O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enfrentando a maior crise de popularidade de seus três mandatos, está intensificando suas iniciativas econômicas com a expectativa de reverter o cenário negativo e melhorar sua imagem política, especialmente com o ano eleitoral de 2026 em vista, conforme reportagem do Globo.
Entre as ações do governo, destacam-se o lançamento do programa “Gás para Todos”, a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês, e mudanças no crédito consignado privado, que são vistas como medidas capazes de gerar resultados positivos para o governo nos próximos meses.
Além disso, o governo já implementou a gratuidade completa de medicamentos no programa Farmácia Popular e avançou com o pagamento do Pé-de-Meia, que distribui bolsas a estudantes do ensino médio.
O impacto fiscal de algumas dessas medidas, como a desoneração do Imposto de Renda, é estimado em cerca de R$ 35 bilhões.
Para compensar essa renúncia fiscal, o governo planeja aumentar a tributação sobre as faixas de renda mais altas, uma proposta que ainda enfrenta resistência no Congresso.
Queda na popularidade e respostas econômicas
A pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira apontou uma queda de 11 pontos percentuais na avaliação positiva de Lula, que atingiu 24%, a menor marca desde o início de seus mandatos.
A maior queda foi registrada entre os mais pobres e a população do Nordeste, base tradicional do apoio ao presidente.
A crise do Pix e o aumento da inflação, especialmente dos alimentos, são apontados por aliados como os principais fatores para a queda na popularidade.
Em resposta a esses desafios, o governo tem enfatizado as medidas econômicas, que incluem a reforma no crédito consignado, a isenção do Imposto de Renda para rendas até R$ 5 mil e o programa “Gás para Todos”, que pretende distribuir gás de cozinha para famílias de baixa renda.
Lula mencionou esses projetos em seus discursos, ressaltando a importância do gás como parte da cesta básica e o alto custo de um botijão em algumas regiões, como o Amapá, onde o preço chega a R$ 150.
Medidas já em vigor e outras em breve
A única medida que já está em vigor é a ampliação da lista de medicamentos gratuitos no programa Farmácia Popular.
Recentemente, o Ministério da Saúde anunciou que todos os 41 itens do programa seriam distribuídos sem custo para o público elegível, incluindo fraldas geriátricas e remédios para tratamento de diabetes em casos relacionados a doenças cardiovasculares.
O orçamento do programa para 2025 é de R$ 3,8 bilhões, conforme o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA).
O governo também prevê o envio, antes do Carnaval, das propostas de remodelagem do crédito consignado privado e da isenção do Imposto de Renda. A mudança no crédito consignado deverá ser feita por Medida Provisória (MP) e, segundo a expectativa, pode estar em vigor já em março.
O novo sistema de concessão de crédito, centralizado na plataforma governamental eSocial, deve permitir juros mais baixos e facilitar a análise de risco pelas instituições financeiras, sem a necessidade de convênios bilaterais entre empregadores e bancos.
Desafios e incertezas no Congresso
Um dos maiores desafios do governo está na aprovação das medidas fiscais, especialmente a desoneração do Imposto de Renda. A isenção para quem ganha até R$ 5 mil mensais, que representa um custo fiscal de R$ 35 bilhões, só começaria a valer em 2026, caso seja aprovada este ano.
Para compensar essa renúncia de receita, o governo propôs aumentar a tributação das rendas mais altas, uma medida que enfrenta resistência, especialmente no Congresso. O novo presidente da Câmara, Hugo Motta, já se manifestou contra o aumento de impostos.
A reação do mercado financeiro também foi negativa quando a reforma do Imposto de Renda foi divulgada, gerando instabilidade no câmbio e uma forte valorização do dólar. A equipe econômica, no entanto, acredita que a compensação fiscal proposta será suficiente para convencer os parlamentares e minimizar os impactos negativos.
Programas polêmicos e suas implicações fiscais
Os programas “Gás para Todos” e “Pé-de-Meia” também estão gerando controvérsias. Ambos foram inicialmente concebidos para serem financiados fora do Orçamento, o que permitiria que não fossem limitados pelas restrições do arcabouço fiscal.
O programa “Gás para Todos”, que prevê a distribuição de gás de cozinha para a população de baixa renda, está orçado em R$ 3,5 bilhões para 2025, mas o governo já indicou que a demanda pode elevar esse custo para R$ 10 bilhões.
O “Pé-de-Meia”, por sua vez, também enfrenta dificuldades para ser incluído no Orçamento, após o Tribunal de Contas da União (TCU) exigir que o governo envie um projeto ao Congresso para formalizar o gasto. O impacto financeiro do programa pode atingir R$ 10 bilhões, mas os fundos podem ser usados até a aprovação da proposta.
Cenário político e eleitoral de 2026
Com a aproximação das eleições de 2026, Lula e seus aliados começam a se concentrar na necessidade de resultados rápidos para melhorar sua imagem política.
O governo, ainda que evitando compromissos definitivos, planeja uma possível candidatura de Lula à reeleição. No entanto, a queda na popularidade e as dificuldades políticas enfrentadas nos últimos meses geram incertezas sobre a viabilidade dessa candidatura.
Diante disso, o governo intensifica a implementação de programas sociais e medidas econômicas na tentativa de melhorar a percepção pública, especialmente entre os segmentos mais vulneráveis da sociedade, como as famílias de baixa renda.
A expectativa é que, ao longo dos próximos meses, essas ações possam ajudar a reverter o cenário de desgaste e criar uma base de apoio mais sólida para as eleições de 2026.
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