especialista no Ministério da Educação dos Emirados Árabes Unidos, desenvolvendo materiais didáticos e editando o currículo de ciências.

Em 2011, ele se tornou vice-ministro da Educação em Gaza. Desde julho de 2021, ocupa o cargo de vice-ministro da Agricultura, supervisionando atividades agrícolas, pecuárias e pesqueiras na região, segundo seu perfil no LinkedIn.

A retirada do documentário da BBC reacendeu o debate sobre a cobertura midiática do conflito entre Israel e Palestina, bem como a influência política sobre a liberdade editorial da emissora pública britânica.

Do Middle East Eye.

Redação:
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