O presidente russo, Vladimir Putin, declarou nesta terça-feira, 18, que está disposto, “se necessário”, a negociar com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para buscar uma solução para o conflito iniciado há quase três anos.
A declaração foi feita por meio de um porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, e se deu no contexto de um encontro entre diplomatas americanos e russos em Riad, na Arábia Saudita, com o objetivo de restabelecer os contatos diplomáticos entre Moscou e Washington, interrompidos desde a invasão da Ucrânia.
O governo russo reconheceu o direito soberano da Ucrânia de ingressar na União Europeia (UE), mas reafirmou sua oposição à adesão do país à OTAN, a aliança militar ocidental.
Peskov enfatizou que “ninguém tem o direito de ditar a outro país como se comportar”, ao comentar sobre o ingresso da Ucrânia na UE, mas sublinhou que a situação é diferente em relação às questões de segurança e alianças militares.
“Nossa abordagem aqui é diferente e bem conhecida”, completou o porta-voz do Kremlin.
Essas declarações acontecem em meio a negociações mais amplas sobre a segurança na Europa, com Moscou insistindo que uma resolução duradoura para o conflito não pode ser alcançada sem discutir questões de segurança de forma mais abrangente.
“Um acordo de longo prazo, um acordo viável, é impossível sem uma revisão abrangente das questões de segurança no continente”, afirmou Peskov.
Reunião Diplomática em Riad
O encontro entre representantes da diplomacia americana e russa ocorre em Riad, onde o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, se reuniu com o chanceler russo, Serguei Lavrov. A reunião visa restabelecer as relações diplomáticas entre os dois países, que estavam congeladas desde o início do conflito.
A Casa Branca, entretanto, deixou claro que não considera o encontro como uma negociação formal sobre a Ucrânia, mas sim como uma continuação da conversa telefônica entre Donald Trump e Vladimir Putin, planejada para ocorrer em breve.
Ao lado de Rubio, participaram da reunião o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz, e o enviado especial para o Oriente Médio, Steve Witkoff. Do lado russo, além de Lavrov, o conselheiro de política externa Yuri Ushakov também esteve presente.
Moscou Espera Progresso nas Negociações Econômicas
Em meio às negociações, a Rússia também expressou expectativas de progresso na área econômica. Kirill Dmitriev, chefe do Fundo Russo de Investimento Direto, um dos representantes russos nas negociações, afirmou que espera que os dois países possam alcançar avanços na parte econômica das discussões nos próximos dois ou três meses.
“Temos uma série de propostas que nossos colegas estão considerando. Acho que será possível alcançar progresso não em um futuro distante, mas nos próximos dois ou três meses”, disse Dmitriev, que também elogiou a capacidade de resolução de problemas dos americanos.
O presidente russo anunciou que cerca de 40% do orçamento federal deste ano será destinado à defesa e segurança.
O mercado de trabalho na Rússia está prejudicado devido à mobilização militar e ao êxodo de centenas de milhares de homens, enquanto a inflação continua alta, cerca de 10%, apesar dos esforços do Banco Central.
França Anuncia Novas Sanções Contra a Rússia
Enquanto isso, a França anunciou uma nova rodada de sanções contra a Rússia, com foco nos recursos energéticos e nas práticas utilizadas por Moscou para contornar as sanções anteriores. Jean-Noël Barrot, ministro das Relações Exteriores da França, afirmou que a medida busca “aumentar o custo da guerra para Vladimir Putin”, visando pressionar o presidente russo a participar das negociações.
As sanções, previstas para entrar em vigor no próximo dia 24, têm como alvo principal os meios usados pela Rússia para continuar vendendo petróleo sem se expor às sanções da União Europeia.
O Papel da Arábia Saudita na Diplomacia do Oriente Médio
Em meio à crescente atividade diplomática, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, deve viajar à Arábia Saudita nesta quarta-feira, 19. A visita, que já estava planejada há algum tempo, destaca o papel central da Arábia Saudita na mediação e troca de prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia.
O príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, tem sido um dos principais fornecedores de ajuda humanitária à Ucrânia desde o início do conflito. Além disso, o reino saudita tem se mostrado uma parte importante nas dinâmicas diplomáticas da região.
O monarca saudita também tem se aproximado de Donald Trump, anunciando um investimento de 600 bilhões de dólares em empresas de tecnologia americanas nos próximos quatro anos.
A visita de Zelensky coincide com um momento importante da diplomacia saudita, que tem sido influente em questões como o apoio aos palestinos e o recente acordo de trégua entre Israel e o Hamas mediado pelo Catar.
A posição da Arábia Saudita, um dos principais atores do mundo árabe, será decisiva para a evolução dos planos para a Faixa de Gaza, enquanto o reino saudita busca se consolidar como um mediador importante nas disputas globais e regionais.
Com informações do RFI