Brasil adere a OPEP+, mas mantém distância de compromissos sobre produção de petróleo

RICARDO STUCKERT/PR

O governo brasileiro anunciou, nesta terça-feira (18), sua adesão ao fórum da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+), o que marca um movimento importante na política energética do país.

No entanto, a decisão não implica a entrada formal na organização, mas sim uma participação nas discussões promovidas pelo grupo, sem compromissos obrigatórios quanto a cortes ou ajustes na produção de petróleo.

A OPEP+ reúne países produtores de petróleo com o objetivo de trocar informações e estabelecer parâmetros para o mercado global do petróleo. O Brasil, que é um dos maiores produtores de petróleo no cenário mundial, optou por participar do fórum, mas sem aderir à política de controle de produção imposta pela organização.

A administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se mostrado cautelosa em firmar compromissos rígidos que possam prejudicar a autonomia do país nas suas relações comerciais.

Em entrevista ao Sputnik Brasil, o doutor em ciência política Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), afirmou que a adesão ao fórum não altera significativamente a política externa brasileira. Gomes destacou que, historicamente, o Brasil tem buscado manter uma postura de flexibilidade nas suas alianças, de modo a preservar sua margem de manobra em termos comerciais.

“Não significa que o Brasil vai integrar a organização. Não é do histórico da política externa brasileira fazer comprometimentos muito severos”, afirmou o especialista.

Segundo ele, a participação no fórum pode trazer benefícios, como a estabilidade dos preços do petróleo, maior acesso a mercados internacionais e uma maior cooperação técnica com outros países produtores.

A adesão ao fórum da OPEP+ gerou discussões internas sobre os rumos da política energética do Brasil. O governo de Lula defende a utilização dos recursos do petróleo para financiar uma transição energética gradual, mas enfrenta críticas, especialmente de setores ambientalistas e de ala mais progressista do Partido dos Trabalhadores (PT).

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e outros políticos ligados à agenda ambiental veem a adesão à OPEP+ como um possível contrassenso aos compromissos climáticos do governo.

Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, foi uma das críticas mais duras à adesão do Brasil ao fórum. Em sua avaliação, a medida é um retrocesso para o governo, que estaria ignorando o agravamento dos efeitos das mudanças climáticas no planeta.

“A adesão do Brasil a qualquer instância da OPEP é mais um sinal de retrocesso do governo. Continuar a abrir novas áreas de exploração de combustíveis fósseis em meio ao calorão que estamos sentindo e ao aumento de eventos extremos no planeta denota negacionismo”, afirmou Araújo.

Para ela, o foco na exploração de petróleo em um momento de crise climática mundial é um erro estratégico.

A questão do uso das reservas de petróleo para financiar a transição energética também gerou debate. Para Araújo, a exploração de petróleo deve ser reduzida gradualmente, e não ampliada, pois isso comprometeria os esforços para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

“Intensificar o uso de fósseis para uma demanda que precisa urgentemente cair é como fazer uma guerra alegando buscar a paz”, criticou Araújo.

Por outro lado, o governo argumenta que a adesão ao fórum da OPEP+ não representa um retrocesso ambiental. Segundo autoridades, a participação permite que o Brasil tenha uma voz mais ativa nas discussões globais sobre a transição energética.

A gestão de Lula defende que o país pode manter sua posição estratégica no mercado de petróleo enquanto promove o avanço de fontes renováveis, como energia solar e eólica. No entanto, especialistas apontam que o Brasil enfrenta desafios estruturais e financeiros para consolidar a transição energética de forma sustentável.

A transição energética é um dos maiores desafios econômicos e tecnológicos do Brasil. Apesar dos avanços nas energias renováveis, como a solar e a eólica, o país ainda depende consideravelmente da exploração de petróleo como fonte de receita. A necessidade de equilibrar o uso de recursos fósseis e a promoção de energias limpas está no centro do debate sobre a política energética do governo.

A adesão ao fórum da OPEP+ e os desdobramentos da política energética do Brasil seguirão sendo um ponto de atenção nos próximos anos. A oposição interna sobre o uso do petróleo, somada às pressões ambientais externas, representa um dos principais desafios para o governo Lula em sua busca por uma transição energética que não prejudique a economia nacional.

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