Presidente dos EUA chama Zelenskyy de ditador e faz ameaça direta à Ucrânia, intensificando a crise entre Washington e Kiev em meio a ataques e respostas afiados
Donald Trump chamou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, de “ditador” e advertiu que ele “melhor se apressar ou não vai sobrar um país”. A declaração marca uma crescente divergência entre Washington e Kiev. Trump fez a crítica em uma publicação em sua plataforma Truth Social na quarta-feira, horas depois de Zelenskyy acusá-lo de viver em uma “bolha de desinformação” e contestar a alegação de que a Ucrânia deve US$ 500 bilhões em ajuda.
Segundo o Financial Times, o embate ocorre após Trump romper com décadas de política externa dos EUA. Ele convocou conversas bilaterais com Moscou sobre a guerra na Ucrânia, excluindo Kiev, e culpou Zelenskyy pela invasão russa em 2022.
Em sua publicação, Trump fez uma ameaça explícita: “Um ditador sem eleições, Zelenskyy melhor se apressar ou não vai sobrar um país”.
Ele ainda descreveu Zelenskyy como “um comediante modestamente bem-sucedido” que “convenceu os EUA a gastar US$ 350 bilhões em uma guerra que não poderia ser vencida”.
Trump também afirmou: “Esta guerra é muito mais importante para a Europa do que para nós. Temos um grande e belo oceano como separação. [Zelenskyy] se recusa a realizar eleições, está muito mal nas pesquisas ucranianas, e a única coisa em que ele era bom era em manipular [Joe] Biden ‘como um violino’.”
Resposta de Zelenskyy ‘ditador’ e as reações internacionais da ameaça direta de Trump
Em Kiev, Zelenskyy rebateu as críticas de Trump, acusando-o de propagar “muita desinformação vinda da Rússia”. Ele disse: “Infelizmente, o presidente Trump, com todo o respeito, está vivendo nesta bolha de desinformação.”
A declaração foi uma resposta à alegação falsa de Trump de que a Ucrânia iniciou o conflito. “Vocês nunca deveriam tê-lo começado”, disse Trump, sugerindo que a Ucrânia poderia ter feito um acordo.
Zelenskyy também contestou a sugestão de Trump de que eleições deveriam ser realizadas na Ucrânia. Ele citou uma pesquisa do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, que mostrou que 57% dos ucranianos confiam nele. “Se alguém quiser me substituir agora, isso não vai funcionar”, afirmou.
O presidente russo, Vladimir Putin, há muito busca uma mudança de regime em Kiev. Enquanto isso, os comentários de Trump sobre Zelenskyy geraram críticas. O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que é “errado e perigoso negar a legitimidade democrática de Zelenskyy”.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, expressou apoio ao líder ucraniano, chamando-o de “líder democraticamente eleito” e defendendo a suspensão de eleições durante a guerra.
Alegações sobre ajuda financeira e próximos passos
Em sua publicação no Truth Social, Trump fez uma alegação não comprovada: “Zelenskyy admite que metade do dinheiro que enviamos a ele está ‘desaparecido'”. Não ficou claro a que ele se referia, mas Zelenskyy frequentemente destacou que grande parte da ajuda prometida pelos EUA demora a chegar. Ele também contestou a afirmação de Trump de que a Ucrânia deve US$ 500 bilhões em recursos naturais.
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“Os EUA contribuíram com US$ 60 bilhões em armamentos e US$ 31,5 bilhões em apoio orçamentário direto”, disse Zelenskyy. Ele ressaltou que Kiev já gastou US$ 320 bilhões na guerra, com US$ 200 bilhões vindos de assistência militar internacional.
Zelenskyy deve se reunir com Keith Kellogg, enviado de Trump à Ucrânia, na quinta-feira. “É muito importante que a reunião, e o trabalho com os EUA em geral, seja construtivo”, afirmou o presidente ucraniano.
Comentários de Putin e perspectivas futuras
Putin, por sua vez, elogiou as conversas entre EUA e Rússia na Arábia Saudita, dizendo que elas “deram o primeiro passo para retomar a cooperação em questões de interesse mútuo”. Ele afirmou que os negociadores dos EUA estavam “abertos a um processo de negociação sem preconceitos”.
O presidente russo também criticou líderes da UE por “insultarem” Trump durante sua campanha eleitoral, sugerindo que eles são “culpados pelo que está acontecendo”.
Putin disse que se encontraria com Trump “com prazer”, mas ressaltou que qualquer cúpula exigiria preparação. Enquanto isso, a tensão entre Washington e Kiev continua a crescer, levantando dúvidas sobre o futuro das relações entre os dois países.
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